terça-feira, 31 de janeiro de 2017

HOJE, SÓ QUERO ESCREVER UMA CANÇÃO DE AMOR...

Imagem retirada da internet




                                    “...hoje, eu não quero ler o jornal...
Só quero escrever uma canção de amor pra você!”
                                   (Kim, Julio, Cézar)


Hoje, eu não quis ver telejornal. Não que tenha decidido daqui pra frente me abster das noticias. Apenas atenderei aos anseios do coração. Não vou assistir ao telejornal, não visitarei portais de notícias, não abrirei links no Twitter. Sequer irei publicar coisas do cotidiano no Facebook. O Instagram, que pouco uso, também será deixado de lado. Aliás, o celular estará mudo.
Temos motivos – eu e o coração - para tanto. A indignação toma conta e fica cada dia maior. Como ficar indiferente – e não permitir que seja apenas mais uma notícia – diante do caso do rapaz que, indo trabalhar às cinco da manhã de domingo, tem sua vida ceifada de maneira brutal? E além da violência do acidente de transito, ainda recebe a indiferença de quem deveria utilizar de todos os meios salvar sua vida? (pobre, Hipócrates). A morte foi algo natural e corriqueiro para o profissional médico, que (não) o atendeu.
Como ficar indiferente à violência crescente contra a mulher e as crianças? Como achar normal um motorista cadastrado em um aplicativo muito popular, que aproveita da ingenuidade de mulheres na madrugada e, as estupra?
Como entender a falta de medicamentos em postos de saúde, ou aceitar o fato de que crianças que sonham ir pela primeira vez à escola, ouvem os pais, de maneira constrangida, afirmarem que não há vagas? Como vai crescer essa criança quando um de seus primeiros sonhos é negado de maneira vergonhosa por autoridades?
Sem falar no caso de uma professora que devotou amor à uma pessoa e, depois de humilhações e golpes financeiros, mesmo indo contra sua própria família, pagou com a vida esse acreditar. Acreditou em uma pessoa, perdeu a vida.
Pensando no mundo, a intolerância, o medo e a arrogância cada vez mais presentes. O meu caráter, a minha índole dependem da região geográfica onde nasci? Ainda não foram disparados canhões, mísseis, mas creio que será questão de tempo. A autoafirmação de um indivíduo precisa ser posta em prática, ao provar belicamente e de maneira aterrorizante quem manda no planeta. O medo volta a ser maior no mundo.
No Brasil, não obstante os mais de doze milhões de desempregados (segundo a metodologia do governo, pois com base em estudos podem ser 22 milhões) – com uma pessoa chorando em rede nacional, sendo despejada do local onde mora devido à quatro meses de aluguel atrasado e sem dinheiro sequer para a “xerox” exigida pela agencia de emprego, temos um local onde não existe crise.
É um local fantástico, um paraíso onde senhores e senhoras fleumáticos e elegantes, de voz pausada e calma, com seus ternos e tailleurs bem cortados, usando perfume importado, com gordas verbas para gastarem (vide portais de transparência) e com um séquito de puxa-sacos, se preparam para eleger o chefe da casa onde congregam, que comandarão daqui para a frente nossos destinos.
Ah, mas aqueles “pequenos crimes de roubos de milhões”, não, claro que “é intriga da oposição” (termo em desuso, pois a oposição também está entre os criminosos), são café pequeno. Foi “erro da contabilidade da campanha”, coisas como “as doações foram legais”, ou “eu não sabia de nada”. Ah, ainda têm a cara de pau de criticar Juízes que cumprem a lei e membros do Ministério Publico que os fustigam constantemente pelos seus crimes e atos de corrupção.
Ratos que vivem em um esgoto, movido e alimentado pela corrupção, que alimenta o crime organizado no país, definirão nosso futuro... Vergonha. Essa e a anterior, são definitivamente, as piores legislaturas da história do congresso nacional. O povo brasileiro deve deixar de ser pacífico na hora de votar. Não podemos aceitar quadrilheiros, criminosos, como membros dos parlamentos, definindo nossos destinos.
Enquanto isso falta dipirona, gaze, e – ah, parece que estou querendo demais – UTI’s no sistema público de saúde.
Não, não quero, não vou ver os telejornais, não quero ler os jornais... Queria apenas compor uma canção de amor...
Mas, o coração, será que consegue? Afinal, parece que o coração prefere falar de amor, em um mundo de desamor...
Ainda bem, que nos restam poemas e canções!


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

DIA DE SÃO SEBASTIÃO





Ao acordar naquela manhã, notei que meu pai estava ali por perto, e não tinha ido para a roça, como costumava fazer todos os dias.  E, notei ainda que haviam várias pessoas por ali, alguns já se fartando com um lauto café da manhã,  preparado e servido por minha mãe.
Estavam ali os trabalhadores da fazenda, agregados, vizinhos e alguns moradores das imediações que prestavam serviços esporádicos ao meu pai e a outros fazendeiros da região. Havia um clima de festa e de alegria, facilmente perceptível no semblante de cada um.
Ao dar a bênção à minha mãe, recebi seu carinho e seu beijo e a recomendação que andasse logo, pois em instantes começariam a rezar o terço em homenagem a São Sebastião.
Fui correndo lavar o rosto, na esperança que chegasse e pudesse degustar algumas guloseimas, afinal, a reza certamente demoraria e eu acordara aquela manhã com mais fome que os dias anteriores.
Mas minha mãe, bondosa como era, esperou até que eu fizesse meu desjejum, composto de cuscuz com nata, leite branquinho e quente e algumas bolachinhas feita ao forno.
Logo as pessoas se juntaram e, com as senhoras à frente começaram a entoar cânticos, fazendo a invocação ao Divino Espírito Santo. Lembro como hoje o refrão que dizia; “A nós descei, Divina Luz!” . Depois, minha mãe, ao lado de minha avó e com meu pai ali próximo, começou a puxar o terço, contando as orações em um velho rosário de contas amarelas. Postavam-se diante de um pequeno oratório, onde havia varias imagens de santos da devoção da família, adornado por flores colhidas naquele dia.
Depois de algum tempo, vieram os agradecimentos e o pedido de bênçãos e proteção ao santo homenageado. Agradecendo a saúde que tiveram e que a colheita que em poucos meses de iniciaria, fosse farta e que atendesse a todos.
Depois das orações, os homens ficaram por ali, nas imediações, à sombra dos pés de manga que ficavam ao lado da casa.  Alguns foram até os fundos da casa, onde havia fornalhas, para terminar a preparação de um porco grande que fora abatido na véspera.  E as mulheres começaram a preparar o tempero para o  almoço e cortavam frangos cevados, dos grandes. E em alegre e ruidosa animação, o almoço começou a ser preparado.
Depois de cumprida a devoção do terço, era a hora da confraternização, da alegria e de alguns reencontros. Como o tempo era muito corrido, era em ocasiões festivas como essa que os vizinhos e amigos – muitos  compadres entre si – podiam se reencontrar e colocar os assuntos em dia.
Era um tempo em que as pessoas se reuniam em torno de sua devoção, e praticavam o bem, na forma de desejar alegrias e bem aventuranças ao próximo.
Eram assim os dias santos na querida e saudosa Fazenda Nova América, de minha infância. Fazenda Nova América, de minha saudade.   



sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A FESTA DOS SANTOS REIS



No inicio da semana, eu ouvi meu pai e minha mãe conversando sobre o convite que receberam, de ir à Fazenda do seu compadre Zeca Silvino, que ficava ali perto, para acompanharem a festa da entrega da Folia de Reis, que este ano aconteceria lá.
De imediato fiquei alegre e ao mesmo tempo preocupado. Alegre, pela infinidade de doces e guloseimas que era comum encontrar na fazenda do “Seu Zeca”, como o chamávamos, feitas pelas mãos habilidosas de sua esposa, Dona Eva. E preocupado, pois eu tinha medo dos irrequietos e barulhentos palhaços, que viviam a correr atrás da me ninada. Eu era muito novo, muito criança, e por isso tinha medo. Mas, papai não me deixaria fica r longe dele e assim eu me sentiria seguro.
A festa ocorreria e dia de semana, e por isso, papai teria que parar mais cedo o trabalho na roça. A fazenda do seu compadre Zeca distava cerca de uma hora a cavalo, o que não seria muito longe.
Chegado o dia, papai veio mais cedo e quando fomos tomar banho no riacho que ficava pertinho da nossa casa, disse a ele do medo que tinha dos palhaços. Ele sorriu e disse que eu ficasse tranquilo, que estivesse sempre perto dele. Assim, me pus a esperar com ansiedade que chegasse logo a hora de irmos.
Pouco depois do meio da tarde, nos pusemos a caminho. Papai ia em seu cavalo e me levava na lua da sela. Minha mãe, acompanhada de meu irmão e minha irmã, iam na velha mas eficiente carroça, puxada por um cavalo manso, que de tão manso, era preguiçoso.  Nos acompanhava o sempre leal e incansável cachorro Guamá.
O sol já se punha quando chegamos ao destino. Fomos recebidos com alegria pelo dono, compadre do meu pai, Sr. Zeca Silvino, que da porteira gritou pra a esposa que havíamos chegado.
Fomos recebidos com alegria. Dona Eva, madrinha de minha irmã veio nos abraçar, dizendo “como esses seus meninos estão grandes. Paulinho então, espichou”.
E logo nos dirigimos ao local onde começavam a se aglomerar as pessoas convidadas. Notei que ao barulho dos primeiros fogos, Guamá saíra em desabalada carreira. Disse isso ao meu pai, mas ele disse que eu ficasse tranquilo, pois ele sabia se cuidar.
Foram chegando muitas pessoas e logo a imensa barraca de lona ficou tomada de pessoas, muitos tocavam seu instrumentos. Ouvia som de  violões, violas acordeons e tambor. Mas, não tocavam musicas, emitiam sons, como que para conferir a afinação
Logo após escurecer, começaram as orações. Rezaram o terço e depois vieram os agradecimentos aos Santos Reis do Oriente, em versos rimados e quase cantados.
Eu estava com um pouco de fome e de olho comprido nas guloseimas que abarrotavam as mesas. Mas a regra era que, comida, somente depois da reza e da cantoria.
O jantar foi servido por um numero grande de ajudantes, que entregavam a comida a quem se aproximava. Primeiro foram os adultos mais velhos, que cerimoniosamente tiravam seus chapéus, até que chegou a hora das crianças.
Jantamos e os violeiros começara a parte alegre. Em animada cantoria que se formou logo uma turma que começou a dançar.
Mas, papai, sabedor que no dia seguinte, teria um dia difícil, nos chamou para voltar. Meu irmão meio a contragosto, veio se juntar a nós. Queria ficar mais e à distancia, namorar uma mocinha que se engraçara dele. Coisas de adolescente.
Ao voltar, eu não pude deixar de perceber a beleza da noite. Uma lua crescente parecia nos iluminar o caminho de propósito. O som da sanfona dolente, foi ficando cada vez mais longe até que sumiu de vez.
Mas, para sempre, aquela noite, os cânticos, os versos declamados e o som da sanfona estarão em um lugar do qual nunca sairão: do meu coração.
Vivas aos Santos Reis.



domingo, 1 de janeiro de 2017

SIMETRIA




No mesmo compasso
Corações batem,
Pulsam.
 Ao mesmo tempo.
Acelerados, 
Quando olhares se cruzam!
E calmos,
Quando mais próximos...



Sonhos, objetivos
Seguem...
No mesmo diapasão.
No querer,
Os mesmos tons da vida,
Em ávidas buscas...

Simetria...
Demais!

-*-

#Deumpoetaqualquer