sexta-feira, 24 de maio de 2013

PLORIPHONIC, LEGIÃO... HEY, HEY, HEY CAMARALINA!

               


                    Na noite desta quarta feira, fui a um festival de rock, o “Studio Bouga Festival” nome pouco apropriado para um festival de rock, mas que atende bem ao marketing de um dos shoppings da capital.
                Atendi ao convite de amigos do twitter, ante a expectativa de ver in loco bons sons e matar as saudades dos tempos em que empunhava uma guitarra e tirava ali minhas escalas.
Viajei aos anos 1980, quando buscava as apresentações de rock, não obstante ser “de menor”, mas sempre dava um jeitinho de ficar discreto e comportado, para poder acompanhar tudo que rolava por aqui.
                Assim, pude ver apresentações de Markan Camaralina, Língua Solta, Léo Jaime e, até uma certa Legião Urbana, no ginásio de esportes da Católica, hoje Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Lembro que o show da então desconhecida Legião Urbana lotou, superou a expectativa dos organizadores. Foi o primeiro a atrair grande público nas apresentações da banda, e o que se seguiu a partir daí, todo mundo conhece.
                Lembro Markan Camaralalina com seu rock pesado e denso, com performance e apresentações interessantes, fazendo a abertura de um show no antigo Estádio Olímpico - que à essa época não era somente um buraco. Esse show teve outras bandas se apresentando. Terminaria com Beto Guedes desfilando suas belas canções – era a época de ouro da MPB e Beto Guedes era um dos grandes ídolos. O mais legal era quando Camaralina jogava seus discos, na época de vinil – compactos ou elepês – para a plateia, em momento de interação.
                O Ginásio Rio Vermelho, que fica em frente ao saudoso Estádio Olímpico, era o grande palco dos shows. Foi ali que vi Nina Hagen (alguém se lembra?), dona de um estilo parecido com o que foi adotado por Madonna tempos depois. No Rio Vermelho pela primeira vez vi ao vivo e a cores uns rapazes que levaram uma grande multidão, para alegria do amigo Reinaldo Netto Atássio da Promix. Era o RPM, que encantou uma geração. O RPM embora tenha sido de curta duração, deixou canções que são tocadas e curtidas até os dias de hoje.
                Acordei de minhas reflexões, e voltei ao “Studio Bouga Festival” quando o apresentador anunciou os jurados. O show ia começar.  Interessante, que a plateia se mantinha quieta, estática até, embora a proposta fosse de um show de rock. Talvez pelo local, um shopping, as pessoas não se soltaram como era de se esperar.
                As apresentações se sucediam, até que entra em cena a Banda Ploriphonic. Apesar dos desencontros do equipamento de som que o festival disponibilizou, conseguiram fazer uma ótima apresentação e, finalmente plateia  e se levantou.
                A Ploriphonic lembra os bons tempos do “Coldplay”, com um rock bom de ouvir, baixo e bateria empolgantes. E o que chamou mesmo a atenção foi a perfeita simbiose entre o vocalista, que mandava bem um violão e o guitarrista, que fizeram o show. Com bela voz, comparada à dos melhores do rock mundial, aliado à melodia e letra perfeitas, a Ploriphonic tem tudo para ser sucesso em breve no mundo inteiro. A canção que apresentaram é um rock romântico e bom de ouvir.
                Finalmente, a plateia se levantou e empolgada aplaudiu a Ploriphonic efusivamente. Foi bacana ver o sorriso desses rapazes ao fim da apresentação.

                Outras bandas e cantores se sucederam. Não sei os resultados nem a classificação do “Studio Bouga Festival”, que talvez careça de melhor divulgação. Mas saí dali com a certeza que em breve, o Brasil conhecerá uma banda de muita qualidade. Sugiro que guardem esse nome: Ploriphonic. E não me perguntem significado de Ploriphonic, que não sei. Mas o rock agradece,  pelas excelentes canções, pelo grande talento. Sucesso, Ploriphonic!




sexta-feira, 17 de maio de 2013

DE ESCREVER E CONTAR HISTÓRIAS


Eu era muito criança, quando ganhei de presente de minhas irmãs meu primeiro livro. Não era bem um livro de histórias, um romance – até porque eu ainda não sabia ler – mas um livro de histórias em quadrinhos muito colorido, de um super-herói pra lá de esquisito, mas que pela forma, pelas cores e pela novidade fez com que me encantasse.
Passados poucos meses, em tenra infância, aprendi a ler. Foi uma descoberta, uma transformação. As pessoas ficavam admiradas ao ver aquele pirralho a decifrar placas de lojas comerciais, revistas, livros.
Na distante e saudosa Fazenda Nova América havia uma pequena escola rural, mantida por meu pai, onde estudavam os filhos dos agricultores da vizinhança. Foi ali que dei meus primeiros passos com os livros. Nas tarefas de leitura, eu era sempre o primeiro a querer apresentar meus conhecimentos, para que me fosse tomada a lição do dia.
Lia com imensa satisfação e prazer os livros de História Geral e do Brasil que meu pai possuía. Viajava ao mundo da civilização grega e romana e me encantava com as realizações daquele povo.
Adolescente, ganhei uma coleção de livros intitulada “Para gostar de ler”. Eram crônicas escritas por Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade. Viajava nas pequenas histórias contadas de forma inteligente, divertida e genial.
Conheci os clássicos brasileiros, de Alencar a Machado de Assis, de Raul Pompéia a Jorge Amado, passando pela magnitude da obra do José Mauro de Vasconcelos. Aliás, durante muito tempo o meu livro de cabeceira, onde abria para ler ou reler em qualquer página, foi o singelo e belo “Vamos aquecer ao Sol”. Impossível não me identificar dom o menino Zezé, com seu sapo imaginário chamado Adão, que morava em seu peito, em seu coração. Com o sonho do menino que imaginariamente adotara como pai o ator Maurice Chevalier, de quem recebia visitas constantes e o chamava de “Monpti”. Tudo isso apenas nos sonhos, em sua mente de criança.
Depois de algum tempo conheci a beleza da poesia de Cora Coralina, a menina Aninha dos becos e ladeiras de Goiás Velho e da Fazenda Paraíso. Veio junto com a sutileza e sabedoria dos escritos de Carmo Bernardes, cuja obra completa fiz questão de conhecer.
Lia as crônicas dos jornais diários daquela época. Havia mais jornais do que hoje. Assim, conheci João Bênnio, cujas estórias sobre os acampamentos do Rio Araguaia divertiam bastante. Também o maravilhoso Jean Pierre Conrad, que escrevia com inigualável conteúdo poético as coisas simples do nosso dia-a-dia. Coisas simples e belas.
Sobre o Jean Pierre, a quem chamamos apenas de Pierre, tenho uma recordação interessante. Um dia, nos corredores de uma empresa onde ele trabalhava me apresentei como seu leitor, não obtendo muita atenção do mesmo. Ainda assim afirmei taxativamente a ele: “suas crônicas são uma beleza”. Ele virou as costas despedindo-se rapidamente. Depois fui saber que o mesmo enchera os olhos de lágrimas pelo reconhecimento de sua arte.
Já adulto segui lendo Luiz de Aquino, cuja poesia forte e intensa trouxe momentos como “Direi esta noite das coisas que sinto e que às vezes doem…” ou “não sei se te faço um poema ou se te mando à merda”. Nesta época me aventurei a escrever meus primeiros poemas. Ainda os guardo em folhas de papel amarelado pelo tempo - e nos escaninhos do coração.
Faz algum tempo que me meti a escrever crônicas. De forma simples e até atrevida, por vezes consigo enxergar detalhes do cotidiano, momentos, pessoas, situações. Como na história da pequena Simone, menina adolescente que vende balas nos semáforos da cidade. Emocionava-me todos os dias quando passava por ela, naquele momento, àquela hora da manhã a lutar pela vida. Simone deveria estar em casa embalando seus sonhos de menina-moça, em um colo de avó ou na escola, a desenhar nas letras da vida seu caminho para o futuro.
Não tenho a pretensão de ser comparado ou me igualar a quem quer que seja, pois sequer chego perto da qualidade dos autores que citei acima. Mas apesar da minha insignificância, deixarei meus escritos como prova da minha vida, da minha existência.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

SAUDADE... E CANÇÕES


- Vem pra dentro, Paulinho... Já está ficando tarde! Onde está você?
Era a voz doce e terna de minha mãe, com cuidado e zelo, a me procurar. E como sempre, eu me enfurnava no amplo quintal da casa simples na Rua Nove, na querida e saudosa São Miguel, da minha infância. O quintal era meu reino encantado. Passava horas ali, sob a sombra das mangueiras e dos abacateiros, a brincar, ou mesmo fazendo daquele local minha sala de estudos. Gostava de ler meus livros e fazer as lições de matemática. Normalmente acompanhado por um velho e surrado rádio, que nem marca mais tinha.
Mas era suficiente para sintonizar as emissoras de todo o país através de ondas curtas. Viajava nas canções, que acalentavam meu coração de pré-adolescente, encantado que era por uma colega de classe. Nas canções eu viajava, sonhava em viver um romance com ela, mas nunca tivera coragem sequer de dizê-lo, mesmo de chegar mais próximo dela. Coisas de criança, quase adolescente.
Era época de plena efervescência da musica popular brasileira. Talvez a faze mais importante do gênero. Assim, tinha diariamente em minha companhia a presença de Amelinha, Zé Ramalho, Djavan, Flávio Venturini, Moacyr Franco, dentre outros. Eram viagens com a MPB, que tocavam forte, iam ao fundo do coração.
O quintal era meu território sagrado. Além do rádio e dos sonhos, tinha também a companhia alegre e benfazeja de bem-te-vis e sabiás, que faziam a festa. Eram quase mansos, não se incomodavam mais com a minha presença, vindo pousar nos galhos próximos a mim.
Nas tardes de domingo meu pai costumava ir por alguns momentos ao quintal. Ele também gostava de ficar à sombra das arvores, tocando seu velho violão ou ouvindo rádio. Com seu sorriso terno e fala suave, papai era um grande companheiro. Tornava esses momentos ocasiões de muita felicidade e alegria.
A vida seguiu. Um dia, ainda menino, deixei para trás a pequena São Miguel e fui em busca de vencer na vida. O tempo implacavelmente passou, e a lembrança daquela menina do colégio quase se apagou. Ficou como distante saudade guardada nos recônditos do coração. Daí para frente, muitos desafios se impuseram, a batalha tornou-se dura e tive que vencê-la.
Assumi meus compromissos com a vida, fiz-me homem adulto rapidamente. Logo, me vi pai muito jovem. Foi dessa forma que fui buscar meus sonhos. Alguns, consegui realizar. Outros, ainda por vir. Tenho fé e acredito que ainda os tornarei realidade.
Hoje, a voz doce de minha saudosa mãe é presente nas lembranças que guardo dentro do coração. Ainda ecoa dentro de mim sua voz suave, suas palavras ternas de cuidado e carinho.
Nesse domingo, o dia das mães será de visita à saudade. Momento de revisitar os momentos felizes, vividos e revividos. Dia de muita saudade. A bênção, Mãe! A benção, Mãe!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

OUTONO: FRIO, ACONCHEGO E... SAUDADE!



Devagarzinho, as últimas chuvas se foram. Este ano um pouco tardiamente e já no mês de maio. Os dias estão igualmente proporcionais às noites, indicando que estamos no Outono. Do Solstício, o início até o Equinócio, o fim do Outono, o clima fica diferente, mais ameno, mais aconchegante.
            Não há como negar que na hora em que preciso levantar da cama tenho a vontade imensa de ficar nem que seja mais um pouquinho sob as cobertas. Um minutinho a mais, que seja. Mas a responsabilidade dos horários que a vida impõe faz com que eu deixe o calor maravilhoso da minha cama e comece logo o dia.
            Ao levantar e visitar meu quintal logo no fim da madrugada e começo do dia percebo um ir e vir intenso de passarinhos em busca de construir seus ninhos, embalados pela alegre orquestra que compõem. Algumas espécies todos os anos refazem suas casas, para a sequência da vida. Logo na época certa, mais na primavera nascem os filhotes, que em breve serão adultos, em um ciclo de vida e renovação.
            Não tenho como negar: gosto do frio do outono. Embora grande parte do ano seja de dias muito quentes em nossa cidade, quando vêm os dias frios sinto algo diferente no ar, nas pessoas. Semblantes parecem ficar menos franzidos, olhares mais ternos, corações aquecidos.
            Em Goiânia a chegada do frio do outono coincide com a realização da Exposição Agropecuária, ou simplesmente Pecuária, como a chamam. Para alguns e hora de botar um chapéu, tirar o casaco do guarda-roupa, calçar uma bota. Apreciar os animais expostos ,encontrar os amigos, ou simplesmente se divertir com aquilo que a atração oferece. Em tempo: se beber, nunca dirija. E olha os rigores da Lei Seca!
            Mas o frio do outono me leva mesmo a outra viagem. Volto à Fazenda Nova América da minha infância distante. Ainda muito pequeno, agasalhado com as roupas quentes e pelos cobertores, que eram feitos ali mesmo em casa pela minha mãe. Era um alegre mosaico de retalhos de tecido, forrados com flanela. E o imenso cuidado, zelo, aconchego e carinho de minha mãe. Eu dormia sem pressa de acordar e quando levantava, buscava o calor próximo ao fogão a lenha, onde ficava quietinho buscando me aquecer.
            Dali observava sobre o pequeno córrego que passava nas imediações a neblina que o encobria. Em minha ingenuidade de criança não conseguia entender porque o céu estava tão perto.
Os animais da fazenda, com exceção das espertas galinhas que ciscavam pra todo lado – e eram muitas por lá – ficavam quietos, inertes. Os cachorros deitados em circulo, formando algo parecido com uma bola escondendo seus focinhos gelados entre as patas, tinham com o corpo bem quentinho, protegidos pelo casaco de pelos que a mãe natureza lhes deu.
            Minha mãe, cuidadosa mais ainda nessa época, me dava alimentos considerados fortes, sadios, para que não sucumbisse às gripes e doenças respiratórias. E no jantar servia os deliciosos pratos à base de angu de milho, sopas ou deliciosos caldos para aquecer os pulmões. Ah, minha infância querida.
            O Frio do outono me faz reviver tudo isso. Depois que deixei a fazenda Nova América, me fiz homem, assumi responsabilidades e atribuições não tenho tanto tempo para observar as minúcias do dia-a-dia. Mas inegavelmente o frio me traz a sensação de aconchego, de mundo melhor.
            Assim, seja bem vindo, irmão frio. Frio de outono. Aconchegante frio de outono.