sexta-feira, 19 de abril de 2013

O MELHOR LUGAR DO MUNDO...



Na sala de minha casa tem um pequeno quadro. Pequeno, humilde, singelo, mas com uma paisagem e uma mensagem fantástica. Sua moldura já marcada pelo tempo tem uma cor bege, meio de empoeirado, meio de muito tempo.
É uma pintura feita à mão, com três palmeiras em destaque à frente, uma estradinha em perspectiva que vai até uma pequena casa de taipa, coberta de palha, um lago do lado com um barquinho distante e um belo pôr-do-sol, com nuances de amarelo vivo e vermelho-alaranjado. É uma palhoça simples, mas demonstra nitidamente ser um lugar onde há pessoas felizes.
Traz o ano e as iniciais de quem pintou o pequeno quadro. O ano: 1972 e as iniciais: I. C. G., de Irmã Cirene Garcia, uma religiosa Salesiana que morou em Goiânia nessa época, em um colégio que fica na Praça do Cruzeiro, região sul de Goiânia, chamado Instituto Maria Auxiliadora.
Em 1972 eu era muito criança. Tinha apenas seis anos de idade. Goiânia também era uma cidade adolescente e tranquila. Não havia a loucura dos enormes engarrafamentos de hoje, tampouco o telefone era como hoje, inconveniente, móvel, os chamados “celulares”.
Sobre a Praça do Cruzeiro, àquele tempo era um lugar encantador. A imensa fonte luminosa, com seus surpreendentes e coloridos jatos d’água me fazia ficar parado, encantado, a admirá-la. Maravilhosas canções eram transmitidas pelos autofalantes da fonte, que interagiam em perfeita harmonia com os jatos coloridos. Seus gramados de um verde muito vivo eram completados por pequenas plantas que sempre derramavam flores e mais flores. Um jardim de encanto. Havia também roseiras floridas, dos mais diversos tons e tamanhos.
O pipoqueiro, com seu carrinho e sua palavra amiga conquistava as crianças e aos adultos. Não havia o medo, era de confiança, tratava a todos com cortesia e conquistava amigos. Durante o dia, eu ficava contando as horas para que chegasse logo a noite, para que pudesse ir para a praça rever a bela fonte luminosa, ouvir canções que encantavam e brincar com os amiguinhos da vizinhança.
Era um tempo em que as pessoas encontravam mais tempo para conversar, para trocar ideias. Era comum os vizinhos serem compadres e as crianças tomarem a benção aos mais velhos. A televisão e a internet não eram tão obrigatórias, impositivas, fazendo com que todos ficassem mudos, lado a lado, olhar fixo na tela, ou de olho em tablet’s e smartphones.  Sem conversar como hoje. A praça era o local de alegria, ponto de encontro e muito bonita e alegre.
Hoje ela ainda está lá. Como na Avenida Tocantins – local sobre o qual escrevi um dia - suas árvores e seus arbustos estão negros pela fuligem. A fonte não funciona mais e tampouco tem musica. Mesmo que tivesse, com o intenso barulho dos ônibus e veículos que passam ali seria impossível ouvir. Apesar dos modernos sistemas de iluminação, a praça está quase às escuras. Não vemos mais crianças a brincar nem carrinho de pipoca.
O pequeno quadro me leva até esse tempo. Obrigados a fugir da violência crescente, em busca de segurança estamos trancados em casa. E rotineiramente, é cada um com sua ocupação, sua obrigação a fazer.
Costumo afirmar que o melhor lugar do mundo deve ser a nossa casa. O lar, o local onde vivemos. E naquele quadro, bem ao lado da linda paisagem, uma pequena mas profunda mensagem, que nos leva a refletir: “Faze de tua casa um paraíso: e o paraíso será tua casa”.

2 comentários:

  1. Paulo seu texto de hj vc fala tudo, quando diz que costuma afirmar que o melhor lugar do mundo deve ser a nossa casa, Fato! A nossa casa é aonde está o nosso amor maior "Família". Você falando da sua adolescência, como era gostoso tudo isso, era real, como é bom vc poder dividir com seus leitores o que vc viveu feliz, bons tempos! Hj as pessoas Vivem intensamente esse mundo virtual, onde a imaginação tem asas... Mas não podemos nos trancar nele, precisamos sentir o perfume das flores, o canto dos pássaros, o calor de um abraço, a voz de um bom dia, tudo isso fica gravado na alma e ninguém apaga! Parabéns lindo e emocionante texto! Abraço.

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  2. Que escrita mais sensível... que texto sábio... e uma linda crônica. Parabéns com respeito e admiração, meu amigo cronista!

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