O goleiro José Américo (Tiê) em 1972 no time do Ginásio Anchieta. Último à direita, de camisa preta. |
A escalação do time. |
Nas primeiras horas deste
Sábado de Aleluia, meu irmão José Américo (Tiê) fez sua Páscoa. Depois de longos anos de calvário
e sofrimento, após o brutal acidente que o vitimou deixando-o inconsciente
sobre uma cama para sempre, ele parte para a Casa do Pai.
Por ser mais
velho, ele sempre foi minha grande referência e sempre fui seu grande
admirador desde a mais tenra infância.
Estão muito presentes em
minha memória afetiva as conversas de meus pais, tendo como fundo musical a
alegria do rádio, à luz do candeeiro nas noites quentes da saudosa Fazenda Nova
América, quando diziam:
— Tiê chega semana que
entra.
Ao ouvir isso, eu me enchia de expectativas.
Embora eu fosse muito menino, era sempre esperada a presença de meu irmão,
quando ele vinha para as férias escolares.
Tiê, como o chamávamos,
estudava no Ginásio Anchieta, na distante e centenária Silvania e vinha uma vez
por ano passar as férias em casa. Talvez pela distância e pelas dificuldades de
transporte, nem sempre era possível passar as férias de julho, vindo apenas ao final
do ano.
Lembro como hoje, quando
em um fim de tarde eu estava com meu pai tomando banho de riacho, e começamos a
ouvir uma pessoa assoviando alto na direção da estrada que vinha da casa do meu
avô e que dava acesso à cidade de Araguaçu.
Papai levantou a cabeça e
ao ouvir novamente os assovios, abriu um sorriso e disse:
— É Tiê.
Apressamo-nos no banho, subimos
a pequena ladeira e chegamos em casa ao mesmo tempo que Tiê. Bênçãos de pai e mãe,
abraços emocionados. Hora de boas conversas, de colocar fim a círculos de
saudade e claro, de muita alegria.
Outra lembrança que tenho
é quando eu era adolescente e morávamos em São Miguel do Araguaia. Tiê, já homem
feito, morava em Goiânia. Certa manhã, minha mãe escuta uma canção do Roberto Carlos
– Eu cheguei em frente ao portão – no alpendre de nossa casa e ao abrir a
porta, dá de cara com meu irmão. Novamente, momentos de alegria e emoção.
Estas e outras tantas lembranças
permanecem no meu coração, no meu inconsciente. Aliás, estas e inúmeras lembranças.
O tempo passou. Vieram
casamento, filhos, netos... Alegrias, tristezas, dores, batalhas pela sobrevivência,
conquistas, decepções. Típico da existência.
Mudanças, caminhos novos,
recomeços.
A vida seguiu.
Momentos difíceis são
passiveis de superação, mas há situações que não conseguimos prever e que
costumam nos pegar de surpresa. Um vírus letal, aquela curva no caminho, o coração que não suportou, um cruzamento
fatal, encerram sonhos, findam trajetórias que pareciam estar a poucos passos dos
objetivos traçados de felicidade e realizações.
Para uns o calvário se
estende por tempos e tempos. Para outros, acaba ali e em menos de 24 horas passa-se
a ser saudade, lembranças.
Mas é inexorável: a hora
da partida chega.
E o próximo segundo pode
ser o ultimo.
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