Ao acordar naquela manhã, notei que meu pai estava ali por perto, e não tinha
ido para a roça, como costumava fazer todos os dias. E, notei ainda que haviam várias pessoas por
ali, alguns já se fartando com um lauto café da manhã, preparado e servido por minha mãe.
Estavam ali os trabalhadores da fazenda, agregados, vizinhos e alguns
moradores das imediações que prestavam serviços esporádicos ao meu pai e a outros fazendeiros da região. Havia um clima de festa e de alegria, facilmente perceptível
no semblante de cada um.
Ao dar a bênção à minha mãe, recebi seu carinho e seu beijo e a
recomendação que andasse logo, pois em instantes começariam a rezar o terço em
homenagem a São Sebastião.
Fui correndo lavar o rosto, na esperança que chegasse e pudesse degustar
algumas guloseimas, afinal, a reza certamente demoraria e eu acordara aquela
manhã com mais fome que os dias anteriores.
Mas minha mãe, bondosa como era, esperou até que eu fizesse meu desjejum,
composto de cuscuz com nata, leite branquinho e quente e algumas bolachinhas
feita ao forno.
Logo as pessoas se juntaram e, com as senhoras à frente começaram a
entoar cânticos, fazendo a invocação ao Divino Espírito Santo. Lembro como hoje
o refrão que dizia; “A nós descei, Divina Luz!” . Depois, minha mãe, ao lado de
minha avó e com meu pai ali próximo, começou a puxar o terço, contando as
orações em um velho rosário de contas amarelas. Postavam-se diante de um pequeno
oratório, onde havia varias imagens de santos da devoção da família, adornado por
flores colhidas naquele dia.
Depois de algum tempo, vieram os agradecimentos e o pedido de bênçãos e
proteção ao santo homenageado. Agradecendo a saúde que tiveram e que a colheita
que em poucos meses de iniciaria, fosse farta e que atendesse a todos.
Depois das orações, os homens ficaram por ali, nas imediações, à sombra
dos pés de manga que ficavam ao lado da casa. Alguns foram até os fundos da casa, onde havia fornalhas, para terminar a preparação de um
porco grande que fora abatido na véspera.
E as mulheres começaram a preparar o tempero para o almoço e cortavam frangos cevados, dos grandes. E em alegre e ruidosa animação, o almoço
começou a ser preparado.
Depois de cumprida a devoção do terço, era a hora da confraternização, da
alegria e de alguns reencontros. Como o tempo era muito corrido, era em ocasiões
festivas como essa que os vizinhos e amigos – muitos compadres entre si – podiam se reencontrar e
colocar os assuntos em dia.
Era um tempo em que as pessoas se reuniam em torno de sua devoção, e
praticavam o bem, na forma de desejar alegrias e bem aventuranças ao próximo.
Eram assim os dias santos na querida e saudosa Fazenda Nova América, de
minha infância. Fazenda Nova América, de minha saudade.
Linda, linda, linda!!!
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