Na noite da última
quinta-feira, ao chegar em casa deparei-me com as luzes da varanda apagadas.
Normalmente estão acesas, mas dessa vez ocorreu um problema com o sistema de
células fotoelétricas, que ao anoitecer acende automaticamente as lâmpadas da
casa.
Após colocar o carro na
garagem, me permiti por alguns instantes admirar a escuridão da parte interna e
ao me voltar para a parte de fora e contemplar o céu, agradeci pelo fato de as
lâmpadas não estarem acesas: um espetáculo grandioso se iniciava. A lua
aparecia entre prédios esplêndida, imponente e bela. E iluminava o firmamento e
todo o meu quintal, majestosamente incrustada em um céu sem nuvens, de tom azul
escuro.
Por um tempo que não
posso mensurar, fiquei ali absorto, com o pensamento distante nas coisas boas e
belas da vida. A lua cada vez mais brilhante e clara, em escala ascendente
iluminava agora uma pujante roseira do pequeno jardim, que estava coalhada de
rosas.
E uma dúvida surgiu: a
lua se encantava com as rosas ou as rosas de encantavam e retribuíam a beleza
da lua? Impossível saber...
Mas a responsabilidade
voltou e tive que acender as luzes da casa. Rapidamente encontrei o pequeno
problema ocasionado no sistema elétrico e a luz se fez presente em todas as
varandas da casa.
Mas busquei uma cadeira
de fios e fui fazer companhia à roseira, deixando a luz da lua acariciar minha
face. Fiquei ali por um bom tempo, imerso em minhas reflexões.
O mês de junho está
chegando ao fim. Tivemos um mês festivo, com homenagens a Santo Antônio, São
João e São Pedro. Muitos festejos, alegria, comidas típicas, dança de
quadrilhas. E julho está à porta, trazendo clima de férias e descanso para
muitos. Tempo de praias no Rio Araguaia, reencontros e confraternização.
É quando me lembro que em breve teremos
eleições, e o país segue ainda em rumo incerto. É preocupante perceber que um
país que há pouco mais de trinta anos lutava por liberdade de expressão,
democracia, livre associação, multipartidarismo, hoje se veja com pessoas –
desinformadas, diga-se – pedindo a volta do regime militar.
Vivi intensamente a
época da ditadura. Lembro que para poder apresentar um espetáculo teatral era
necessário obter autorização de um sisudo e quase sempre mau humorado servidor
do departamento de censura polícia federal de então. Haviam outras situações,
que também não deixaram nenhuma saudade. Vencemos, tivemos a aprovação de uma
constituição cidadã – hoje mutilada – e o país experimentou por mudanças que
vieram atender em parte aos anseios da sociedade.
Mas de repente, quem
comandou essa mudança fez pior do que os que estavam no poder, levando o país,
de gente honesta e trabalhadora, à uma crise sem precedentes.
E carregando junto
instituições outrora merecedoras de crédito e confiança, como a nossa suprema
corte, que parece mais uma banca de advogados que de fato guardiã da
constituição. Isso para não falar em nossos parlamentos, que salvo raras e
honrosas exceções, têm como integrantes pessoas descompromissadas com a
sociedade, com o bem comum.
As eleições estão
chegando. Os protagonistas até agora são os mesmos de sempre. Significa que
nada deve mudar e que o país deve continuar como um paraíso de políticos
corruptos e desonestos.
Mas é melhor voltar à
lua e seu interessante diálogo com as rosas. Tamanha beleza traz conforto e aconchego. Lua, rosas perfumadas, noite de encantos, o
som de um violão ao longe, tudo isso me faz ao menos por alguns instantes
esquecer as mazelas do Brasil.
E embora tentem, ainda
não conseguiram nos roubar a poesia. Que deve sempre prevalecer em nossos
corações.