Desde muito cedo,
criança ainda, fui instado por exemplos paternos e de família a levar uma vida
correta e de respeito às pessoas. Era habito saudável e muito bem visto logo
cedo, ao avistar o pai ou a mãe, tomar-lhe a bênção. Estendido também ao avistar tios, avós ou,
simplesmente pessoas da família de mais idade e experiência. Também aos
padrinhos.
Recebia-se em
contrapartida um carinhoso e confortante “Deus te abençoe”, ou “Deus te faça
feliz”. Sempre vi essa atitude, além de um cumprimento, uma clara manifestação
de respeito e carinho.
Meu saudoso pai, sempre que encontrava meu
avô, fazia questão de pedir sua benção.
Era algo pétreo nas relações entre os mais jovens e mais velhos. E o
Quarto Mandamento da lei de Deus, segundo a Igreja Católica, diz que é preciso
“honrar pai e mãe”.
Um dia fui estudar em um colégio interno,
de padres salesianos. Naquele tempo a comunicação mais fácil era por carta.
Telefone era difícil, em poucas cidades existiam e sequer se pensava em
internet e facilidades do correio eletrônico. Nas cartas que escrevia, logo
após a data vinha a frase: “meus queridos pai e mãe: abençoem-me”. E na
resposta que logo vinha iniciava-se com “Meu querido filho: Deus te abençoe”.
Aquele tratamento carinhoso e aquela bênção, tão de casa, pareciam um bálsamo
para a alma, às vezes magoada e tomada pela saudade.
Hoje, relações
entre pais e filhos, ou mesmo entre tios e sobrinhos são bem mais largadas, ou
menos formais. Muitas vezes ouve-se apenas um “e aí, Velho?”, ou coisa
parecida.
Mesmo assim não
vejo que valores de respeito e amizade tenham acabado. Simplesmente mudaram. Os tempos são outros e
o jovem obtém necessariamente, por imposição da vida, sua individualidade e
independência muito cedo. Ao contrario de minha época hoje a juventude logo, muito cedo,
define caminhos e rumos na vida. Coisas corriqueiras e aparentemente de
pouco valor, como pedir a bênção ao pai e à mãe acabam ficando em segundo plano
para a maioria.
Sequer imaginam
que um dia isso poderia ser tido e entendido como desonra. Hoje simplesmente honram pai e mãe de
outra forma, demonstrando amizade, companheirismo e bons resultados na
escola. E tudo isso se refletirá de
forma bem real na sua trajetória de vida.
Nas férias do
colégio interno, quando voltava à casa paterna, ao abraçar meu pai e minha mãe
dizia: “bença, pai”, ou, “bença, mãe”. Significava que ali estava aberto o
coração e que eu era novamente bem vindo ao seio da família.
As férias eram
maravilhosas. Sair da rotina rígida do colégio interno para o mundo acolhedor
da casa paterna, para as manhãs de liberdade. Nos dias que se seguiam era
aproveitar e andar de bicicleta, jogar futebol, tocar violão em animada roda de
amigos, visitar familiares, pescar nos pequenos ribeirões que circundavam a
cidade. Tudo isso era de uma felicidade e alegria incomensurável. Pena que as
férias passavam tão rápido. Logo era chegada a hora de arrumar as malas,
embarcar no velho ônibus e sentir voltar ao coração aquele tanto de saudade.
Na pequenina e
tosca rodoviária hora da despedida. Impossível conter uma lágrima fortuita e aquele nó na garganta. Depois de abraços e desejos de boa viagem,
hora de dizer meio que soluçando, quase sem voz: “bença, Pai... bença, Mãe”.