quinta-feira, 28 de março de 2013

DE CICLOS... DEVERES...


                 Sentado no pequeno banco de madeira, olhando o titubear das chamas do fogo no fogão à lenha, o sertanejo põe-se a refletir. Uma canção ao longe a servir de fundo musical naquele momento. A canção que ecoava na humilde e simples casa, vinda de um velho rádio a pilhas que servia de companhia constante a todos dali.
                Estava calado, mas feliz. O ano fora bom. As chuvas, tímidas, o inicio, vieram no tempo certo, em quantidade e intervalos suficientes para que o arroz e o milho crescessem viçosos e produzissem bastante. Na hora da colheita, a satisfação de ver que o esforço não fora em vão. Que a fartura chegara.
                As últimas chuvas vieram fortes, a enchente de São José praticamente fecha o ciclo das chuvas, do “inverno” chuvoso do ano. Ainda podia ver ao longe as marcas da ultima chuva. O chão ainda parecia molhado e os desenhos na areia fina acumulada às margens da pequena estrada ainda permanecia intocado.
                Tinha a sensação do dever cumprido. O paiol cheio, a sala da casa cheia de sacos de mantimentos, ordenados até o teto da humilde choupana. Certeza do alimento para a família, para os animais da fazenda. Ainda sobraria um pouco para ser vendido, garantindo assim um pouco de dinheiro. Não era muito, mas à medida que se fizesse necessário, ia vendendo aos pouco o excedente da produção. Milho, arroz e feijão. Sem contar que no quintal, o mangueiro estava  cheio.
                Os ciclos da vida, pensava. Ciclos que se completam. Como o das aguas. Que todos os anos ao vir, traz a fertilidade, renovação da vida, fartura. É preciso apenas trabalhar a terra, o restante a mãe natureza faz. Ciclos. Que vão e vem.
                Como o ano fora bom, a colheita farta, pensava em fazer algumas melhoras na fazenda. Poderia começar por uma pintura na casa, uma reforma no curral e adquirir algumas reses e animais para a lida da fazenda. Planos, que seguramente em  breve implementaria. 
Outra canção no velho radio evoca uma saudade. Saudade dos tempos vividos, da mocidade, da juventude já um tanto distante. A canção traz a saudade ao mesmo tempo em que surge no horizonte bela e majestosa lua. Quase cheia, ainda crescente. Ladeada por estrelas tímidas. Noite clara... Noite de luz.
Observando como que encantado a lua, que aos poucos vai subindo no céu, põe-se a agradecer ao pai os resultados bons.  O árduo e difícil trabalho na roça não fora em vão. Sob o sol inclemente ou chuva intermitente não parara, continuara a lida, dera conta de tudo. O resultado aí estava.
O mugir tardio de uma rês no curral o traz de volta a realidade. O tempo passara rápido. O radio ainda a trazer canções.
Hora de dar o merecido descanso ao corpo. E com a lembrança da lua encantada daquela noite, foi buscar o carinho e os braços da amada.
Na sua simplicidade, estava pleno, feliz. Realizado. Amanhã, tudo recomeça. Mais um dia de trabalho. No interminável ciclo da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário