“Pecador,
agora é tempo, de contrição e de temor. Segue a Deus, despreza o mundo, já não
seja pecador”.
A voz forte e grave do Tio José Luiz (Gonçalves
dos Santos) ecoava nas ruas da pacata Silvânia, que nos anos 1980 era tranquila e boa de viver. A Silvânia dos tempos da minha distante e
saudosa infância.
Tio Jose Luiz puxava com seu canto mavioso
e dolente a imensa procissão, que pelas ruas dirigia-se à igreja matriz. Era a
procissão do Lava-pés.
A imponente matriz
aos poucos ia se enchendo de fiéis e parecia ficar pequena, não haver mais
espaço. O lava pés é um dos momentos mais sublimes e importantes da semana
santa. Repetia o gesto de humildade de Jesus Cristo, que também lavou os pés e
curou as feridas de seus apóstolos.
Após a cerimonia
do Lava-pés na Igreja Matriz, hora de se recolher em respeitoso silencio e veneração.
Não havia, como hoje, grandes veículos entupidos de som e com jovens a se
embriagar e a agredir o silencio e o respeito das pessoas. Silvânia
respeitosamente vivia e venerava a semana santa.
Iniciava-se ali a
vigília, onde entre orações e cânticos. Na sexta-feira, pouco se falava.
Novamente a matriz, a procissão do Senhor morto e Nossa Senhora da Senhora das
dores. A imagem percorria as ruas da cidade, venerada respeitosamente.
Depois, apenas as
orações. Na sexta-feira santa os sinos não tocavam.
Tudo mudava quando
chegava o sábado de aleluia. Era hora de preparar a alegria da festa da ressurreição do Senhor. Crianças ficavam meio ressabiadas, pois naquele tempo, tradicionalmente
os pais não batiam nos filhos durante o período da quaresma. Assim, eles
aproveitavam e se soltavam. Mas, no sábado de aleluia, ficavam ressabiados, pois
vai que um pai ou uma mãe havia guardado alguma travessura para “tirar” no
aleluia.
Havia a malhação
do Judas, um boneco cheio de balas e doces, que era simbolicamente destroçado,
como que a “vingar” a traição que um dia Jesus foi vítima.
Domingo, dia da
pascoa. Passagem. Momento de celebrar a ressurreição e a vida. Celebrar o amor e
a alegria. Doces, páscoa, chocolates. Doçura e alegria.
Hoje a semana
santa perdeu um pouco do valor que era dado nesse tempo da minha infância.
Prevalecem festas, viagens e diversão. Pouca ou quase nenhuma devoção e
reflexão. A tradição de não comer carne na sexta-feira santa sequer é
observada.
Tempos modernos.
Mas que não foram capazes de me fazer mudar conceitos a ponto de perder a fé e
as tradições. Que estão dentro de meu coração.
Votos de Feliz e
abençoada páscoa a todos.
Que linda! Acho que vc se superou desta vez! é como se eu visse desfilando nos meus olhos a minha infância, a casa da avó, a igreja do povoado (hoje cidade), a procissão... e as ameaças de "tirar a aleluia"no sábado! PARABÉNS! e conseguiu ainda dar um caráter de temor e de religiosidade ao texto!
ResponderExcluirDigno Mestre da Escrita!
ResponderExcluirTh Mann,em Morte em Veneza afirmava: "A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transforma-se completamente em sentimento, e o sentimento ue consegue transforma-se completamente em pensamento".
Faze-o com maestria,
Gratissimo
Felicissimo tempo de renovaçao e continue nos brindando com sabedora que somente o tempo ensina.
Gratissimo generoso amigo
José Carlos Bortoloti
Passo Fundo - RS -
www.epensarnaodoi.blogspot.com.br
Paulo, missa do lava-pés, marca o início dos três dias de celebração da Páscoa. Humildade, serviço e amor ao próximo. E vc nos presenteia com um belo texto que nos fala da importância desses 3 dias, dos valores, da família! Devemos pensar em nossos pecados, mudar algo em nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo. Parabéns, vc sempre supera expectativas e nos toca profundo com seus textos, Desejo a vc e sua família uma Feliz Páscoa com muito Amor, Paz e Fé! Abraço Edilene Paiva
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