O mês de junho era
bastante movimentado na querida e saudosa Fazenda Nova América e em suas
imediações. Assim que se iniciava, as famílias se reuniam para fazerem a novena
em louvor a Santo Antônio. A cada noite acontecia na casa de uma família, onde
os vizinhos se encontravam para rezar e se confraternizar.
Embora eu fosse muito criança,
me emocionava com os cânticos, com as orações, com as demonstrações de devoção
e o agradecimento de todos ao santo protetor. Eram depoimentos de pessoa
simples, cercados de timidez, que agradeciam as graças alcançadas. Louvavam a saúde
recuperada do filho que adoecera, a colheita farta na safra anterior, e por
tantas razões que aquele povo simples fazia questão de colocar àquele momento.
Após as orações, sempre
puxadas pela noveneira e pela dona da casa que recebia os visitantes fieis, era
hora do jantar.
Àquela época era tudo
muito difícil, mas todos se preparavam para aqueles festejos. Os mais
remediados ajudavam aqueles que tinham menos recursos ou estavam passando por
situação difícil, cedendo uma leitoa, uma quantidade de frangos e outras coisas.
O fato é que sempre havia um jantar, que embora simples, era com muita fartura.
E tudo com aquilo que produziam na terra.
Constava do cardápio o
delicioso frango caipira ao molho, feito em grandes proporções em tachos sobre as
fornalhas à lenha, carne de porco com farofa, abóbora com leite para quem andava
enfastiado, arroz com suam de porco, feijão verde, quibêbe de maxixe, mandioca
ou macaxeira, como chamavam na região frita e cozida. Para “queimar a manteiga”,
os adultos se permitiam uma dose pequena de cachaça da região.
A meninada animada e
esperta, mal jantava: queria mesmo era que chegasse o momento em que eram servidos
os doces. Doces de leite, rapadura, cocada, a deliciosa canjica e outras
guloseimas faziam a alegria dos pequenos. Mas era comum ver adultos, em sua
simplicidade encherem os bolsos. “É para morder amanhã na roça”, diziam.
Cada casa tinha uma
habitual regra. Em algumas, sempre aparecia uma sanfona, um violão e um pandeiro
- ou uma zabumba. Noutras, o final era mais contido, havia a reza, o jantar e
após isso, encerrava-se com boas conversas dos adultos próximo à fogueira. Mas aos
meninos, a liberdade de brincarem era total, apesar de algumas mães e tias solteironas
zelosas tentarem contê-los, sob o argumento que estavam com a barriga cheia. Como
se adiantasse...
Mas invariavelmente,
após a reza e o jantar havia muita diversão. E quando havia a coincidência de
ser fim de semana – creio que propositadamente marcavam a noite de novena para
a casa de alguém mais animado – tudo terminava em alegre folguedo, com animados
saraus à beira de uma fogueira.
Para os que moravam
mais distante e precisavam dormir, oferecia-se o pouso. E no dia seguinte,
servia-se lauto café da manhã, com leite, cuscuz com nata, rapadura e claro,
café. Antes, os homens que haviam pernoitado ali ajudavam no curral e as mulheres
ajudavam ao limpeza e organização da casa.
O tempo passou e hoje
para mim, tudo é saudade. As festas juninas são marcantes em minha vida.
Mas, mantendo a
tradição, sei que minha irmã Vitória e seu esposo José Sôffa, todo final de junho,
promovem a novena de em devoção à São Pedro em sua fazenda no município de
Xinguara no Pará. E tudo sempre, claro, termina em festa, encerrando o mês.
Também foi em uma festa
junina que comecei minha história vida com a amada. Depois de tantos anos, impossível
não lembrar aquela festa junina, na rua do prédio onde morávamos; ali começávamos nossa caminhada.
E junho também é
especial para mim, pois é quando sempre completo mais uma etapa da vida.
Junho é festa, alegria
e claro: sempre saudade boa!
Assim sendo, vivas a Santo
Antônio, vivas a São João, vivas a São Pedro!
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