Há algum tempo
afirmei que “a vida é jornada, não destino”. Ensinamentos tirados de um velho
cartaz, em inglês, que um dia vi pregado me uma parede qualquer. Frase que me
acompanha por toda a vida.
A vida é
jornada... Não destino. Se aceitamos como sina as intempéries e agruras da
vida, os destinos desencontrados serão sempre renitentes, constantes.
Somos capazes sim
de mudar nossos rumos, trajetórias. Rumos que às vezes pedem mudanças de curso.
Radicais até. Somos nós quem sempre quem deve comandar o leme da vida. O timão
deve estar sob nosso pleno comando.
Vou aos recônditos
do coração, visito o tempo da minha infância, da minha meninice. Revivo minha trajetória.
Desde o menino sonhador, que esperava ansioso as tardes do domingo para ir ao velho
cinema até o pai de família, que continua sonhador. Do velho cinema, de poltronas
de madeira ao moderno “home theather”, existe uma longa trajetória percorrida.
Lembro que naquele tempo, após o cinema, ia para a praça, a pequena praça da
cidade onde morava. Hora de ver os amigos, conhecer pessoas, encontrar os
colegas de aula.
O tempo não volta.
E lembranças, recordações se perpetuam em imagens de saudade, cuidadosamente guardadas
na memória, no coração. Nada apaga o encanto de determinadas épocas. Passagens
da vida, trajetórias percorridas.
Um dia desses,
enquanto caminhava e corria em um dos belos parques da minha querida Goiânia,
uma cena me chamou a atenção: um casal, com uma pequena criança nos braços, em
uma barulhenta “mobillette” estacionou ao lado dos carros imponentes e
luxuosos do local.
Muito jovens, de
feições adolescentes, deixaram seu veiculo ali bem amarrado, trancado com
cadeado e se dirigirem ao amplo e bem cuidado gramado, onde outras crianças
brincavam e se divertia. Traziam uma colorida e imensa bola.
Depois de forrar
cuidadosamente o local com um lençol branco, onde a “menina-mãe” se acomodou, o
pai pôs-se a brincar com o filho, que seguramente não tinha dois anos ainda.
Apesar de muito
jovens, era nítido no semblante dos dois a alegria de dividirem aquele momento
de alegre convivência. Depois de brincar e correr, o bebê como que cansado,
resolveu buscar o colo da mãe, onde recebeu os cuidados e uma mamadeira.
Após o “jantar”
deixou-se ficar quietinho, deitado ao lado dos pais em velado e leve sono.
Enquanto isso, seus pais dedicavam extremo zelo e cuidado mútuo. Carinho,
ternura, doçura nos seus pequenos gestos. Beijos leves e mãos dadas, com o
olhar atento e cuidadoso no bebê.
Deixaram-se ficar ali bom tempo, naquele
namoro calmo, silencioso, onde parece que não havia necessidade de palavras
para que expressassem seu amor.
Ao completar minha
volta, notei que se preparavam para deixar o local. Juntaram os pertences em
uma bolsa, se aconchegaram como puderam na pequena e barulhenta “mobilette” e
saíram livres e tranquilos pela rua, iniciando a trajetória de retorno ao seu
lar, que pressuponho humilde, mas feliz.
O barulho estridente
do veículo ainda ecoa em meus ouvidos e traz à lembrança aquele momento. Momento
de ternura, de extrema felicidade.
Um jovem casal, em
sua trajetória de vida, buscando momentos de lazer, em uma noite quente da
minha querida Goiânia. A menina-mulher zelosa, de seu filho e de seu
companheiro. O rapaz, quase imberbe, cuidadoso, buscando felicidade em pequenas
coisas e gestos.
Impossível não me
emocionar e, do fundo do coração, desejar que aqueles jovens sejam felizes, que
lutem e deem ao filho tudo de bom que a vida possa oferecer. Mas que acima de
tudo, que continuem a dar a si e ao nenê, carinho, ternura, e amor e que a vida
permita que continuem sendo felizes. Muito felizes.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsse é o Américo nos prestigiando com belas crônicas, no rádio, na tv, no jornal e na web. Parabéns.
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