Eu era muito
criança, quando ganhei de presente de minhas irmãs meu primeiro livro. Não era
bem um livro de histórias, um romance – até porque eu ainda não sabia ler – mas
um livro de histórias em quadrinhos muito colorido, de um super-herói pra lá de
esquisito, mas que pela forma, pelas cores e pela novidade fez com que me
encantasse.
Passados poucos meses, em tenra
infância, aprendi a ler. Foi uma descoberta, uma transformação. As pessoas
ficavam admiradas ao ver aquele pirralho a decifrar placas de lojas comerciais,
revistas, livros.
Na distante e saudosa Fazenda Nova América havia
uma pequena escola rural, mantida por meu pai, onde estudavam os filhos dos
agricultores da vizinhança. Foi ali que dei meus primeiros passos com os
livros. Nas tarefas de leitura, eu era sempre o primeiro a querer apresentar
meus conhecimentos, para que me fosse tomada a lição do dia.
Lia com imensa satisfação e prazer os
livros de História Geral e do Brasil que meu pai possuía. Viajava ao mundo da civilização
grega e romana e me encantava com as realizações daquele povo.
Adolescente, ganhei uma coleção de
livros intitulada “Para gostar de ler”. Eram crônicas escritas por Paulo Mendes Campos, Rubem Braga,
Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade. Viajava nas pequenas histórias
contadas de forma inteligente, divertida e genial.
Conheci os clássicos brasileiros,
de Alencar a Machado de Assis, de Raul Pompéia a Jorge Amado,
passando pela magnitude da obra do José Mauro
de Vasconcelos. Aliás, durante muito tempo o meu livro de cabeceira,
onde abria para ler ou reler em qualquer página, foi o singelo e belo “Vamos aquecer ao Sol”.
Impossível não me identificar dom o menino Zezé,
com seu sapo imaginário chamado Adão,
que morava em seu peito, em seu coração. Com o sonho do menino que imaginariamente
adotara como pai o ator Maurice
Chevalier, de quem recebia visitas constantes e o chamava de “Monpti”.
Tudo isso apenas nos sonhos, em sua mente de criança.
Depois de algum tempo conheci a
beleza da poesia de Cora Coralina,
a menina Aninha dos becos e ladeiras
de Goiás Velho e da Fazenda Paraíso. Veio junto com a sutileza e sabedoria dos
escritos de Carmo Bernardes, cuja obra
completa fiz questão de conhecer.
Lia as crônicas dos jornais diários
daquela época. Havia mais jornais do que hoje. Assim, conheci João Bênnio, cujas estórias sobre
os acampamentos do Rio Araguaia divertiam bastante. Também o maravilhoso Jean Pierre Conrad, que
escrevia com inigualável conteúdo poético as coisas simples do nosso dia-a-dia.
Coisas simples e belas.
Sobre o Jean Pierre, a quem chamamos apenas de Pierre, tenho uma recordação interessante. Um dia, nos corredores de uma empresa
onde ele trabalhava me apresentei como seu leitor, não obtendo muita atenção do
mesmo. Ainda assim afirmei taxativamente a ele: “suas
crônicas são uma beleza”. Ele virou as costas despedindo-se rapidamente.
Depois fui saber que o mesmo enchera os olhos de lágrimas pelo reconhecimento
de sua arte.
Já adulto segui lendo Luiz de Aquino, cuja poesia
forte e intensa trouxe momentos como “Direi esta noite das coisas que sinto e que às
vezes doem…” ou “não sei se te faço um poema ou se te mando à
merda”. Nesta época me aventurei a escrever meus primeiros poemas. Ainda
os guardo em folhas de papel amarelado pelo tempo - e nos escaninhos do
coração.
Faz algum tempo que me meti a
escrever crônicas. De forma simples e até atrevida, por vezes consigo enxergar
detalhes do cotidiano, momentos, pessoas, situações. Como na história da
pequena Simone, menina adolescente que
vende balas nos semáforos da cidade. Emocionava-me todos os dias quando passava
por ela, naquele momento, àquela hora da manhã a lutar pela vida. Simone deveria estar em casa embalando seus sonhos de
menina-moça, em um colo de avó ou na escola, a desenhar nas letras da vida seu caminho
para o futuro.
Não tenho a pretensão de ser
comparado ou me igualar a quem quer que seja, pois sequer chego perto da
qualidade dos autores que citei acima. Mas apesar da minha insignificância, deixarei meus escritos como prova da
minha vida, da minha existência.
Paulo é sabido que poetas,cronistas, enfim os amantes dos livros tem seu estilo próprio, e vc é maravilhoso no que escreve. sou sua fã incondicional.
ResponderExcluir