Passado o período eleitoral, apurados os votos, Jair Bolsonaro
é o Presidente eleito. Não há tempo a perder. Imediatamente terá que arregaçar
as mangas, buscar a conciliação e apresentar soluções para os graves problemas
brasileiros, montando uma equipe capaz de atender às expectativas da nação, que
são muitas.
A campanha eleitoral
de 2018 foi na melhor das hipóteses, decepcionante, com candidatos sem
propostas e conteúdo. Vi pessoas outrora amáveis e cotidianamente educadas,
proferindo através de redes sociais xingamentos e impropérios, taxando amigos
de “nazista” e “fascista” (será que sabem mesmo o que é isso?), ou “ladrão” e “corrupto”,
sem se preocupar que tais atitudes poderiam magoar, deixar feridas e provocar
inimizades. Porém, presencialmente tais pessoas continuavam serenas, educadas e
amáveis. A psicologia talvez explique que diante de uma tela e longe das
pessoas, o impulso de tentar impor pensamentos e opções seja incontrolável.
Duas situações chamaram a atenção nessas eleições e foram
decisivas: de um lado, a indefinição do Partido dos Trabalhadores quanto ao candidato,
insistindo até onde pôde na candidatura Lula, condenado em segunda instância, que
pela lei da ficha limpa não poderia em hipótese alguma ser candidato a um cargo
eletivo. A romaria cotidiana de
partidários ao local onde o ex-presidente cumpre sua pena e de lá comandou seu
partido, mostrou um desafio à justiça e o ex-presidente, ao confiar que
associar sua desgastada imagem a quem quer que fosse era garantia certa de
eleição errou feio.
De outro lado, a verborragia de partidários de Bolsonaro, inclusive
pessoas próximas ao candidato eleito, o que em contrapartida foi muito bem
utilizada por opositores no sentido de identificar sua imagem como arrogante e prepotente.
Porém o eleitor está muito mais consciente e esclarecido. São
inegáveis os erros dos governos petistas ao utilizar bilhões de dólares
provenientes do BNDES para investir em países, quase sempre governados por
ditaduras, em obras executadas por empreiteiras “amigas”. E quando a economia
degringolada se mostrou visível, logo nas primeiras semanas após a eleição de
Dilma Rousseff, acendeu-se a luz vermelha e percebeu-se que dias difíceis
viriam pela frente, como se comprovou em seguida.
A população decepcionou-se e alarmada com a possibilidade da
volta do PT ao poder, aglutinou-se através do voto útil em Bolsonaro, deixando
para trás candidatos “experts” em eleições, como Geraldo Alckmim, Álvaro Dias e
a bissexta Marina Silva, que largou na corrida à presidência com um índice nas
pesquisas que a credenciavam como favorita, mas sem nenhum carisma, viu no decorrer
do processo sua candidatura ir minando, a ponto de terminar com apenas um por
cento nas urnas. Alckmim tardiamente se deu conta da realidade e tentou buscar
o voto do eleitor anti-PT, colocando-se como alternativa moderada, mas além de
péssimo comunicador, traz contra si acusações de ser beneficiário de produto de
corrupção no “Caso Rodoanel”, o que o eleitor não aceita mais. Álvaro Dias, tido
como excelente Senador da república, mostrou-se hesitante diante do povo
brasileiro, e não conseguiu convencer ser capaz de governar um país.
Por fim, os candidatos caricatos: Boulos, com discurso
execrável, o bilionário Meireles dando a impressão que sua aventura à
presidência foi apenas para tornar-se conhecido, Cabo Daciolo perdendo-se ao
professar exageradamente sua religiosidade, e outros que sequer são lembrados.
A rotina dos pronunciamentos dos parlamentares petistas na
tribuna das casas legislativas, zombando da justiça, buscando desacreditar o
Juiz Sergio Moro e a infinidade de provas produzidas pela Polícia Federal e
pelo Ministério Público, deixaram a impressão que o partido age mesmo como uma
“organização criminosa”, como denominado em autos produzidos pela Procuradoria
Geral da República.
O eleitor reagiu ante uma possível ruptura da legalidade.
Indulto a Lula? Venezualização do Brasil? Temeu-se milícias apoiadas pelo PT,
transformando-se a médio prazo em poder paralelo e o pior, com intervenção
estatal em empresas e propriedades particulares.
Mas o processo eleitoral democrático e legal passou.
Bolsonaro agora é o presidente de todos os brasileiros. É detentor de grande
responsabilidade. Deve lutar para apaziguar e unir o Brasil em torno de um
projeto desenvolvimentista, trazendo de volta a dignidade do emprego que faz
falta a mais de quarenta milhões de brasileiros, combater de maneira firme a
corrupção e a violência que assola o país. Vale lembrar que sua plataforma
eleitoral foi baseada no restauro da autoridade e da honra. Tem diante de si
uma grande missão, dentre elas obter apoio de um congresso renovado, livre
pelas urnas de muitos ratos e raposas. À
oposição caberá fazer seu papel, respeitando a constituição
e principalmente, o povo brasileiro, soberano em suas escolhas.
O ex-presidente José Sarney costumava utilizar-se de uma
expressão que resumia bem o que é ser presidente da república: “a liturgia do
cargo”. Tal expressão leva a medir atitudes e ser convicto das
responsabilidades e obrigações de um governante, trabalhando por um país
inteiro, inclusive por aqueles que se opõem ao governo. Bolsonaro deve ater-se
à essa liturgia.
Deve agir com equilíbrio, bom senso, responsabilidade e a consciência
que não é presidente de apenas um lado, afinal foi credenciado através do voto
pela maioria da população a ser presidente da República Federativa do Brasil. E
ser um presidente voltado para o bem de todos, diante da liturgia do cargo que
ocupa.
Ao presidente eleito, meu desejo de sucesso e boa sorte na
condução de nossos destinos. Alea jacta est!
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