A lua, amada lua,
andou fugidia qual estrela na madrugada. Nuvens, de chuva ou não, teimavam em
impedir que ela mostrasse seu radiante e maravilhoso brilho.
Mas as nuvens
foram se indo, levadas pelo vento, tocadas pelo tempo e logo prevaleceu
majestoso e encantador clarão. Veio intensa, por trás das montanhas, imponente,
avermelhada, cheia de mistérios e encantos. Lua de todos, testemunha de amores,
cúmplice dos amantes e namorados apaixonados.
Lua que ao
derramar sua luz, inspira canções, poemas, acalenta sonhos. Paixões.
Lua que emoldura
lugares encantados. Que faz uma singela Vila Colonial, tornar-se ainda mais
bela e acolhedora. O som dolente da viola, tocada por mãos mágicas e ágeis,
fazia da trilha sonora caminho para o coração.
No fogão à lenha,
cheiro de pamonha quase pronta. Pessoas alegres, em alegre e ruidoso
festar. Comadres, compadres, crianças
brincando, meninas tímidas ninando suas bonecas. Carinho intenso. Momento de
viver a infância feliz, afinal, bonecas que um dia cairão no esquecimento e
talvez nem estejam em sua saudade.
A viola mágica dá
um tempo, faz pequena e necessária pausa. Hora de servir a pamonha. Mas não sem
antes aquele compadre e amigo apresentar uma “da pura”, de alambique, da terra,
feita ali mesmo. Reserva especial, especialmente deixada para aquelas ocasiões.
Pamonha, arroz doce, curau. Agora, que a viola momentaneamente se calou, o som ritmado
do monjolo dá o tom na noite.
Alegria,
confraternização. Um rapaz tímido se aproxima e, tomando coragem, tendo o
incentivo dos amigos, vai falar, diante de todos, com o pai de uma moça que
sonha namorar. Na verdade, tudo já está alinhavado com a mãe da menina. Como a
tradição e o respeito ainda imperam, tem que ser assim. Tímido, com receios,
toma coragem e recebe um quase sim, algo como “vou pensar”. É a senha, o que
quer dizer: sejam felizes, namorem, vivam a juventude, se amem.
Logo, estão ali, e
de mãos dadas, sob a luz da lua, a se conhecer, a se tocar suavemente, ainda a
espera da oportunidade do primeiro beijo. Amor, felicidade, vida.
A pamonha servida,
todos fartos, saciados. A viola mágica, plangente enche novamente a noite de
alegria, agora, acompanhada de um acordeom. Casais vão dançar. De repente, não
há mais espaço na varanda a Vila Colonial. Alegria presente.
A lua, no alto céu,
continua lentamente seu percurso. Parece sorrir ao presenciar o primeiro beijos
dos enamorados daquela noite. Primeiro de muitos beijos de amor, de carinho, de
ternura.
Apenas a lua por
testemunha. Apenas a lua. Sob o som mágico de encantada viola.
Paulo que texto lindo, profundo! Sinto uma nostalgia as vezes irreal. Ele me da uma saudade de algo que nunca vivi, mas que gosto de sentir, talvez pq vc escreve com coração e alma. E isso nos toca profundo, é tão bonito, é tão gostoso ler algo assim, singelo e ao mesmo tempo intenso, rico nos detalhes, Lua, Amor, confraternização, família... Tudo de bom! Parabéns vc com certeza nasceu para escrever e tocar nossos corações!
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