Eu era bem criança e quando me levantava cedinho, ia de encontro ao
sorriso e carinho de minha mãe, que me tomava nos braços, e depois dar-me a
bênção, vinha cobrir-me de beijos e afagos. Trazia o café da manhã, simples
mas cheio de sabores, composto por tapioca, leite e algumas rosquinhas de nata,
feitas no forno do velho fogão à lenha.
Ainda de pijama eu ficava a observar minha mãe em sua labuta. Ora mexendo
nas panelas, ou catando feijão para cozinhar – naqueles tempos não havia panela
de pressão – indo ao quintal para dar milho às criações e a arrumar uma trouxa
de roupas para levar até o pequeno córrego, onde, ao lado de outras mulheres,
passava boa parte da manhã.
Eu a acompanhava. O radio era companheiro inseparável. E quando cansavam
de ouvir o radio, entoavam juntas cantos dolentes, que diziam de lugares, de brincadeiras
de roda, de tempos idos e saudosos.
Depois de colocar a roupa para secar, era hora de voltar para a casa. Um
breve intervalo para o almoço, quando meu pai chegava. E novamente, voltar à lida incansável, organizar
a cozinha, dar comida aos animais e voltar para o córrego e recolher as roupas
limpinhas e agora secas. De volta, passar as roupas simples com o ferro de
brasa. E eu ali, em certa distancia ouvindo suas cantigas, ou o radio que a
acompanhava.
Ao fim da tarde, quando meu pai chegava da roça, havia sempre uma
conversa alegre entre os dois, cheia de gestos de carinho e companheirismo.
Então papai me chamava e eu ao lado do cachorro Guamá, corria para o
córrego, agora vazio e sem o canto das lavadeiras. Nos deliciávamos no pequeno
riacho, com as brincadeiras de papai,
que jogava água em mim e me ensinava a nadar. No inicio, sentia medo da agua,
mas a confiança era maior e aos poucos tudo se tornava alegria e felicidade.
Hora de voltar e vestir a roupa limpinha e cheirosa, passada no ferro de
brasa. Jantávamos e vinha a hora mais esperada do dia, quando papai tocava o
violão e mamãe buscara no coração os poemas e as cantigas de sua época. Mas, o
sono chegava e mamãe me agasalhava e carinhosamente me levava até a cama, para
mais uma noite de inocente sono.
Um dia, deixamos a Fazenda Nova América para trás. Mudamos para a cidade.
Cidade pequena, onde meu pai montou uma pequena venda, que tinha de tudo um pouco,
desde fumo, querosene para as lamparinas até camisas e mantimentos.
Mamãe sempre presente, agora de maneira diferente. Talvez as preocupações
tenham aumentado, afinal cidade é muito diferente da fazenda – mas sempre ao
lado de meu pai para o que fosse necessário. E meu pai, não dava nenhum passo
sem dialogar ou pedir opinião de minha mãe. Agiam sempre de comum acordo.
O tempo passou. Hoje eu vejo o exemplo de minha mãe em tantas mulheres,
como minha esposa, minhas filhas, minhas irmãs e pessoas amigas. Vejo mães,
avós, mulheres que perdem noites de sono, preocupadas com a saúde, com o bem
estar de filhos ou netos. Mulheres que trabalham em dois, três turnos diariamente
para prover a família, daquilo que ela necessita para viver.
Ao contar a história, a rotina de minha saudosa mãe, faço uma homenagem às
mulheres de fibra. Às mulheres que constroem o mundo, que nunca fogem às
responsabilidades, às vezes sendo mãe e pai.
Às mulheres minha homenagem. A mulher é muito forte, sempre foi muito
forte. Posso afirmar que sem as mulheres, o amor não seria tão puro e profundo.
Deus, em sua infinita sabedoria, foi muito generoso com a humanidade. Parabéns
às mulheres! Parabéns!
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