A cada semana, tenho a alegria de ocupar esse espaço e escrever, a partir
daquilo que está contido em meu coração, sobre reminiscências da infância, a
magia dos amplos quintais da querida, saudosa e amada Fazenda Nova América, dos
banhos de riacho ao fim da tarde, quando meu pai depois de um dia extenuante de
trabalho na roça, ainda encontrava disposição e forças para brincar comigo e
com meus irmãos, onde éramos grandes amigos em alegre folguedo.
Gosto de descrever as noites de humildes e singelos saraus, onde minha mãe
declamava versos, acompanhada pelo violão dolente tocado por mãos rudes e
calosas de meu pai. Também recordo com imenso carinho o colo e o amor intenso
de minha mãe, compartilhado com meu pai e meus irmãos.
Hoje meu coração está em compasso de tristeza. Difícil escrever sobre alegrias,
tão presentes em minha alma, vividas na infância, na adolescência, junto com a
amada e depois, com a presença das filhas e recentemente, do neto querido e também
muito amado. Difícil escrever sobre demonstrações cotidianas de amizade e
respeito de tantos amigos que utilizando a tecnologia e a modernidade, fazem
contato.
A realidade nua e crua é que o Brasil, antes o país do futuro e da esperança,
celeiro do mundo, está à deriva.
Meu coração hoje sangra. Meu coração está machucado e triste. Sou como tantos
brasileiros de uma geração que lutou por ideais. Lutamos por liberdade. Liberdade
em suas diversas vertentes. Liberdade de expressão, liberdade de ir e vir – é,
liberdade de ir e vir, algo tão corriqueiro e indispensável ao ser humano.
Lutamos por eleições diretas, por democracia, por igualdade econômica e justiça
social. No meio dessa luta muitos tombarem ante baionetas ou ante balas de
pistoleiros à serviço de poderosos que, para ampliarem seu poder, ceifaram
vidas.
Hoje, a luta pela vida continua. E temos que combater quadrilhas comandando
nossos destinos. Bandidos que utilizam expedientes vergonhosos e ilegais para
manter o poder. Temos um presidente da república investigado pela polícia, os
presidentes da câmara e do senado também investigados. Eles, hoje não representam
o povo brasileiro, não representam o sofrido e honesto trabalhador, que todos
os meses, apesar das dificuldades, paga suas contas. Isso quando não está entre
os trinta milhões de desempregados, herança maldita de um partido que se dizia “dos
trabalhadores”.
Tivemos durante longos anos uma quadrilha se locupletando do poder. Uma
quadrilha nefasta que usando da popularidade obtida minimizou tsunamis que
vinham sobre o país, fazendo acreditar que eram “marolinhas”. Ledo e desonesto
engano. Eram turbilhões que não demoraram a cair sobre o Brasil.
Hoje, novamente vem à tona mais verdades. Apesar da ação célere e firme
de setores da justiça e do ministério público, os ladrões do erário mantiveram
ativos os esquemas de corrupção. Não se intimidaram com o braço forte da
justiça, com a ação incansável de abnegados que acreditam que a justiça se fará
valer. Confiavam evidentemente, na impunidade, que nunca atingiram as dinastias,
as castas a que pertencem.
A cadeia deve ser o destino certo, longo e grande para esses ladrões. Ladrões
de sonhos, de vidas, de ideais. Roubaram também nossas suadas conquistas. Com
isso, que meu coração, assim como o coração de tantos brasileiros honestos e que
batalham cotidianamente, possa voltar a acreditar no Brasil.
Mas em um Brasil livre de bandidos, de ladrões como os que nesse momento
ainda decidem nossos destinos.
Que o pouco que nos resta, seja mantido, preservado. Que o país que
acreditamos e que sonhamos, ao menos para as próximas gerações, possa se
concretizar. À minha geração, que citam como perdida, já vai passando. Que venha
um país melhor para quem for viver o futuro. O presente é de desesperança.
Infelizmente. Que o país do futuro seja sem ladrões e corruptos entre os que
devem defender esta terra.
É o que nos resta esperar. Ainda que seja sonho e a maioria de nossos
sonhos tenham sido roubados.
E que nunca esqueçamos: somos livres. De alma e coração!
Nenhum comentário:
Postar um comentário