Eu
estava sentado no pequeno alpendre da casa onde morávamos, quando ao longe, vi
descendo a ladeira do pequeno córrego que ficava próximo, um vulto conhecido. Vestia
uma roupa clara e se protegia do calor daquele início de tarde, pouco depois do
almoço, com uma sombrinha de cores diversas. Os passos eram lentos, porém firmes.
Aos
poucos foi se aproximando e eu não me contendo, corri até aquela pessoa e
recebi dela um abraço, enquanto pedia-lhe a bênção – atitude respeitosa que os
mais jovens àquela época tinham com os mais velhos.
Era
minha Tia Justina, casada com o Tio Cazuza irmão de meu pai. Ela era uma pessoa
carinhosa, e sempre que a encontrava me pegava no colo, dando beijos e pequenas
palmadas de brincadeira, dizendo que era pelas minhas peraltices.
Tia
Justina e a família há um bom tempo tinham mudado de São Miguel, cidade onde
morávamos, para a capital. Mas ela vinha sempre visitar os filhos, que moravam
na pequena e querida cidade de Araguaçu, em cuja zona rural que ficava a Fazenda
Nova América.
Ela
chegou reclamando o calor e também do ônibus que fazia o trajeto entre Araguaçu
e São Miguel – que quebrara na estrada, atrasando em pelo menos três horas a viagem.
Mas, finalmente chegara e ainda daria tempo de descansar e esperar com calma o ônibus
no qual ela às sete da noite embarcaria com destino a Goiânia.
Minha
mãe se apressou em providenciar algo para que ela matasse a fome. Além do arroz
do almoço que estava sobre o fogão à lenha, ainda quentinho, mamãe esquentou a
deliciosa carne de lata, uma saladinha de tomate e alface. Reforçou aquela refeição
frugal, mas providencial com um ovo frito, bem molinho e para refrescar o calor
intenso, suco bem gelado de acerolas colhidas na hora, ali pertinho, no pé que
ficava no quintal.
Passados
tantos anos daquela tarde quente, recordo com carinho aqueles momentos. Momentos
onde se sabia que, a qualquer hora ou dia que chegasse em uma casa seria
recebido com carinho, amor e hospitalidade. Nunca faltando um prato de comida,
uma toalha limpa e uma cama macia.
Recebia-se
uma pessoa com imensa alegria e felicidade. Lamentava-se às vezes que o tempo
da passagem era pequeno, curto, mas por outro lado, louvava-se o fato que ela
escolhera aquela casa para ficar.
Hoje
ainda recebe-se em casa pessoas queridas, da família. E tudo continua tendo o encanto
de antes. É prazeroso dividir a sala, com um bom e animado papo com pessoas que
queremos bem. E se alegrar que se hospedem naquele quarto que sempre fica arrumado
à espera que seja ocupado. É também quando aparecem aqueles colchões
sobressalentes, que ficam escondidos em algum canto. Assim, todos se ajeitam com
relativo conforto, se sentem muito em casa.
E
tão bom quanto receber pessoas amadas, é também ser recebido por elas. Devolvem
da mesma forma a alegria, a hospitalidade. Naturalmente, como gestos de amor.
Assim,
a vida vai seguindo, como em uma via de mão dupla, composta por amor e fraternidade.