- Vem pra dentro, Paulinho... Já está ficando tarde! Onde está você?
Era a voz doce e terna de minha mãe, com cuidado e zelo,
a me procurar. E como sempre, eu me enfurnava no amplo quintal da casa simples
na Rua Nove, na querida e saudosa São Miguel, da minha infância. O quintal era
meu reino encantado. Passava horas ali, sob a sombra das mangueiras e dos
abacateiros, a brincar, ou mesmo fazendo daquele local minha sala de estudos.
Gostava de ler meus livros e fazer as lições de matemática. Normalmente
acompanhado por um velho e surrado rádio, que nem marca mais tinha.
Mas era suficiente para sintonizar as emissoras de todo o país através
de ondas curtas. Viajava nas canções, que acalentavam meu coração de pré-adolescente,
encantado que era por uma colega de classe. Nas canções eu viajava,
sonhava em viver um romance com ela, mas nunca tivera coragem sequer de
dizê-lo, mesmo de chegar mais próximo dela. Coisas de criança, quase
adolescente.
Era época de plena efervescência da musica popular brasileira. Talvez a
faze mais importante do gênero. Assim, tinha diariamente em minha companhia a
presença de Amelinha, Zé Ramalho, Djavan, Flávio Venturini, Moacyr Franco,
dentre outros. Eram viagens com a MPB, que tocavam forte, iam ao fundo do
coração.
O quintal era meu território sagrado. Além do rádio e dos sonhos, tinha
também a companhia alegre e benfazeja de bem-te-vis e sabiás, que faziam a
festa. Eram quase mansos, não se incomodavam mais com a minha presença, vindo
pousar nos galhos próximos a mim.
Nas tardes de domingo meu pai costumava ir por alguns momentos ao
quintal. Ele também gostava de ficar à sombra das arvores, tocando seu velho violão
ou ouvindo rádio. Com seu sorriso terno e fala suave, papai era um grande
companheiro. Tornava esses momentos ocasiões de muita felicidade e alegria.
A vida seguiu. Um dia, ainda menino, deixei para trás a pequena São
Miguel e fui em busca de vencer na vida. O tempo implacavelmente passou, e a
lembrança daquela menina do colégio quase se apagou. Ficou como distante saudade
guardada nos recônditos do coração. Daí para frente, muitos desafios se
impuseram, a batalha tornou-se dura e tive que vencê-la.
Assumi meus compromissos com a vida, fiz-me homem adulto rapidamente. Logo,
me vi pai muito jovem. Foi dessa forma que fui buscar meus sonhos. Alguns,
consegui realizar. Outros, ainda por vir. Tenho fé e acredito que ainda os
tornarei realidade.
Hoje, a voz doce de minha saudosa mãe é presente nas lembranças que guardo
dentro do coração. Ainda ecoa dentro de mim sua voz suave, suas palavras ternas
de cuidado e carinho.
Nesse domingo, o dia das mães será de visita à saudade. Momento de
revisitar os momentos felizes, vividos e revividos. Dia de muita saudade. A
bênção, Mãe! A benção, Mãe!
Ah Paulo, que delícia de texto! Vc como sempre nos encantando com essas maravilhas... Adoro esse Blog! Vc escreve com coração e quando se fala com coração com certeza tudo fica assim singelo, apaixonante, toca nossos corações, vc é um grande Poeta! Parabéns e que cada vez mais a inspiração chegue até você de forma plena... Boa noite e grande abraço!
ResponderExcluirQue linda e fascinante declaração de amor, e que bom, que todos os filhos fossem assim..
ResponderExcluirLindo texto, o verdadeiro poeta escreve com alma, e dizem também e eu concordo, que poeta tem a alma perfumada.
Parabéns Paulo querido amigo, por tão linda escrita.
Amado Rolin!
ResponderExcluirO adágio que:"só sabe o valor quem perdeu..." faz sentido, quando o assunto é mae. Confesso-te, foi-me emocionante. Entrei no contexto, e parecia ser eu em tua história. Depois fiquei a imaginar momentos passados. Não há dor, ha lembranças doces que somente um ser perfeito, como é uma máe, deixa-nos no coraçao.
Obrigado por reavivar momentos gloriosos de uma vida vivida ao lado de uma mãe.
Que a Tua, estando ao lado Dele te encha de luz neste coraçao divinizado que tens e compartilha com todos nós seres mortais e necessários de tua sabedoria
Obrigado generoso amigo
Com estima e admiração
José Carlos Bortoloti
Passo Fundo - RS -
www.epensarnaodoi.blogspot.com.br
Muito linda esta sua cronica em homenagem a sua mãezinha. Adorei!!!
ResponderExcluirNarrado e comentado por @sobrera. Uma verdadeira homenagem ao dias das mães.
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