Meu coração é nordestino
e nasceu em Goiás. Nasceu sob acordes de violão tocado por meu Pai, Nezinho Américo,
que sempre cantou e decantou seu nordeste querido. Nasceu sob a égide da fé inabalável em Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro e no Padre Cícero, o “Padim Ciço” do Juazeiro, cujas
estradas poeirentas davam no Crato, Vale do Cariri. Papai era do Crato, mais
especificamente, no Barro, hoje cidade de Barros.
Meu coração goiano
é nordestino. É nordestino da estirpe dos
homens honrados e capazes. Nordestino da bela Cajazeiras “dos Rolim”, que
segundo se afirma, ensinou a Paraíba a ler. Das pessoas que vivem no Vale
Verde, que um dia viu nascer minha querida e saudosa mãe Elvira Rolim. Do vale
verde das histórias que mamãe contava de sua infância. Vale Verde incrustado
feito ouro na rocha, em meu coração.
Ah, coração nordestino. Coração que não
abre mão da poesia falada nas noites emolduradas por belo luar, degustando
delicioso Macunzá, Rubacão – ou baião de dois – sob o som de plangente violão.
Coração nascido em Goiás. Que apesar das alegrias
e dos momentos de poesia não esquece os irmãos do sertão, que vivem terrível
seca. A seca que tanto fala e combate o Padre Djacy Brasileiro. Brasileiro no
nome, brasileiro na dedicação, no sacerdócio. Brasileiro que sai de seu sertão
no Vale do Piancó e vai até as autoridades em busca de saída, de soluções para as
dificuldades trazidas pela seca. Seca tão tristemente romanceada por Raquel de
Queiroz, Jose Américo de Almeida, Zé Lins do Rêgo, dentre outros.
Mas o nordestino, já se disse: como todo brasileiro
é antes de tudo um forte. Tão forte que, depois de um dia intenso de trabalho
na lida do gado no terreno seco da caatinga, ou no dia a dia maluco das
metrópoles, encontra animação e inspiração para, apesar da fadiga, tirar
encantadores dobrados ao violão. Ao lado da pessoa amada.
Ah, meu coração goiano/nordestino. Paixão
que se funde ao relembrar os versos do pavão misterioso, das rimas do cordel
tão habilmente compostas por meu pai, ou no som da viola dos repentistas das
feiras.
Ou na historia e canções de Luiz Gonzaga,
matuto do Exu que saindo de lá tornou universal sua arte... Aquela sanfona
branca. Apesar de na região, acharem que Januário era melhor que ele. E Luiz
Gonzaga reconheceu isso.
Meu coração nordestino nasceu em Goiás.
Nasceu aqui, mas não abrindo mão de um delicioso cuscuz e uma tapioca logo de
manhã. Depois da merenda de frutas, um costelado com arroz, suficiente para
esperar o jantar. Quibebe de leite com maxixe seria a opção da noite, ou então
angu com leite e carne seca assada no espeto.
No progressista e belo estado de Goiás,
temos o arroz com pequi, empadão de Goiás Velho, Cora Coralina, poesia de Chaul,
vozes de Pádua e João Caetano, de Marcelo Barra e Fernando Perillo, os sons
mágicos do piano de Belkiss, histórias de Carmo Bernardes e do goiano
pernambucano Jean Pierre Conrad. O majestoso Araguaia, a arquitetura e as
tradições de Goiás, Pirenópolis e Corumbá.
As belezas e o conforto das águas quentes.
Duas culturas, dois estados, meu pai, minha
mãe, minha casa, meu Goiás. Em mim, lá e cá, um só coração.
Meu goiano coração orgulhosamente é
nordestino, nascido em Goiás. Sob influência e bons exemplos de meu pai
cearense e minha mãe paraibana.
Coração
goiano. Coração nordestino. Ah, coração brasileiro.
lindo texto. parabéns
ResponderExcluirComo sempre seus textos tocando profundo nossos corações. Adoro, Lindo! Parabéns
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