segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

REMINISCÊNCIAS DA PRAÇA "A"

Sentado em frente ao balcão da pequena e apertada lanchonete, mal percebi quando a atendente gentilmente me chamou perguntando qual refrigerante eu queria. Respondi de forma aleatória, ocupado em observar o movimento intenso de pessoas apressadas, em busca de seus compromissos, suas obrigações, seus afazeres.
“Isso aqui sempre foi muito movimentado...” - o comentário foi de um senhor de idade que ao meu lado degustava um pastel e notara o quanto eu estava observando o local.
Realmente, pensar que aquela construção feia, preta de fuligem e que emitia um barulho ensurdecedor um dia fora uma praça, era até difícil de imaginar.
O vizinho de lanche então se pôs a contar do que fora um dia o local chamado Praça A, antes de virar entreposto urbano, um terminal de transporte coletivo.
Era um lugar que nada tinha de praça, rodeado de oficinas, lojas de autopeças, farmácias, estacionamento de caminhões, de carroças e charretes. E muita gente circulando, trabalhadores e desocupados, de todas as classes e origens.
Por falar em charretes, logo elas rapidamente foram desaparecendo, sendo substituídas por carroças e por um motivo pitoresco e curioso: receberam o apelido nada elogioso de “balaio de quenga”. Com isso, família ou pessoa de família que se prezasse não utilizavam o meio de transporte, pois naqueles tempos era certeza absoluta de ficar falada, mal vista. Melhor para os poucos veículos de táxi, os chamados carros de praça.
Nas biroscas, pequenos cafés, nas lojas ou oficinas ouvia-se a Rádio Difusora de Goiânia em sua programação diária. Também a Rádio Clube. Já de noite era hábito se reunir nos bares, ao lado de um imponente rádio de mesa pra ouvir as notícias do Repórter Esso – Testemunha ocular da história, na voz imponente do gaucho Heron Domingues, que era transmitido pela Rádio Globo do Rio de Janeiro.
Depois desse encontro após as noticias, alguns homens se dirigiam para o local compreendido pelas avenidas Bahia, Catalão e P-16. Ali ficavam os redutos da boemia. Era comum ouvir uma possante voz sempre acompanhada por um violão dolente, de pessoas que, em alegre companhia deixavam-se enlevar nas canções maviosas de seresta. Altemar Dutra era um dos preferidos. E atravessavam a noite, adentrando a madrugada.
Aos domingos acontecia ali uma feira, onde a população encontrava de tudo que precisava; de cereais até o tradicional frango de domingo que naquele tempo somente existia caipira. Às vezes, um apequena desavença entre alguns indivíduos. E a sempre bem assistida briga de mulheres que, quase sempre por motivo de ciúmes, se engalfinhavam, para delicia da numerosa platéia que rapidamente se juntava. E que reclamava quando os fardados chegavam e levavam as brigonas para outro lugar.
Meu vizinho de lanche em poucos minutos me fez viajar no tempo. E me perguntar: quem seriam as pessoas da Praça A? Como viveriam o cotidiano, o dia-a-dia?
Passei a imaginar como aquelas pessoas que um dia fizeram a história daquele lugar. Da Praça A – a praça que nunca foi de verdade uma praça, mas um ponto de encontro e porta de entrada da história da querida Campininha.

2 comentários:

  1. Mais um resgate da história de Goiânia com belos detalhes e nostalgia!

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  2. Parabéns Paulo, resgatar a historia é promover a cultura. Saudações!

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