sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

DIA DE SÃO SEBASTIÃO





Ao acordar naquela manhã, notei que meu pai estava ali por perto, e não tinha ido para a roça, como costumava fazer todos os dias.  E, notei ainda que haviam várias pessoas por ali, alguns já se fartando com um lauto café da manhã,  preparado e servido por minha mãe.
Estavam ali os trabalhadores da fazenda, agregados, vizinhos e alguns moradores das imediações que prestavam serviços esporádicos ao meu pai e a outros fazendeiros da região. Havia um clima de festa e de alegria, facilmente perceptível no semblante de cada um.
Ao dar a bênção à minha mãe, recebi seu carinho e seu beijo e a recomendação que andasse logo, pois em instantes começariam a rezar o terço em homenagem a São Sebastião.
Fui correndo lavar o rosto, na esperança que chegasse e pudesse degustar algumas guloseimas, afinal, a reza certamente demoraria e eu acordara aquela manhã com mais fome que os dias anteriores.
Mas minha mãe, bondosa como era, esperou até que eu fizesse meu desjejum, composto de cuscuz com nata, leite branquinho e quente e algumas bolachinhas feita ao forno.
Logo as pessoas se juntaram e, com as senhoras à frente começaram a entoar cânticos, fazendo a invocação ao Divino Espírito Santo. Lembro como hoje o refrão que dizia; “A nós descei, Divina Luz!” . Depois, minha mãe, ao lado de minha avó e com meu pai ali próximo, começou a puxar o terço, contando as orações em um velho rosário de contas amarelas. Postavam-se diante de um pequeno oratório, onde havia varias imagens de santos da devoção da família, adornado por flores colhidas naquele dia.
Depois de algum tempo, vieram os agradecimentos e o pedido de bênçãos e proteção ao santo homenageado. Agradecendo a saúde que tiveram e que a colheita que em poucos meses de iniciaria, fosse farta e que atendesse a todos.
Depois das orações, os homens ficaram por ali, nas imediações, à sombra dos pés de manga que ficavam ao lado da casa.  Alguns foram até os fundos da casa, onde havia fornalhas, para terminar a preparação de um porco grande que fora abatido na véspera.  E as mulheres começaram a preparar o tempero para o  almoço e cortavam frangos cevados, dos grandes. E em alegre e ruidosa animação, o almoço começou a ser preparado.
Depois de cumprida a devoção do terço, era a hora da confraternização, da alegria e de alguns reencontros. Como o tempo era muito corrido, era em ocasiões festivas como essa que os vizinhos e amigos – muitos  compadres entre si – podiam se reencontrar e colocar os assuntos em dia.
Era um tempo em que as pessoas se reuniam em torno de sua devoção, e praticavam o bem, na forma de desejar alegrias e bem aventuranças ao próximo.
Eram assim os dias santos na querida e saudosa Fazenda Nova América, de minha infância. Fazenda Nova América, de minha saudade.   



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