“Ao
Senhor oferecemos o alimento que teremos” Era assim que iniciávamos o almoço na
casa de Rilza e Zé Luiz. Depois da oração, em alegre e festivo momento degustar
a comida deliciosa preparada por Rilza e prestar atenção na boa prosa de Zé
Luiz, que sempre tinha coisas boas e alegres para dividir.
A
essa época eu era aluno interno do Ginásio Anchieta de Silvânia – GO. Durante a
semana tinhas minhas atividades normais como todos os demais alunos do internato,
mas aos finais de semana desfrutava do imenso e único privilégio de ir para a
casa de Rilza e Zé Luiz.
O
filho mais novo de Rilza e Zé Luiz, Luzo era meu colega de classe, estudávamos
na mesma sala onde fazíamos a mesma série. De imediato ficamos amigos, como se
fôssemos irmãos. Amizade que se estendeu quando comecei a freqüentar sua casa e
fui acolhido como filho por Zé Luiz e Rilza.
Recordo
como hoje aquela manhã chuvosa de sábado, depois das aulas, o primeiro fim de
semana que passei naquela casa feliz da Rua Henrique Silva. Um fato interessante e marcante aconteceu
assim que cheguei. A mãe de “Tia Rilza”
e avó do Luzo, Vó Dalvina havia trazido ovos de tracajá, iguaria muito
apreciada em sua terra natal, a cidade do Peixe - àquela época Goiás e hoje
Tocantins. Perguntaram se eu aceitava e ao dizer sim, ainda falei que gostava
muito – mesmo sem conhecer. Só que ao colocar na boca o tal ovo de tracajá, não
fui com a cara nem com o gosto do petisco, e tentando disfarçar chamei o Luzo para
visitarmos o quintal, onde eu poderia me livrar daquilo mais facilmente. Foi o
bastante para que todos caíssem na risada e se divertissem com a minha falta de
jeito e inexperiência com a iguaria.
Daí
para a frente foi somente alegria. A casa de Rilza e Zé Luiz passou a ser a minha
casa em Silvânia. “Tio Zé Luiz” gostava de reunir a família e
patrocinar saraus, onde o violão e sua
possante voz se sobressaiam. Era de uma alegria incomensurável e contagiante
ouvi-lo interpretando belas canções de
Seresta. Embora Zé Luiz sofresse com seus reumatismos, sempre mantinha o bom
humor.
Zé
Luiz era Contador e fazia faculdade. Durante o dia, pela manhã dava expediente
no Ginásio Anchieta e à tarde, no escritório que ficava na casa de sua mãe, Emerenciana
(Vó Miçana). À noite, ao lado de outras pessoas, tomava o ônibus e dirigia-se à
cidade de Anápolis – GO, onde se formou em direito, carreira mais tarde seguida
pelo “primo” Luzo.
A
paixão futebolística da família Gonçalves dos Santos eram Flamengo e Goiás
Esporte Clube. Duas bandeiras no quarto “dos meninos” simbolizavam isso. Como eu
era torcedor do Vila Nova, que naquela época ganhava tudo no goianão tínhamos bastante
o que falar do assunto.
Mas
bom mesmo eram os passeios de bicicleta. Luzo tinha a dele e eu me apoderava da
que servia ao escritório de contabilidade, uma Monark barra circular azul.
Passeávamos pelos arredores da cidade e na volta, buscávamos sempre um quintal
da casa de algum amigo, onde encontrávamos pés de mangas, jabuticabas ou
mexericas pokan carregados e generosos.
Luzo
e eu éramos tão irmãos que até brigávamos. A maneira de irritá-lo logo
descobri: bastava chamá-lo pelo apelido que suas irmãs o presentearam que se
enfezava. Não raro nos estranhávamos, mas logo tudo era apaziguado pelo
conselho e pela ternura de Rilza, que com seu sorriso de mãe tornava impossível
que não fizéssemos as pazes. Coisa de irmãos.
Ao
fim da refeição, vinha a sobremesa. O pudim era uma das especialidades de
Rilza. Zé Luiz degustava com imenso prazer e satisfação.
“Ao
Senhor agradecemos o alimento que tivemos” Era a oração final, o agradecimento
a Deus pela dádiva do alimento que nunca faltou àquela mesa.
Hoje
mesmo distante agradeço ao Pai o privilégio do convívio com a minha família de
Silvania, quando aluno interno do ginásio Anchieta. Além de amor, carinho e
ternura na casa de Rilza e Zé Luiz fui verdadeiramente acolhido como filho, o
que permitiu minimizar a saudade que sentia de meus pais, que moravam na distante
São Miguel do Araguaia.
Obrigado,
Senhor, obrigado ao Pai, pela família que tive e tenho no coração – dos
queridos Rilza e Zé Luiz!
É uma benção vc ta longe da sua família e ter pessoas assim de bom coração que nos acolhe, meu filho Lucas tb tem uma família assim la em Curitiba aonde ele mora.
ResponderExcluirMaravilha.. pessoas que nos acolhem em paz e carinho.
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