O pequeno e esperto
Gabriel, companheiro de brincadeiras e peraltices entre avô e neto me ajuda a
lançar no chão do quintal as sementes de milho, para aproveitar as chuvas que
ora caem por aqui. Assim, ele e eu damos sequência a uma tradição de família, o
plantio de milho no quintal de casa logo no início do período chuvoso.
Com calma e paciência,
vou explicando a ele como aquela semente de milho, com tom avermelhado, alguns
dias após ser jogado no chão surgirá como tenro e frágil filete de planta, suavemente acariciado por gotas de orvalho, para
em pouco tempo crescer, se tornar uma planta forte e pujante e nos presentear
com espigas grandes e deliciosas, que estarão presentes nos diversos pratos que
fazemos no fogão à lenha ou nos deliciosos bolos feitos pela avó.
Ele, interessado e com
seu vocabulário peculiar, cuja pronúncia ainda suprime algumas letras, me
pergunta: “vai ficar bem gandão, né, vovô?” Respondo que sim, e ele vai feliz
da vida contar ao pai que o “vovô ensinou a plantar milho”.
Tudo isso me fez lembrar
de um dia, quando eu era criança e meu pai fez o mesmo comigo: na terra pronta
para o cultivo da roça na saudosa Fazenda Nova América, me explicou como após
deixar a semente no chão em alguns cias ocorria a transformação em planta, que
cresceria e se transformaria em alimento e em novas sementes, garantindo assim
a sequência da vida.
E papai foi meu
primeiro professor. Seja nos ensinamentos que desde criança me passava, como o
lançar de sementes de milho ao solo ou na pequena e singela sala da casa da
fazenda, que se transformara em sala de aula para filhos de agricultores da
vizinhança, e onde eu aprendi as primeiras letras.
Hoje, com saudades do
meu pai e com a alegria de desfrutar momentos como esse ao lado do menino
Gabriel, passo a refletir como era o país em que eu vivia quando criança, das
lutas e batalhas pela redemocratização do país quando adolescente e do momento
pelo qual passamos hoje.
É triste ver uma
campanha eleitoral onde a mentira tenta a todo custo se sobrepor à verdade,
para que determinado grupo abocanhe o poder, mesmo que para isso seja
necessário vender a alma ao coisa ruim.
Não importa mais o povo
brasileiro, importa sim que tal grupo esteja no poder para manter benesses,
privilégios, mordomias. O povo, ah esse será chamado novamente dentro de alguns
anos para novamente eleger representantes – que nunca o representa – e assim
continuar o ciclo de práticas políticas nem sempre recomendáveis.
Em outubro, temos o dia
das crianças, que também é o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do
Brasil e o dia dos professores. Criança e Professor, seres iluminados, de tão
especiais, merecem muito mais amor, reconhecimento, carinho e valorização.
O professor e a criança
sempre serão muito ligados. Começa no primeiro encontro, quando sequer se
consegue balbuciar corretamente as palavras, passa pela adolescência, ensino
médio, superior e segue por toda a vida. O jovem encontra no professor um grande
e confiável amigo quando juntos iniciam a caminhada para a busca do
conhecimento e formação de um cidadão de bem, consciente de seus direitos, mas
acima de tudo de seus deveres.
Que os próximos
governantes venham a se lembrar disso, valorizem nossos professores e protejam e
cuidem mais de nossas crianças. E as sementes que forem lançadas, germinem,
frutifiquem e se tornem certeza de um país, de um mundo melhor.
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