Imerso em meu eu interior, viajo por canções e obras de poetas. Reencontro em uma canção o Goiás que tanto amo, a terra natal tão presente em minha vida, em meu coração. E a canção, um fado composto em homenagem à antiga Vila Boa, hoje Cidade de Goiás, é o que me leva a isso.
Mas Fado goiano? Fado não é privilégio de Lisboa ou Coimbra, em Portugal? Sim, um Fado goiano. Uma bela poesia, que emoldurada por bela canção fala de “um índio Goyá, Vila Boa Goiana ou Arraial de Santana, seus Farricocos, desliza nas águas de um Rio Vermelho brilhante sob a luz da lua, voa sobre a Serra Dourada. Com saudade lembra Goiandira, visita a Casa velha da ponte e avista ao longe o fogaréu. Ainda reflete sobre os mistérios da vida e invoca os Santos de Veiga Valle que vivem no Boa Morte. Finaliza declamando o Poema do Milho, de Cora Coralina”. Lírico relato. A poesia e a canção se fundem resultando em um fado que verdadeiramente saiu dos recônditos da alma de um coração Goiano.
Nessa viagem paro e analiso meu fado, enquanto sina, destino. Da criança pequena que vivia na longínqua Fazenda Nova America, no carinho e aconchego do lar, ao lado dos pais e irmãos e que se encantava com o som e as canções trazidas por um velho rádio ABC - A Voz de Ouro. Mas o encanto maior ficava para as noites de lua clara e cheia, onde fechava os olhos e deixava se enlevar ao som dos dobrados e valsas tirados de um desgastado violão pelas mãos rudes e dedos calosos de seu pai.
Mais tarde, já na querida e distante São Miguel, passeava e crescia entre prateleiras simples de madeira do Armazém do pai, ou simplesmente, da Venda, como chamavam o pequeno comércio de secos e molhados. Das visitas rápidas às belas praias do Rio Araguaia, majestoso e pujante, até o garoto que um dia, com o coração premido pela saudade, desembarcou em um ônibus na Avenida Independência, no Centro de Goiânia foi tudo muito rápido. Foi buscar a sobrevivência, escrever sua história, viver esperanças, formatar e acalentar sonhos. Do pequeno menino que, saído da Fazenda Nova America, embarcou em sonhos que se tornaram realidade, e muito jovem se tornou pai e chefe de família. Seria isso apenas fado, destino, sina?
E será que devo – ou devemos – aceitar e acreditar que o destino que nos leva? O destino é que delineia e define nossos caminhos? Estaria tudo escrito já? Cumpriríamos apenas uma sina?
Posso afirmar categoricamente que não. Apesar das voltas e reviravoltas que a vida diariamente nos traz somos capazes de enfrentar os dissabores, vencer desafios, matar um leão a cada dia – ou a cada hora do dia – e ao fim da tarde perceber que se não mudamos o mundo ao menos tentamos torná-lo melhor e mais humano.
Imerso nesses pensamentos sobre trajetórias de vida e destino, percebo ao fim da canção, o belo fado criado por um coração goiano, onde no ultimo verso, talvez de forma premeditada o poeta quis mostrar como sonha que deve ser a vida. Ou mesmo massagear o coração e acalentar a alma de quem um dia ouvisse.
Assim escreveu e cantou o poeta: “... tudo é pleno de paz: meu amor, meu Goiás”.
Fado de Vila Boa, de Pádua e Nars Chaul
Olá.. voltei a ler.
ResponderExcluirEsta mesmo cada vez melhor
Elane Arantes