O
Setor Oeste na década de 1980 era um bairro tranquilo e bom de morar. De
muitas casas, ainda com poucos prédios - a maioria de apenas três andares. Mas
já apareciam os primeiros sinais de que logo a especulação imobiliária chegaria
e venceria a guerra. Como de fato venceu.
Um
local bom para se viver, com ruas calmas e sem o movimento intenso de hoje. Era
um bairro nitidamente residencial, com pequenos comércios, mercearias, cujos
donos sempre chamavam seus clientes pelo nome. Prevaleciam os princípios de boa
vizinhança.
Seu
principal ponto de encontro era a Praça Tamandaré, local de muitos bares e nos
finais de semana, palco de grandes embalos da juventude da época.
Por
falar em Tamandaré, na parte baixa, na esquina da Avenida Republica do Líbano,
havia um bar, um Boteco. E tinha justamente esse nome: Buteko.
No Buteko tinha boa música ao
vivo. A MPB era o estilo musical da época. Ali, embalei namoro, ouvindo musicas
de Elis Regina, Milton Nscimento.,
Zé Ramalho e outros, na voz maravilhosa de Anete
Teixeira, as ricas e intensas interpretações de Pádua cantando o melhor
da MPB, Jorge Lyra com seu estilo refinado, Fernando Perillo, ainda o teclado
de Paulinho de Assis, dentre
outros.
Aos
sábados chegávamos mais cedo – a namorada e eu - pedíamos um guaraná com dois
copos – tempos de grana curta, aliás, curtíssima - e ficávamos até quando o
garçom, que já nos conhecia, trazia a conta – mesmo sem pedirmos, pois o bar
começava a lotar e ele precisava também ganhar seu dinheiro. Mas era muito bom
estar ali.
O
Buteko ficou pra sempre em meu coração. E, tenho certeza, também no coração de
muitos que por ali passaram.
Hoje,
já passados alguns anos, o local onde ficava o Buteko, na Beto Galeria da
Tamandaré deu lugar a um grande e imponente prédio, onde funciona uma agência
bancária, com seu granito de um vermelho bonito, mas frio demais para o que o
lugar já foi.
Em
recente conversa com o antigo proprietário – que é poeta e escritor, ele falou
das muitas dificuldades de tocar uma empresa naqueles tempos. Mas, o grande
legado que ficou no coração das pessoas, não tem dinheiro que pague. Momentos
de felicidade ali vividos.
Nessa
conversa, também disse que Paulinho
de Assis está tocando seus teclados em outro plano, assim
como Anete Teixeira. Ficou a saudade.
Era
assim o Setor Oeste àquela época. Saíamos e voltávamos a pé por suas ruas, sem
medo de nada, livres e apaixonados, sem a violência que temos hoje. Andávamos
na madrugada, fazíamos até serenatas. Bons tempos aqueles.
Hoje
trafego por aquelas engarrafadas e movimentadas ruas e sinto novamente a emoção
de rever por lá alguns poucos locais que ainda ficaram, resistiram,
sobreviveram à desenfreada corrida da construção de arranha-céus. Não se sabe
até quando estarão ali.
O
Setor Oeste já teve seu ar de cidade do interior. Na minha saudade, Luizdeaquinamente* procuro
na minha “Menina dos olhos”, os “Sinais da madrugada” alegre e
feliz que vivi um dia.
-*-
- Luizdeaquinamente:
homenagem ao poeta, escritor, contista e outras coisas mais Luiz de Aquino Alves Neto, também
morador do Setor Oeste àquela época.
Que belíssimas lembranças, querido poeta Paulo Rolim! Muito obrigado!!
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