sexta-feira, 28 de setembro de 2012

POR CANTOS E ENCANTOS...


                Inegável a riqueza e variedade musical e cultural do brasil. Catiras de Goiás, congadas de catalão, o coco no nordeste, boi no Parintins e os maracatus do Pernambuco à  viola dolente do sertanejo que, em sua casa simples e sem conforto, busca aconchego na saudade, ao som de acordes e canções de amor – talvez busque a lembrança de amores perdidos.
                Na feira da pequena cidade do nordeste o repentista desfia nas cordas sua viola, característica acordes dolentes e ritmados, repetidos, e faz de sua arte a alegria das pessoas simples que ali passam.
                 No sul, a tradição gaucha, o bairrismo pode ser entendido como declaração de amor dos filhos da grande nação gaúcha. Em sentido contrário a cultura do norte, do Pará e da Amazônia retratam a alegria daquele povo.
                Dança da chula, congada, carimbó. Parintins, terno de coco, repente, cordel. Jorge Amado e Lins do Rêgo. Carmo Bernardes e Zé Mauro de Vasconcelos. Alencar e Machado. Feijoada, macunzá, tapioca, pamonhada. Cavalhadas e farricocos... Cantos e encantos do meu Brasil.
                Brasil demasiadamente rico em arte e cultura. A miscigenação das raças que o compõem leva a isso. Por todos os lugares o brasileiro é alegre, é artista, é musical.
                Meu Goiás querido tem seus cantos e encantos. Encantos de uma noite estrelada, com vagalumes a contrastar com a escuridão. Escuridão que muda quando a envolvente e prateada luz de uma lua maravilhosa surge no alto, beijando o chão, as árvores, a natureza.    
Lua inspiradora de canções. Culpada e cúmplice de amores e paixões. Lua cheia. Beija meu rosto, ilumina o sorriso da amada, traz acalento.
Cantos e encantos. O gemido da sanfona ecoa suave, terno. O violão, plangente. Serenatas, saraus, noites de canção e seresta. Olhares furtivos, mãos se tocando, se entrelaçando, beijos tímidos. Corações unidos em breve. Sonhos.
Cantos e encantos. Tanto a mostrar, tanto a descobrir... A mulher goiana encantando. Amores que só tem saudade do que não conquistaram. Vambora andar mais? “Vambora” andar por esta estrada que tem volta?
Ou mergulhar na saudade do pequeno recanto, dentro do coração. Depois passear no Rio Araguaia, de tanta saudade...
Declarar alto e bom som,  em forma de canção: Amo-te. “Amo-te nas sendas infindas das esferas e ao firmamento, céus e mares. Deus, se nos fez feliz, cantar ode à alegria, ao tempo forte”. Por onde eu for.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

PROGRAMA "CANTOS & ENCANTOS" AOS SÁBADOS, OITO DA MANHÃ



          Estréia neste sábado 29 na TV CAPITAL Goiânia Canal 32 e Net Canal 21 ou no www.tvcapitalgoiania.com o programa "Cantos & Encantos", dirigido e apresentado por Paulo Rolim.
          Presença do cantador Pádua, que interpeta a poética canção "mulher cigana" (Pádua/Chaul) e "Vambora andar" (Pádua/Juraildes da Cruz).
Os Karas Odaés Rosa e Tony Netto interpretam "Pequeno Recanto" (Odaés Rosa) E "Rio Araguaia" (Odaés Rosa).
          A parte musical encerra-se com a pesença de Chico Aafa, que desfila a belissima "Amo-te" de sua autoria, uma declaração de amor em forma de canção. E termina com "Por onde eu for" canção tema do programa.
           Ainda uma entrevista com o advogado, poeta e escritor Getulio Targino Lima, que discorre sobre seu trabalho frente à Academia Goiana de Letras, dentre outros assuntos, em animado bate papo.
           Prestigiem!


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

RECOMEÇOS... DE PRIMAVERA



Os últimos dias do inverno foram secos, quentes e abafados. Folhas caídas espalhadas pelo chão indicam renovação. Uma garoa chega na madrugada, como para limpar a poeira das folhas, preparando-as para a chegada da alegre primavera.
O canto das cigarras que foi surgindo tímido, ora aqui, ora acolá, agora é um vigoroso espetáculo de sons da natureza. E como é acalentador o canto das cigarras.
Já faz alguns dias que todas as manhãs, aos primeiros raios de luz, bem próximo à minha janela, dois sabiás me oferecem belo e enternecedor concerto.  Com seu canto dolente tocam o coração. Impossível não buscar a saudade guardada nos recônditos, nas lembranças da infância vivida nos quintais da Fazenda Nova America, da querida São Miguel do Araguaia ou da bela e acolhedora Silvânia.
 Ao canto dos sabiás, juntam-se ao longe o dos alegres e arteiros bem-te-vis em irregular diálogo sonoro. Bandos de pardais em seus vôos para lá e para cá parecem desafiar os “tizis” saltadores.  A natureza em suas manifestações traz nitidamente a alegria de seus filhos. Pássaros, arvoredos.
No meio da tarde, leve chuva, precedida por ventos mais intensos.  Apenas alguns minutos de chuva serviram para descortinar mais ainda o verde quase esquecido nas folhas das arvores. Folhas novas, acompanhadas de novas flores.
Primavera por chegar. Primavera que é necessariamente o recomeçar da vida. Tempo propício ao acasalamento das espécies. Ninhos construídos e muitos já ocupados. O cuidado das mamães e dos papais com as novas criaturas.
Flores de diversas cores e matizes. Breve serão frutos que alimentarão pássaros e animais, que hão de espalhar as sementes, propiciando a seqüência da vida em interminável ciclo.
Inverno, Primavera. Penso como às vezes mergulhamos em interminável inverno. Frio, seco, desesperançado. Inverno onde ficamos a mercê do ir e vir de ventos gélidos que tocam violentamente a face, doendo n’alma.
Em determinados momentos parece que brincamos de esconde-esconde com a felicidade, que teima em não permitir que a encontremos. Por mais que se busque e tente determinados sucessos, muitas vezes os esforços são infrutíferos e quase em vão. Dificuldades, sofrimento, mas ainda muita persistência.
Eis que de repente ventos bons de esperança descortinam em alegre primavera e deixam o triste inverno para trás. Passamos a ver poesia, a marcar encontros consigo mesmo, a sentir emoções esquecidas, a ter fé e certeza da vitoria. O que antes era tão difícil, barreira intransponível, rochedo íngreme e inacessível passa a ser apenas a cotidiana, rotineira e natural batalha pela vida. Nada mais que isso.
O canto dos sabiás, a chuva fina e tímida, os ventos mais frios e as folhas verdes nas arvores determinam a chegada da primavera. A mesma primavera cheia de alegria, fé, esperança e dias sempre melhores. Bem vinda, primavera. Da vida e das flores.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

MEU CORAÇÃO GOIANO TÃO NORDESTINO



                Meu coração é nordestino e nasceu em Goiás. Nasceu sob acordes de violão tocado por  meu Pai, Nezinho Américo, que sempre cantou e decantou seu nordeste querido.  Nasceu sob a égide da fé inabalável em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e no Padre Cícero, o “Padim Ciço” do Juazeiro, cujas estradas poeirentas davam no Crato, Vale do Cariri. Papai era do Crato, mais especificamente, no Barro, hoje cidade de Barros.
                Meu coração goiano é nordestino.  É nordestino da estirpe dos homens honrados e capazes. Nordestino da bela Cajazeiras “dos Rolim”, que segundo se afirma, ensinou a Paraíba a ler. Das pessoas que vivem no Vale Verde, que um dia viu nascer minha querida e saudosa mãe Elvira Rolim. Do vale verde das histórias que mamãe contava de sua infância. Vale Verde incrustado feito ouro na rocha, em meu coração.
Ah, coração nordestino. Coração que não abre mão da poesia falada nas noites emolduradas por belo luar, degustando delicioso Macunzá, Rubacão – ou baião de dois – sob o som de plangente violão.
Coração nascido em Goiás. Que apesar das alegrias e dos momentos de poesia não esquece os irmãos do sertão, que vivem terrível seca. A seca que tanto fala e combate o Padre Djacy Brasileiro. Brasileiro no nome, brasileiro na dedicação, no sacerdócio. Brasileiro que sai de seu sertão no Vale do Piancó e vai até as autoridades em busca de saída, de soluções para as dificuldades trazidas pela seca. Seca tão tristemente romanceada por Raquel de Queiroz, Jose Américo de Almeida, Zé Lins do Rêgo, dentre outros.
Mas o nordestino, já se disse: como todo brasileiro é antes de tudo um forte. Tão forte que, depois de um dia intenso de trabalho na lida do gado no terreno seco da caatinga, ou no dia a dia maluco das metrópoles, encontra animação e inspiração para, apesar da fadiga, tirar encantadores dobrados ao violão. Ao lado da pessoa amada.
Ah, meu coração goiano/nordestino. Paixão que se funde ao relembrar os versos do pavão misterioso, das rimas do cordel tão habilmente compostas por meu pai, ou no som da viola dos repentistas das feiras.
Ou na historia e canções de Luiz Gonzaga, matuto do Exu que saindo de lá tornou universal sua arte... Aquela sanfona branca. Apesar de na região, acharem que Januário era melhor que ele. E Luiz Gonzaga reconheceu isso.
Meu coração nordestino nasceu em Goiás. Nasceu aqui, mas não abrindo mão de um delicioso cuscuz e uma tapioca logo de manhã. Depois da merenda de frutas, um costelado com arroz, suficiente para esperar o jantar. Quibebe de leite com maxixe seria a opção da noite, ou então angu com leite e carne seca assada no espeto.
No progressista e belo estado de Goiás, temos o arroz com pequi, empadão de Goiás Velho, Cora Coralina, poesia de Chaul, vozes de Pádua e João Caetano, de Marcelo Barra e Fernando Perillo, os sons mágicos do piano de Belkiss, histórias de Carmo Bernardes e do goiano pernambucano Jean Pierre Conrad. O majestoso Araguaia, a arquitetura e as tradições de Goiás, Pirenópolis e Corumbá.  As belezas e o conforto das águas quentes.
Duas culturas, dois estados, meu pai, minha mãe, minha casa, meu Goiás. Em mim, lá e cá, um só coração.
Meu goiano coração orgulhosamente é nordestino, nascido em Goiás. Sob influência e bons exemplos de meu pai cearense e minha mãe paraibana.
Coração goiano. Coração nordestino. Ah, coração brasileiro.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

EVOLUÇÃO E CONSCIÊNCIA POLÍTICA DO BRASILEIRO

            Quase ao final da década de 1980 de uma hora para outra surge em todo o país o fenômeno Fernando Collor. Surge de forma avassaladora em um bem produzido programa de TV de seu partido, o desconhecido PRN, onde mostraram mazelas da administração pública como os estoques de milho que apodreciam nos silos, os famosos marajás - servidores de altos salários que muito ganhavam e pouco faziam - e escandalosos casos de nepotismo.


          O Brasil ainda se ressentia do trauma da morte de Tancredo e a conseqüente ascensão à Presidência da República de Jose Sarney, com seu jeito polido e adepto da “liturgia do cargo”. Acabara de ser promulgada a constituição cidadã e em todos os corações brotava esperança de um país social e economicamente justo.


            


  Ocorriam grandes transformações no mundo. A igreja Católica tinha um Papa não italiano depois de 455 anos, relativamente jovem que embora conservador, desfrutava de grande popularidade. 





 
No leste europeu, a Polônia convivia com o Sindicato Solidariedade, comandado por um sonhador chamado Lech Walesa e abria espaço para a democratização. 

Na até então impenetrável e misteriosa União Soviética Mikhail Gorbachev assumia o poder no meio da década, e trouxe ao mundo a elegância de sua esposa Raissa e palavras como Perestroika e Glasnost – cujo significado literal era reconstrução e transparência. 






Na fechada China, em local de nome significativo e emblemático - Praça da Paz Celestial - milhares de jovens protestavam e ousavam pedir democracia. O mundo se estarreceu quando um indefeso e frágil rapaz, de camisa branca enfrentou uma coluna de blindados, fazendo-o desviar da rota. As imagens correram mundo. 

                
 

 Michael Jackson lançava seu disco Thriller, que vendia aos montes, chegando ao ponto de haver lista de espera nas lojas. Enquanto no rock nacional a Legião Urbana encantava, Paulo Ricardo e os RPM’s faziam verdadeiras revoluções por minuto nos corações da juventude que lotavam ginásios de esportes e estádios país afora.

                Era grande o desejo de mudanças e consolidação da democracia. A decepção pelo fracasso do plano cruzado deixou em cada cidadão o desejo de um governo com ações rápidas e eficazes.
                E foi absorvendo esse desejo do povo que Collor chegou como um verdadeiro furacão. Jovem, com excelente retórica e de imediato - a partir do programa em rede nacional do PRN – conquistou adeptos em todo o país. Lembro como hoje a ansiedade de um político do interior ante a chegada da resposta da direção nacional para que pudesse fundar o diretório local. O restante da história todos já sabem. Collor foi eleito, gastou a única bala que tinha em um plano econômico e tempos depois foi cassado, voltando à cena política como Senador da República anos mais tarde.
                É inegável que o que deu o grande start na ascensão política em nível nacional de Fernando Collor foi o aproveitamento de sua retórica eficiente, conteúdo de acordo com o que a população queria ouvir, tudo isso veiculado no programa de seu partido em rede nacional de TV. Sem, isso, naquele tempo, Collor não teria tido sucesso.
                Há 30 anos tínhamos apenas veículos como a TV, rádio, jornais impressos – e revistas cujo preço as tornava inacessíveis. Hoje a informação chega por várias vias. Logo pela manhã é possível encontrar um enorme contingente de pessoas das mais diferentes idades e classes sociais de posse de um pequeno tablóide, que resume noticias dos jornais maiores e custa em média cinqüenta centavos de real. Ao celular é possível acessar via internet a uma infinidade de jornais, blogs e sites que trazem informação em tempo real. As redes sociais deixaram de ser apenas álbuns eletrônicos de fotos, tornaram-se eficazes canais de informação e compartilhamento de idéias. 
                Veículos tradicionais de comunicação não são mais exclusivos detentores da informação e da verdade. Tampouco, a massificação de um nome ou de uma causa, ou a forja de um líder carismático, conforme definiu Max Weber, não é mais empurrada goela abaixo. O cidadão não abre mão de pensar, conversar com as pessoas mais próximas e formar sua opinião.


 
O governo ao divulgar seus feitos, informa que a situação da educação, saúde e segurança está totalmente sob controle. Mas o cidadão nota a ausência do Estado quando vê bem perto dele o tráfico de drogas, assaltos e assassinatos; ou quando precisa dos serviços de saúde e descobre que a falta de profissionais ou insumos básicos é a verdadeira realidade. Isso quando tem a felicidade de não precisar de UTI. Cirurgias ortopédicas chegam a esperar um, até dois anos, com o paciente dormindo e acordando todos os dias vendo seu trauma físico se consolidar

                A visão real dos fatos, o acesso a redes sociais e o ingresso na educação superior mostram a politização e o nível de consciência do cidadão. Apesar da massificação da divulgação das ações governamentais – nem sempre de forma efetiva e verdadeira, algumas eivadas de promessas nem sempre factíveis - o cidadão percebe com nitidez as mazelas e as dificuldades que o afligem. Tais bombardeios de noticias o fazem desconfiar e seguramente alimentar o desejo de alijar da vida publica os governantes que lançam mão desses artifícios.