A movimentação na Fazenda Nova América naquela semana foi fora do normal.
Primeiro, pela presença incomum de jipes da Prefeitura da pequena vila levando pacotes
e material, dentre eles um quadro negro, de porte médio, que meu pai
cuidadosamente pendurou na sala da casa simples.
Uma pilha de cadernos fora deixada no canto da sala e novos bancos de
madeira foram integrados ao parco e simples mobiliário ali existente.
Minha curiosidade durou até que ouvi meu pai dizer que ali seria uma
escola. E interessante que meu pai disse a um vizinho de fazenda o seu
proposito, tendo sido advertido por este que de nada adiantaria querer ensinar
a pessoas ignorantes e sem cultura, que meu pai teria dor de cabeça e de nada
valeria.
Ouvi meu pai humilde e calmamente responder que era seu proposito fazer
aquilo e achava estar no caminho certo. E que apesar das dificuldades que sabia
que encontraria, tocaria adiante o projeto, afinal, naqueles rincões escola era
algo inimaginável.
Depois das pequenas reformas, na casa simples de taipa e telhas de barro,
chegou o grande dia. Naquela tarde quente e de pouca brisa começaram a chegar
os futuros alunos da Escola Santa Genoveva. Chegaram tímidos, alguns com as melhores
– embora simples – roupas que dispunham, estranhando a botina rangedeira que
machucava os pés. Ficaram um pouco distantes, arredios e quando solicitados por
meu pai que se aproximassem, lentamente entraram dentro da casa. Se acomodaram
nos bancos rústicos de madeira e tímidos, calados, ouviram meu pai dar-lhes as
boas vindas e dizer das regras da escola.
Depois disso todos ficaram de pé e tentaram entoar o hino nacional,
puxado por meu pai ao violão.
Eu, no inicio, por ser muito criança era proibido de entrar na sala. Mas não
me contive e aos poucos, fui chegando, chegando e passei a assistir às aulas. Como
eram interessantes. Fui me encantando ao ouvir sobre a história do mundo, geral
e do Brasil, sobre as civilizações greco-romana, berço do saber e do
conhecimento. Ficava encantado ao ouvir a leitura das lições de português, onde
pequenos textos eram apresentados.
Havia um intervalo, onde era servido um lanche típico da região, em que cada
família ajudava o como podia. Alguns sequer podiam ajudar, mas meu pai não se importava.
Para ele o importante era que aqueles rapazes e moças frequentassem as aulas e
a partir dali pudessem levar algo que os ajudasse nas dificuldades da vida.
Ali foi minha primeira experiência em uma escola. Escola simples, de bancos
de tabuas e um único professor para todas as matérias. Mas inesquecível.
O tempo passou. Um dia a escola foi fechada, por falta de interesse do
governo do município. Meu pai vendeu a Fazenda Nova America e mudamos para a
cidade, onde passei a estudar em uma escola regular.
Hoje, aos 48 anos frequento novamente os bancos escolares. Diariamente tenho
contato com o conhecimento. Conhecimento que me vem através do trabalho e
dedicação de professores.
Eu por felicidade tenho o privilegio de ser filho, irmão, esposo e pai de
professores.
Que esses profissionais, imprescindíveis à formação humana e ao
desenvolvimento do país sejam mais valorizados. Que tenham um mínimo de
reconhecimento, para que possam desenvolver a missão que lhes foi confiada e
que abraçam como um sacerdócio.
Costumo dizer: professores, ah, os professores, são como anjos: ensinam,
encantam e trazem consigo a luz da sabedoria. Obrigado, a todos os Professores
da minha vida.
Que, apesar das dificuldades, continuem iluminados, com a certeza do bem
que fazem ao mundo.
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