O brilho do sol começava a ficar mais intenso, conforme o carro seguia na
estrada. Estrada que me era muito familiar. Notei que pouca coisa mudara por
ali. Apenas algumas árvores que existiam quando ali passei que não mais
compunham a paisagem. Ou, algumas casas recém-construídas. Além das inúmeras e
frondosas cercas vivas que ladeavam as fronteiras das propriedades com a estrada.
Alguns quilômetros depois que deixávamos a cidade, após passar um pequeno
conjunto de pequenas casas simples e um comércio – o que aqui se chama de venda
- notei que à esquerda da estrada ainda existia uma pequena placa, que sempre
me chamara a atenção, cujos dizeres, gastos pelo tempo, ainda estavam visíveis.
Traziam a inscrição “Chácara Paraiso”. E do alto de onde passávamos, ao contemplar
aquele local, constatava-se que era mesmo um local para ser chamado de paraíso.
Estava lá o pomar de jabuticabas, as imensas e frondosas mangueiras, o pequeno
lago e a casa, agora maior, e como sempre pintada com cores alegres e bonitas. Aquele
lugar tinha mesmo ares de paraíso.
O coração e o olhar voltaram-se para a estrada. Recordei quando, aos
domingos eu passava por ali com destino à cidade onde meus pais moravam, a
querida e saudosa Silvânia, que fica alguns quilômetros à frente.
Depois de passar por Bonfinópolis e visitar a Lanchonete Mangueira – que hoje
não existe mais – e onde sempre havia um pastel gostoso, feito na hora, além de
dois dedos de prosa do proprietário, era seguir em frente e em pouco tempo chegar
à casa de meus pais.
Ali era um reduto da alegria, da harmonia e da felicidade. Chegávamos bem
cedo, quando meus pais chegavam da missa. Abraços, carinhos, beijos de saudade.
E meu pai não abria mão de, por alguns minutos, sentar ao meu lado e saber da
vida, do meu dia-a-dia, como andava a família e como andavam os planos para o
futuro. Ele chamava a isso de palestrar. Não raro prolongávamos ali nossa
conversa, agradável e muito edificante.
Até que éramos interrompidos pela chegada de familiares que desembarcavam
- segundo meu pai “um magote de meninos” – e que vinham se somar às minhas
filhas. Assim a alegria do domingo ficava completa.
Chegava a hora do almoço: comida farta e deliciosa de mãe. Momentos
felizes, únicos, tão bem vividos. Depois, dormir o sono gostoso de “depois do
almoço” na rede e ao meio da tarde, voltar para casa, passar novamente por
aquela estrada – onde cada palmo eu conheço bem. Era o momento de começar a
pensar na semana que estava por vir e enfrentar os desafios cotidianos.
Ainda imerso nessas lembranças percebi que estávamos chegando ao destino,
uma fazenda muito bonita, onde faríamos uma gravação para um programa de TV. Ali,
rapidamente o trabalho me absorveu e o tempo passou rápido. Cumprido o
compromisso, retornamos à Goiânia, já por volta de meio dia.
E de novo naquela estrada, me veio a saudade de tantos domingos em que
ali passei. Saudade de momentos felizes, junto aos meus pais, meus irmãos e
familiares. Veio uma saudade imensa de tantos domingos felizes.
E o coração saudoso, através do olhar mirava aquela estrada. Estrada que
continuava como sempre foi, onde ainda existe uma pequena chácara que se chama
Paraiso. Cada palmo dessa estrada, eu conheço muito bem. Afinal, ela faz parte
dos caminhos trilhados pelo coração.
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