sexta-feira, 14 de setembro de 2012

MEU CORAÇÃO GOIANO TÃO NORDESTINO



                Meu coração é nordestino e nasceu em Goiás. Nasceu sob acordes de violão tocado por  meu Pai, Nezinho Américo, que sempre cantou e decantou seu nordeste querido.  Nasceu sob a égide da fé inabalável em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e no Padre Cícero, o “Padim Ciço” do Juazeiro, cujas estradas poeirentas davam no Crato, Vale do Cariri. Papai era do Crato, mais especificamente, no Barro, hoje cidade de Barros.
                Meu coração goiano é nordestino.  É nordestino da estirpe dos homens honrados e capazes. Nordestino da bela Cajazeiras “dos Rolim”, que segundo se afirma, ensinou a Paraíba a ler. Das pessoas que vivem no Vale Verde, que um dia viu nascer minha querida e saudosa mãe Elvira Rolim. Do vale verde das histórias que mamãe contava de sua infância. Vale Verde incrustado feito ouro na rocha, em meu coração.
Ah, coração nordestino. Coração que não abre mão da poesia falada nas noites emolduradas por belo luar, degustando delicioso Macunzá, Rubacão – ou baião de dois – sob o som de plangente violão.
Coração nascido em Goiás. Que apesar das alegrias e dos momentos de poesia não esquece os irmãos do sertão, que vivem terrível seca. A seca que tanto fala e combate o Padre Djacy Brasileiro. Brasileiro no nome, brasileiro na dedicação, no sacerdócio. Brasileiro que sai de seu sertão no Vale do Piancó e vai até as autoridades em busca de saída, de soluções para as dificuldades trazidas pela seca. Seca tão tristemente romanceada por Raquel de Queiroz, Jose Américo de Almeida, Zé Lins do Rêgo, dentre outros.
Mas o nordestino, já se disse: como todo brasileiro é antes de tudo um forte. Tão forte que, depois de um dia intenso de trabalho na lida do gado no terreno seco da caatinga, ou no dia a dia maluco das metrópoles, encontra animação e inspiração para, apesar da fadiga, tirar encantadores dobrados ao violão. Ao lado da pessoa amada.
Ah, meu coração goiano/nordestino. Paixão que se funde ao relembrar os versos do pavão misterioso, das rimas do cordel tão habilmente compostas por meu pai, ou no som da viola dos repentistas das feiras.
Ou na historia e canções de Luiz Gonzaga, matuto do Exu que saindo de lá tornou universal sua arte... Aquela sanfona branca. Apesar de na região, acharem que Januário era melhor que ele. E Luiz Gonzaga reconheceu isso.
Meu coração nordestino nasceu em Goiás. Nasceu aqui, mas não abrindo mão de um delicioso cuscuz e uma tapioca logo de manhã. Depois da merenda de frutas, um costelado com arroz, suficiente para esperar o jantar. Quibebe de leite com maxixe seria a opção da noite, ou então angu com leite e carne seca assada no espeto.
No progressista e belo estado de Goiás, temos o arroz com pequi, empadão de Goiás Velho, Cora Coralina, poesia de Chaul, vozes de Pádua e João Caetano, de Marcelo Barra e Fernando Perillo, os sons mágicos do piano de Belkiss, histórias de Carmo Bernardes e do goiano pernambucano Jean Pierre Conrad. O majestoso Araguaia, a arquitetura e as tradições de Goiás, Pirenópolis e Corumbá.  As belezas e o conforto das águas quentes.
Duas culturas, dois estados, meu pai, minha mãe, minha casa, meu Goiás. Em mim, lá e cá, um só coração.
Meu goiano coração orgulhosamente é nordestino, nascido em Goiás. Sob influência e bons exemplos de meu pai cearense e minha mãe paraibana.
Coração goiano. Coração nordestino. Ah, coração brasileiro.

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