O Brasil ainda se
ressentia do trauma da morte de Tancredo e a conseqüente ascensão à Presidência
da República de Jose Sarney, com seu jeito polido e adepto da “liturgia do
cargo”. Acabara de ser promulgada a constituição cidadã e em todos os corações
brotava esperança de um país social e economicamente justo.
Ocorriam grandes transformações no mundo. A igreja Católica tinha um Papa não italiano depois de 455 anos, relativamente jovem que embora conservador, desfrutava de grande popularidade.
No leste europeu, a Polônia convivia com o Sindicato Solidariedade, comandado por um sonhador chamado Lech Walesa e abria espaço para a democratização.
Na até então impenetrável e misteriosa União Soviética Mikhail Gorbachev assumia o poder no meio da década, e trouxe ao mundo a elegância de sua esposa Raissa e palavras como Perestroika e Glasnost – cujo significado literal era reconstrução e transparência.
Na fechada China, em local de nome
significativo e emblemático - Praça da Paz Celestial - milhares de jovens
protestavam e ousavam pedir democracia. O mundo se estarreceu quando um
indefeso e frágil rapaz, de camisa branca enfrentou uma coluna de blindados,
fazendo-o desviar da rota. As imagens correram mundo.
Michael Jackson lançava seu disco Thriller, que vendia aos montes, chegando ao ponto de haver lista de espera nas lojas. Enquanto no rock nacional a Legião Urbana encantava, Paulo Ricardo e os RPM’s faziam verdadeiras revoluções por minuto nos corações da juventude que lotavam ginásios de esportes e estádios país afora.
Era grande o
desejo de mudanças e consolidação da democracia. A decepção pelo fracasso do
plano cruzado deixou em cada cidadão o desejo de um governo com ações rápidas e
eficazes.
E foi absorvendo
esse desejo do povo que Collor chegou como um verdadeiro furacão. Jovem, com excelente
retórica e de imediato - a partir do programa em rede nacional do PRN –
conquistou adeptos em todo o país. Lembro como hoje a ansiedade de um político do
interior ante a chegada da resposta da direção nacional para que pudesse fundar
o diretório local. O restante da história todos já sabem. Collor foi eleito, gastou
a única bala que tinha em um plano econômico e tempos depois foi cassado, voltando
à cena política como Senador da República anos mais tarde.
É inegável que o que
deu o grande start na ascensão política em nível nacional de Fernando Collor foi
o aproveitamento de sua retórica eficiente, conteúdo de acordo com o que a
população queria ouvir, tudo isso veiculado no programa de seu partido em rede
nacional de TV. Sem, isso, naquele tempo, Collor não teria tido sucesso.
Há 30 anos
tínhamos apenas veículos como a TV, rádio, jornais impressos – e revistas cujo
preço as tornava inacessíveis. Hoje a informação chega por várias vias. Logo
pela manhã é possível encontrar um enorme contingente de pessoas das mais
diferentes idades e classes sociais de posse de um pequeno tablóide, que resume
noticias dos jornais maiores e custa em média cinqüenta centavos de real. Ao
celular é possível acessar via internet a uma infinidade de jornais, blogs e sites
que trazem informação em tempo real. As redes sociais deixaram de ser apenas
álbuns eletrônicos de fotos, tornaram-se eficazes canais de informação e
compartilhamento de idéias.
Veículos
tradicionais de comunicação não são mais exclusivos detentores da informação e
da verdade. Tampouco, a massificação de um nome ou de uma causa, ou a forja de
um líder carismático, conforme definiu Max Weber, não é mais empurrada goela
abaixo. O cidadão não abre mão de pensar, conversar com as pessoas mais próximas
e formar sua opinião.
O governo ao divulgar seus feitos, informa que
a situação da educação, saúde e segurança está totalmente sob controle. Mas o
cidadão nota a ausência do Estado quando vê bem perto dele o tráfico de drogas,
assaltos e assassinatos; ou quando precisa dos serviços de saúde e descobre que
a falta de profissionais ou insumos básicos é a verdadeira realidade. Isso
quando tem a felicidade de não precisar de UTI. Cirurgias ortopédicas chegam a esperar
um, até dois anos, com o paciente dormindo e acordando todos os dias vendo seu
trauma físico se consolidar
A visão real dos
fatos, o acesso a redes sociais e o ingresso na educação superior mostram a
politização e o nível de consciência do cidadão. Apesar da massificação da divulgação
das ações governamentais – nem sempre de forma efetiva e verdadeira, algumas
eivadas de promessas nem sempre factíveis - o cidadão percebe com nitidez as
mazelas e as dificuldades que o afligem. Tais bombardeios de noticias o fazem
desconfiar e seguramente alimentar o desejo de alijar da vida publica os
governantes que lançam mão desses artifícios.
Excelente retrospecto da política nacional e internacional. O futuro do jornalismo tradicional também foi bem analisado, dando margem a se pensar em como lucrar com o jornalismo tradicional no futuro. Além da reflexão de que eleitor não é bobo.
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