domingo, 20 de janeiro de 2013

BUTEKO: SAUDADE E NOSTALGIA

O Setor Oeste na década de 1980 era um bairro tranquilo e bom de morar. De muitas casas, ainda com poucos prédios - a maioria de apenas três andares. Mas já apareciam os primeiros sinais de que logo a especulação imobiliária chegaria e venceria a guerra. Como de fato venceu.
Um local bom para se viver, com ruas calmas e sem o movimento intenso de hoje. Era um bairro nitidamente residencial, com pequenos comércios, mercearias, cujos donos sempre chamavam seus clientes pelo nome. Prevaleciam os princípios de boa vizinhança.
Seu principal ponto de encontro era a Praça Tamandaré, local de muitos bares e nos finais de semana, palco de grandes embalos da juventude da época.
Por falar em Tamandaré, na parte baixa, na esquina da Avenida Republica do Líbano, havia um bar, um Boteco. E tinha justamente esse nome: Buteko.
No Buteko tinha boa música ao vivo. A MPB era o estilo musical da época. Ali, embalei namoro, ouvindo musicas de Elis Regina, Milton Nscimento., Zé Ramalho e outros, na voz maravilhosa de Anete Teixeira, as ricas e intensas interpretações de Pádua cantando o melhor da MPB, Jorge Lyra com seu estilo refinado, Fernando Perillo, ainda o teclado de Paulinho de Assis, dentre outros.
Aos sábados chegávamos mais cedo – a namorada e eu - pedíamos um guaraná com dois copos – tempos de grana curta, aliás, curtíssima - e ficávamos até quando o garçom, que já nos conhecia, trazia a conta – mesmo sem pedirmos, pois o bar começava a lotar e ele precisava também ganhar seu dinheiro. Mas era muito bom estar ali.
O Buteko ficou pra sempre em meu coração. E, tenho certeza, também no coração de muitos que por ali passaram.
Hoje, já passados alguns anos, o local onde ficava o Buteko, na Beto Galeria da Tamandaré deu lugar a um grande e imponente prédio, onde funciona uma agência bancária, com seu granito de um vermelho bonito, mas frio demais para o que o lugar já foi.
Em recente conversa com o antigo proprietário – que é poeta e escritor, ele falou das muitas dificuldades de tocar uma empresa naqueles tempos. Mas, o grande legado que ficou no coração das pessoas, não tem dinheiro que pague. Momentos de felicidade ali vividos.
Nessa conversa, também disse que Paulinho de Assis está tocando seus teclados em outro plano, assim como Anete Teixeira. Ficou a saudade.
Era assim o Setor Oeste àquela época. Saíamos e voltávamos a pé por suas ruas, sem medo de nada, livres e apaixonados, sem a violência que temos hoje. Andávamos na madrugada, fazíamos até serenatas. Bons tempos aqueles.
Hoje trafego por aquelas engarrafadas e movimentadas ruas e sinto novamente a emoção de rever por lá alguns poucos locais que ainda ficaram, resistiram, sobreviveram à desenfreada corrida da construção de arranha-céus. Não se sabe até quando estarão ali.
O Setor Oeste já teve seu ar de cidade do interior. Na minha saudade, Luizdeaquinamente* procuro na minha “Menina dos olhos”, os “Sinais da madrugada” alegre e feliz que vivi um dia.

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Luizdeaquinamente: homenagem ao poeta, escritor, contista e outras coisas mais Luiz de Aquino Alves Neto, também morador do Setor Oeste àquela época.

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