Os últimos dias do inverno foram secos,
quentes e abafados. Folhas caídas espalhadas pelo chão indicam renovação. Uma
garoa chega na madrugada, como para limpar a poeira das folhas, preparando-as
para a chegada da alegre primavera.
O canto das cigarras que foi surgindo
tímido, ora aqui, ora acolá, agora é um vigoroso espetáculo de sons da
natureza. E como é acalentador o canto das cigarras.
Já faz alguns dias que todas as manhãs, aos
primeiros raios de luz, bem próximo à minha janela, dois sabiás me oferecem
belo e enternecedor concerto. Com seu
canto dolente tocam o coração. Impossível não buscar a saudade guardada nos
recônditos, nas lembranças da infância vivida nos quintais da Fazenda Nova
America, da querida São Miguel do Araguaia ou da bela e acolhedora Silvânia.
Ao
canto dos sabiás, juntam-se ao longe o dos alegres e arteiros bem-te-vis em
irregular diálogo sonoro. Bandos de pardais em seus vôos para lá e para cá
parecem desafiar os “tizis” saltadores. A natureza em suas manifestações traz nitidamente
a alegria de seus filhos. Pássaros, arvoredos.
No meio da tarde, leve chuva, precedida por
ventos mais intensos. Apenas alguns
minutos de chuva serviram para descortinar mais ainda o verde quase esquecido nas
folhas das arvores. Folhas novas, acompanhadas de novas flores.
Primavera por chegar. Primavera que é
necessariamente o recomeçar da vida. Tempo propício ao acasalamento das
espécies. Ninhos construídos e muitos já ocupados. O cuidado das mamães e dos
papais com as novas criaturas.
Flores de diversas cores e
matizes. Breve serão frutos que alimentarão pássaros e animais, que hão de
espalhar as sementes, propiciando a seqüência da vida em interminável ciclo.
Inverno, Primavera. Penso como às vezes
mergulhamos em interminável inverno. Frio, seco, desesperançado. Inverno onde
ficamos a mercê do ir e vir de ventos gélidos que tocam violentamente a face,
doendo n’alma.
Em determinados momentos parece que
brincamos de esconde-esconde com a felicidade, que teima em não permitir que a
encontremos. Por mais que se busque e tente determinados sucessos, muitas vezes
os esforços são infrutíferos e quase em vão. Dificuldades, sofrimento, mas
ainda muita persistência.
Eis que de repente ventos bons de esperança
descortinam em alegre primavera e deixam o triste inverno para trás. Passamos a
ver poesia, a marcar encontros consigo mesmo, a sentir emoções esquecidas, a
ter fé e certeza da vitoria. O que antes era tão difícil, barreira
intransponível, rochedo íngreme e inacessível passa a ser apenas a cotidiana,
rotineira e natural batalha pela vida. Nada mais que isso.
O canto dos sabiás, a chuva fina e tímida,
os ventos mais frios e as folhas verdes nas arvores determinam a chegada da
primavera. A mesma primavera cheia de alegria, fé, esperança e dias sempre
melhores. Bem vinda, primavera. Da vida e das flores.
Lindo texto! Também fiquei mto feliz com a mudança dos últimos dias. Parece que até os pássarinhos tb ficam mesmo em festa qdo passa aquele tempo abafado e esquisito :)
ResponderExcluirGrande abraço!