sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

MUDANÇAS, RECOMEÇOS...


Há cerca de trinta anos que passo pelo lugar, que hoje é o Anel Viário de Goiânia, que se situa nos limites da capital com o vizinho município de Aparecida de Goiânia e ela está lá.
Comecei a passar por ali, quando ainda era estrada de chão, resquício de antiga estrada boiadeira. Trata-se de uma centenária Paineira, que muitos conhecem como Barriguda. Sobreviveu ao tempo. Inerte, impassível até.
Fico a imaginar quanta coisa essa árvore já viu.  Quanta história presenciou. Hoje, recebe impiedosamente o barulho e a fuligem dos carros que por ali passam. Pela imponência e pelo porte, já deu abrigo a muita gente. Deu guarida, sombra amiga e abrigo.
Foi pouso de peões de boiadeiro, que conduziam suas manadas e aproveitavam para ali passar a noite. Não há duvida que eram pousos animados, com cantorias de saudade, violões, histórias de onças e aventuras imaginarias e de assombração.
A velha Paineira ali está. Impassível, mas de aparência triste. O tempo, para ela, é indiferente. Tanto faz algumas décadas ou mesmo um ano. Continuou ali, mesmo diante das mudanças que se apresentaram.
Felizmente, nenhum administrador público ou gerente de companhia de limpeza urbana teve a ideia de removê-la, derrubá-la. Sobreviveu à mudanças que ocorreram em sua volta. Do antigo pouco de boiada, passando pelo movimento de pessoas e carros, até o hoje movimentado e perigoso anel viário.
Traço um paralelo entre a vida e a velha Paineira. Quantas vezes somos e agimos como a inerte e indiferente Paineira?
As mudanças ocorrem a todo momento e muito perto de nós. Mudanças que chegam e temos que ser capazes de percebê-las, ao contrário da velha e generosa Paineira.
Como por vezes, deixamos de contemplar a beleza do luar, a nostalgia em uma canção acompanhada por plangente violão. E a ternura que um casal de pássaros demonstra um ao outro, em suave enlevo, inocente e verdadeiro namoro.
Os dias passam de forma rápida. Implacavelmente rápido passa a vida. E sem viver e contemplar a beleza de um alvorecer, enfeitado por canto de bem-te-vis e pardais, sem se deliciar com a poesia e canção decorrente dos pingos de chuva no telhado, ou mesmo do encanto do encontro das ondar do mar com o continente, como perceberemos a beleza que a vida encerra?
Por vezes, adiar sonhos e projetos, também faz parte disso. É necessário, em nome da razão e da sobrevivência.
Ao longo dos nossos dias, não podemos ser inertes e ficar imóveis diante de tudo, como a Paineira da periferia de Goiânia.
Há muito, muito que se viver. Viver belezas, alegrias, saudades e reencontros. Que se transformarão novamente em momentos felizes.

Então, ter de volta a poesia. Ter de volta momentos de felicidade. De pura felicidade.

Um comentário:

  1. Com certeza uma das mais lindas crônicas que já li. Me fez voltar no tempo e relembrar outros lugares, outros tempo, outras histórias... Parabéns amigo Paulo por nos fazer emocionar.

    ResponderExcluir