sexta-feira, 23 de setembro de 2016

CIGARRAS, FLORES, PRIMAVERA




O canto das cigarras, que começou tímido, logo tomou conta do imenso quintal da Fazenda Nova América. Situado nos fundos da casa humilde, o quintal era composto de imensas mangueiras, de variadas qualidades, jaqueiras, goiabeiras e nos fundos, à direita, laranjeiras e pés de limão, pinha e jambo.
Eu ficava tentando ver as cigarras. Não entendia como elas, apesar do canto forte, vigoroso e constante, conseguiam manter-se invisíveis aos meus olhos. Olhos curiosos, de uma criança que ainda tentava entender os mistérios da natureza.
Apesar da pouca idade, eu já conseguia perceber as mudanças que ocorriam com o tempo.  Percebia que em determinada época do ano, o sol chegava mais cedo. E era justamente quando as cigarras traziam seu canto. Os ventos, apesar do forte calor, tornavam-se mais constantes e nuvens tímidas apareciam no céu azul.
Enlevado com o canto das cigarras, notei que ao longe meu pai preparava a terra para o plantio.  Do quintal onde eu passava as tardes em brincadeiras solitárias, sob o olhar vigilante e cuidadoso de minha mãe, eu percebia o vulto de meu pai enleirando coivaras, no local que seria a próxima roça, que havia sido derrubada e queimada há pouco tempo.
Numa tarde em que as cigarras cantavam sem parar, acompanhei minha mãe até a frente da casa, onde ela estendia roupas que haviam sido lavadas no riacho. Havia ali uma moita de açucena e dela, brotavam belos cachos de flores. Flores de uma beleza indescritível, que traziam um perfume mágico, único e embriagador.
Fiquei absorto, quieto, fitando aquelas flores, de pétalas suaves e frágeis. De um branco perfeito, onde tinham pequenos pontinhos amarelos ao centro. Senti a beleza daquelas flores adentrarem minha alma, meu coração. Somente fui desperto daquela letargia pelo chamado de minha mãe, para que voltássemos para casa.
Era final de tarde, e meu pai chegou do trabalho da roça. Como de costume, uma breve e carinhosa conversa com minha mãe, até que fomos - ele e eu – tomar banho no pequeno riacho. Em minha inocência de criança, perguntei a ele por qual motivo somente com o canto das cigarras, a açucena brotava flores tão belas. E ele, fitando-me nos olhos, terna e carinhosamente me responde: estamos na primavera.
A palavra Primavera me tocou tanto quanto a beleza daquelas flores da açucena. Primavera: como soou bem aos meus ouvidos e ao meu coração essa palavra.
Depois dessa tarde, muitas primaveras vieram. E a cada vez que ela chega, eu fico enlevado com o canto das cigarras e com a certeza que em breve a chuva chega, trazendo alegria e conforto, fertilidade e renovação da vida.
E nunca esqueci, quando, meu pai, em seu jeito simples e amável, me ensinou o que era a primavera. O sentido da estação das flores, a mais bela das estações.
Está aqui, gravado nos recônditos do meu coração, as imagens e o perfume daquelas flores de açucena. É impossível esquecer o perfume de flores de primavera, com trilha sonora de canto de cigarras. E com a presença da chuva, renovando o ciclo venturoso da vida.
Canto de cigarras e flores de açucena... Em uma linda tarde de Primavera!

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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

CANTAM (EM SI) AS CIGARRAS


Foto: Thais Rolim Póvoa

Em alguns dias dessa semana que está quase terminando, a mãe natureza nos brindou com um espetáculo único, fantástico. Ao nascer do dia, eis que percebemos que brotou no horizonte, de maneira tímida, coberto por nuvens tímidas, um sol de tom avermelhado, com nuances de rosa, que foi clareando conforme o dia ia se espichando.
O céu parece ter parado para dar lugar e visão àquela maravilha. Um sol pouco comum, que nascia vermelho, ou vermelho-rosa, cheio de belezas e encantos. E as nuvens , que pouco apareciam, pareciam concordar com o mormaço que trazia e mantinha um clima marcado por um calor insuportável.
Ao chegar ao trabalho, em uma avenida movimentada do centro de Goiânia, enquanto admirava o incomum sol vermelho, comecei a ouvir canto de cigarras. No começo, uma apenas. Depois, vieram outras e se juntaram ao coro irregular, com notas musicais pouco entendíveis, mas que traziam com aquele canto a certeza que em breve, a irmã-chuva haverá de nos trazer alívio e aconchego.
E lembro que com o canto de cigarras e o sol vermelho das manhãs de minha querida cidade, é tempo de quase primavera. Em poucas horas, a estação das flores, das cores alegres e da certeza da continuidade do ciclo da vida, está presente entre nós. Primavera de cores e de flores, muitas flores.
Assim, passei toda a manhã, sem conseguir me desvencilhar da lembrança do sol vermelho e da certeza da presença em breve da primavera.
Ao chegar em minha casa, depois de vencido o expediente primeiro do trabalho, me deparo com a jabuticabeira carregada de frutos, já quase em ponto de colheita. Frutos que em poucos dias estarão prontos, maduros, com a doçura que somente eles têm. E além de mim, alimentarão os amigos pássaros, que habitam o quintal. Os pássaros – meus amigos - estão em algazarra constante, já habitando os ninhos recém-construídos nesse tempo de espera da chuva, e da primavera, onde darão continuidade às suas espécies.
Com isso não percebo a rapidez com que a tarde vai passando. E as cigarras, aqui e ali a entoar seu canto de esperança, de proximidade de primavera, de certeza de dias mais amenos.
A tarde se vai e a noite chega. Não obstante a beleza de um sol vermelho na manhã, a noite traz uma lua no céu, cheia de luz, de magia, de encantos. Inspiradora. Pura poesia.
Lua que, apesar de suas fases, entre idas e vindas, sempre renova o coração. Ainda mais quando surge bela, mágica imponente e cheia de luz como estava nas noites dessa semana.
À noite, o clima é mais ameno. Mas o coração dos poetas se aquece e bate forte. Ainda mais depois de um sol vermelho e misterioso ao alvorecer, manhã e tarde de canto de cigarras, a magia da lua a acalentar os corações.
Sempre ela, a lua! Trazendo poesia e inspirando canções, a emoldurar noites de puro lirismo.






sexta-feira, 9 de setembro de 2016

EM UMA TARDE DE QUASE SETE DE SETEMBRO




A perspectiva de trânsito ruim e congestionado fez com que eu saísse mais cedo do que deveria, em direção à um local onde teria um compromisso. Tive essa precaução, afinal, era um compromisso importante e eu teria que estar no início dos trabalhos. Mas surpreendentemente o trânsito ainda estava tranquilo e o resultado é que cheguei cerca de meia hora antes do horário previsto.
A surpresa maior veio quando, ao olhar as mensagens no telefone celular, havia uma mensagem informando que a reunião fora adiada em uma hora, e que eu, embora estivesse no local, teria que esperar cerca de uma hora e meia.
Era um fim de tarde de quase primavera, de muito calor e clima seco, como é no centro-oeste e notadamente em Goiás à essa época do ano. A umidade do ar batia em quase zero, o que tornava o ar irrespirável e desconfortável.
Resolvi procurar uma lanchonete, afinal eram quase seis da tarde e seria de bom alvitre forrar o estômago. Mas, naquele bairro de periferia, de gente simples e humilde não havia lanchonete. Mas em diversas esquinas era possível encontrar uma banquinha de espetinho, com gente animada e alegre em volta, terminando seu fim de dia, degustando carne no espeto e tomando uma geladinha.
Encontrei em uma esquina um barzinho tranquilo, de nome simples: Chopp Alves.  Ainda eram poucos os frequentadores e tinha uma área coberta, que protegia bem dos últimos raios do sol daquela tarde.
Pedi um espetinho e o dono cortês, mandou que eu mesmo escolhesse o que eu quisesse, dentre tantos outros, em um recipiente de vidro, limpinho e organizado. Escolhi um mais magro e coloquei sobre a grelha na “churrasqueira”. A brasa estava bem viva e em pouco tempo, ficaria pronto. Logo o rapaz me trouxe o espetinho, acompanhado de mandioca. Veio um refrigerante e fui cuidar de degustar logo espetinho com a carne bem passada, como eu gosto.
Enquanto tomava o refrigerante passei a observar os vizinhos de boteco. Perto de mim, um pai todo carinhoso com uma menininha, cortava a carne em pedacinhos e servia à mocinha, que com um sorriso de pura felicidade, retribuía ao mimo do pai.
Em outra mesa, alguns rapazes, ainda com uniforme da empresa em que trabalhavam, conversavam animadamente e pareciam comemorar o fato que no dia seguinte, sete de setembro, seria feriado. Enquanto tomavam sua cerveja, mexiam no aparelho celular e animadamente combinavam um churrasco para o dia seguinte.
Ao tentar retirar um pedaço de carne do espeto, o deixei cair no chão e imediatamente, um cãozinho da cara boa - simpática e alegre, mostrando imensa satisfação - degustou avidamente o pedaço que caíra, para inveja de dois outros “colegas” dele.
Não me contive e dividi o que restava do espeto com os outros dois, afinal, estava mesmo muito bom e saboroso.
A alegria dos cãezinhos acabou quando o dono do barzinho se aproximou e com pouca elegância os pôs para correr dali, o que eles fizeram de imediato.
Mal percebi que o sol se fora e a noite anunciava sua chegada. Paguei a conta e saí dali feliz e tranquilo, em direção ao local do meu compromisso. Foi bacana ver que em momentos de um Brasil em crise, pessoas se confraternizam, se encontram e levam a vida com alegria.
E a vida, é a maior dádiva que temos. Com alegria então, é melhor ainda. Em véspera de dia da pátria, em uma tarde de quase sete de setembro, uma tarde seca e quente. Mas de felicidade.


quinta-feira, 1 de setembro de 2016

INTENTO





Quis construir um poema
Inspirado
Em teu olhar,
Em teu sorriso, e
E pela luz que irradia
Em manhãs
De todas as estações...

Busquei palavras,
Períodos,
Orações,
Mas quedei-me
Ante a inevitável
Constatação:
Não há nada
Nesse mundo,
Seja palavra,
Período ou oração
Capaz
De descrever
Teu olhar e
Teu sorriso...

Afinal,
Teu sorriso e
Teu olhar
São o mais belo
E perfeito
Poema
Que existe...

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#Deumpoetaqualquer