O dia começou ensolarado. A manhã, de beleza indescritível, fazia a
paisagem da fazenda algo belo e encantador. A chuva da véspera, calma e
demorada, deixara o capim e as arvores que circundavam a fazenda com um verde
especial. E era belo o brilho das ultimas gotas de orvalho, que teimavam em
resistir ao brilho do sol.
Vi meu pai olhar para o nascente e murmurar, quase para si mesmo, que
hoje a chuva viria forte, pois era dia de São José. Minha mãe, ali perto disse
algo que não entendi, mas percebi que ela concordava com ele.
Meu pai era um homem diligente. Antes da temporada das chuvas, fez uma pequena
reforma na casa. Arrumou o telhado, trocou telhas quebradas, reforçou o paiol e
as casinhas que serviam aos animais. E sozinho, com enxada e pá desobstruiu as
saídas de agua na estrada que dava acesso a fazenda.
E a chuva veio. No inicio, tímida, com muito trovão, ventania, mas pouca
água. Com isso o pasto ficou com um tom de cor marrom, quase seca. O pequeno
riacho diminuiu consideravelmente a vazão de água e os animais emagreciam.
Mas um verde tímido se formou. Não era um verde total, como antes, mas
melhorara a visão daqueles ermos. Mas meu pai afirmava que “ainda teríamos
inverno bom” naquele ano. Para ele, inverno era a estação das chuvas.
Veio janeiro e seu tradicional veranico. Novamente, o pasto ficou seco e
a agua do riacho ficou pouca. A plantação de milho e feijão parecia implorar por
agua. E curiosamente se mantinham verdes e vivas.
Até que em uma tarde a chuva veio de vez. Depois de muito anunciar e o
tempo fechar, veio com trovoadas fortes. Após um inicio turbulento, se tornou
calma e mansamente molhou o chão e no outro dia, era um ir e vir de pássaros em
alegre algazarra. E foi assim durante uma semana. Chuva, chuva e mais chuvas.
Os pequenos animais da fazenda permaneciam quietos, molhados. As galinhas
em seus ninhos, cuidando de seus pintinhos, mal saiam para se alimentar.
Mais alguns dias e ficou regular. Chovia em alguns dias, parava em
outros. Até que passaram a se concentrar no período da tarde. Eram chuvas mais
fortes, de intensidade alta. Não raras vezes, os trovões e raios assustavam. Era
quando minha mãe colocava o “Agnus Dei” atrás da porta da frente e pedia
proteção divina para que nada de ruim acontecesse.
E foi naquela manhã, de beleza única e brilhante que ouvi meu pai dizer
que seria a grande enchente do ano. A sabedoria e a experiência dele o
autorizavam a isso. Resolveu que pararia o trabalho na roça iria somente até o
horário do almoço.
E, justamente na hora do almoço que o céu começou a ficar escuro. Nuvens
pesadas e densas começavam a se formar no horizonte.
No meio da tarde vieram pingos fortes e pesados. Reunimo-nos na cozinha e
passamos a ver a chuva cair. Seguros e protegidos, podíamos ter a noção de sua
força. Repentinamente um clarão intenso seguido de um estrondo nos assustou. Meu
pai manteve a serenidade e a calma habituais e nos acalmou, pedindo que não
tivéssemos medo, fora apenas um raio que caíra distante dali.
Choveu até a noite. Aos poucos foi diminuindo e quando fui me deitar, era
apenas uma chuvinha gostosa, cujo barulho de seus pingos no telhado acalentava
e fazia adormecer mais rápido.
No dia seguinte, levantei cedinho e constatei que novamente viera uma
manhã esplêndida. Acompanhei meu pai em uma visita de verificação em todos os
cantos da fazenda. A pequena ponte sobre o riacho, não obstante a força da
enchente estava intacta, no lugar de costume. Na roça, parte do arrozal no
chão. E onde caiu o raio, um imenso e majestoso jatobá tombou, ante a força da
natureza. Quem poderia imaginar que aquele gigante sucumbiria, em poucos
segundos.
Sobre a roça de arroz no chão meu pai disse que em dois dias ela estaria
de pé novamente, e que aquilo serviria para dar força á plantação. Que São José
sempre trazia força e fartura aos seus devotos.
Aquele ano foi maravilhoso. Ano de colheita farta, e muito mantimento na
tulha. Então um dia, papai reuniu os vizinhos, compadres e amigos e em
agradecimento ao Senhor São José, o Santo de sua devoção, rezaram o terço e
confraternizaram, agradecendo pelo ano, pela fatura e pela vida e saúde de
todos.
Era assim na Fazenda Nova América, onde a harmonia, o amor e a
fraternidade eram sempre presentes.
Com a narração do sobreira, o texto ganha vida. Parabéns Américo.
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