sábado, 4 de agosto de 2012

A CASA DE RILZA E ZÉ LUIZ


                      “Ao Senhor oferecemos o alimento que teremos” Era assim que iniciávamos o almoço na casa de Rilza e Zé Luiz. Depois da oração, em alegre e festivo momento degustar a comida deliciosa preparada por Rilza e prestar atenção na boa prosa de Zé Luiz, que sempre tinha coisas boas e alegres para dividir.
                      A essa época eu era aluno interno do Ginásio Anchieta de Silvânia – GO. Durante a semana tinhas minhas atividades normais como todos os demais alunos do internato, mas aos finais de semana desfrutava do imenso e único privilégio de ir para a casa de Rilza e Zé Luiz.  
                      O filho mais novo de Rilza e Zé Luiz, Luzo era meu colega de classe, estudávamos na mesma sala onde fazíamos a mesma série. De imediato ficamos amigos, como se fôssemos irmãos. Amizade que se estendeu quando comecei a freqüentar sua casa e fui acolhido como filho por Zé Luiz e Rilza.
                      Recordo como hoje aquela manhã chuvosa de sábado, depois das aulas, o primeiro fim de semana que passei naquela casa feliz da Rua Henrique Silva.  Um fato interessante e marcante aconteceu assim que cheguei.  A mãe de “Tia Rilza” e avó do Luzo, Vó Dalvina havia trazido ovos de tracajá, iguaria muito apreciada em sua terra natal, a cidade do Peixe - àquela época Goiás e hoje Tocantins. Perguntaram se eu aceitava e ao dizer sim, ainda falei que gostava muito – mesmo sem conhecer. Só que ao colocar na boca o tal ovo de tracajá, não fui com a cara nem com o gosto do petisco, e tentando disfarçar chamei o Luzo para visitarmos o quintal, onde eu poderia me livrar daquilo mais facilmente. Foi o bastante para que todos caíssem na risada e se divertissem com a minha falta de jeito e  inexperiência com a iguaria.
                      Daí para a frente foi somente alegria. A casa de Rilza e Zé Luiz passou a ser a minha casa em Silvânia. “Tio Zé Luiz” gostava de reunir a família e patrocinar  saraus, onde o violão e sua possante voz se sobressaiam. Era de uma alegria incomensurável e contagiante ouvi-lo  interpretando belas canções de Seresta. Embora Zé Luiz sofresse com seus reumatismos, sempre mantinha o bom humor.
                      Zé Luiz era Contador e fazia faculdade. Durante o dia, pela manhã dava expediente no Ginásio Anchieta e à tarde, no escritório que ficava na casa de sua mãe, Emerenciana (Vó Miçana). À noite, ao lado de outras pessoas, tomava o ônibus e dirigia-se à cidade de Anápolis – GO, onde se formou em direito, carreira mais tarde seguida pelo “primo” Luzo.
                      A paixão futebolística da família Gonçalves dos Santos eram Flamengo e Goiás Esporte Clube. Duas bandeiras no quarto “dos meninos” simbolizavam isso. Como eu era torcedor do Vila Nova, que naquela época ganhava tudo no goianão tínhamos bastante o que falar do assunto.
                      Mas bom mesmo eram os passeios de bicicleta. Luzo tinha a dele e eu me apoderava da que servia ao escritório de contabilidade, uma Monark barra circular azul. Passeávamos pelos arredores da cidade e na volta, buscávamos sempre um quintal da casa de algum amigo, onde encontrávamos pés de mangas, jabuticabas ou mexericas pokan carregados e generosos.
                      Luzo e eu éramos tão irmãos que até brigávamos. A maneira de irritá-lo logo descobri: bastava chamá-lo pelo apelido que suas irmãs o presentearam que se enfezava. Não raro nos estranhávamos, mas logo tudo era apaziguado pelo conselho e pela ternura de Rilza, que com seu sorriso de mãe tornava impossível que não fizéssemos as pazes. Coisa de irmãos.
                      Ao fim da refeição, vinha a sobremesa. O pudim era uma das especialidades de Rilza. Zé Luiz degustava com imenso prazer e satisfação.
                      “Ao Senhor agradecemos o alimento que tivemos” Era a oração final, o agradecimento a Deus pela dádiva do alimento que nunca faltou àquela mesa.
                      Hoje mesmo distante agradeço ao Pai o privilégio do convívio com a minha família de Silvania, quando aluno interno do ginásio Anchieta. Além de amor, carinho e ternura na casa de Rilza e Zé Luiz fui verdadeiramente acolhido como filho, o que permitiu minimizar a saudade que sentia de meus pais, que moravam na distante São Miguel do Araguaia.
                      Obrigado, Senhor, obrigado ao Pai, pela família que tive e tenho no coração – dos queridos Rilza e Zé Luiz!

2 comentários:

  1. É uma benção vc ta longe da sua família e ter pessoas assim de bom coração que nos acolhe, meu filho Lucas tb tem uma família assim la em Curitiba aonde ele mora.

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  2. Maravilha.. pessoas que nos acolhem em paz e carinho.

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