sexta-feira, 5 de julho de 2013

DOS LIMIARES DO TEMPO

Depois de tanto tempo, eis-me a procurar encontrar hiatos de tempo e fazer uma pequena pausa, para possa refletir sobre a vida e sobre como levo a vida.
E são inexoráveis as imposições que ela me apresenta. Desde quando me levanto - ainda madrugada - até quando o dia termina e busco o travesseiro.
Tanta coisa se passa neste período, embora quase sempre não perceba sua importância no desenrolar do dia. É apenas rotina, obrigação do dia-a-dia. Sequer paro e consigo imaginar que, caso não cumprisse com essa rotina, o que aconteceria. Negócios não se realizariam? Compromissos assumidos não seriam cumpridos. A vida não seguiria. Nada daria certo.
Procuro, mas não encontro resposta se, de repente eu parasse no tempo e não mais tivesse noção da dimensão da vida, das coisas importantes e corriqueiras, da certeza da obrigação do fazer.
Quem me dera eu me colocasse em situação de “Conradianamente”* ficar a esperar, depois das quatro e meia da manhã, sentado em uma cadeira na varanda da minha casa, ao lado de quem tanto amo, a esperar o dia chegar.
Ainda olhando as ultimas estrelas da madrugada eu me deixaria sentir o nascer verdadeiro do dia, os primeiros sinais da manhã radiosa, os primeiros pássaros a cruzar o céu, o indicio do sol lentamente tornar-se barra do dia, para depois chegar radiante, imponente, régio. O irmão sol traz com sua luminosidade e seu calor a certeza de um dia feliz.
Depois deste belo chegar do dia, nada como ficar a acompanhar os movimentos das variadas espécies de pássaros, com sua maravilhosa e integrada orquestra.
Parar em frente à minha casa e dar bom dia a quem não conheço, a quem nunca vi. Desejar do fundo do coração a felicidade, a paz, o bem e a harmonia a quem passa simplesmente por ali.
Um dia, ouvi que a vida não é um destino, mas uma jornada. E que somos muito capazes de ser donos do nosso caminho. Donos do próprio rumo.
Creio que tudo o que temos na vida é a própria vida.
E um dia, se qualquer um de nós pararmos, nem que seja por algumas horas e apreciar o belo que está ao nosso lado, certamente prolongaremos os momentos felizes. E serão bem mais intensos.
Que todos possam, ao menos uma vez na vida, ver o dia chegar depois de um a madrugada esplêndida e misteriosa, apreciar o canto dos pássaros e enternecer-se com a beleza de uma flor.
Haverá mais ternura e felicidade no nosso mundo.


** “Conradianamente”: homenagem ao cronista-poeta das coisas simples e belas, Jean Pierre conrad

Um comentário:

  1. As vezes procuramos o real sentido das certezas e incertezas da vida que a gente carrega desde sempre... que bom poder ler algo belo e simples, alegre ou triste, mas que toca nossos corações! Parabéns pelos últimos textos postados, mostra que esse poeta está vivo! E cada dia melhor...

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