sexta-feira, 25 de julho de 2014

NOVA MANHÃ, DE CASA NOVA




O despertar da manhã de domingo teve algo de diferente. Antes de abrir os olhos, bem de longe, sentiu na alma que o canto dos pássaros era outro. Não, não era o canto a que estava acostumado, quando por tantas vezes deixara-se enlevar, estendendo o tempo de permanência na cama tão somente para ouvi-los.
O canto, embora diferente, o despertou de maneira suave.  E, aos poucos, situou-se onde estava. Não em um lugar qualquer, tampouco estava sonhando. Estava sim em sua nova casa. A casa onde tanto sonhara estar.
Ainda com os olhos fechados permitiu-se continuar a ouvir a ritmada orquestra múltipla, onde todos tinham vez e voz. Canto diferente daquele da casa antiga, onde o canto de bem-te-vis e pardais concorria com o som de motores e de buzinas, indiferentes a quem estava ou não em seu leito.
Percebeu feliz que era o primeiro despertar na nova casa. A casa dos sonhos, planejada, sonhada e tão duramente conquistada. O lugar onde a felicidade e o amor haveriam de prevalecer.
Ao abrir os olhos, olhou para o lado e viu a companheira, a amada, de tantos anos vividos a dormitar. Em seu sono, parecia sorrir. Tinha no semblante a harmonia, tão presente em seu costumeiro sorriso. Naquele momento, sentiu imensa ternura, imenso carinho. E o coração bater mais forte. A amada, ainda que dormindo, parecia sorrir de felicidade.
O dia anterior não fora fácil. Logo pela manhã, começavam a fazer a “mudança”. Velhos móveis e velhas manias ficaram para trás. Lembrou que daquela cadeira, de tantos anos, degastada pelo tempo, que não viera. Era imposição da casa nova, afinal, velharias não combinavam. Sentiu certa saudade dela, afinal quantas vezes sentara ali e destoara sua voz, em saraus, noites de seresta, violões e canções românticas, tendo a lua a iluminar.
Ainda havia muito por arrumar, por colocar no devido lugar, mas logo tudo estaria em ordem. Com cuidado e leveza levantou, abriu a porta devagar e, ainda acostumando com o novo ambiente, foi até a cozinha.
Resolveu fazer um café, bem ao gosto da companheira, forte e com pouco açúcar. Fez com carinho. Viu que mesmo na correria, a amada havia feito um bolo, daquele que ele mais gostava.
Enquanto a agua fervia, pôs-se a pensar como continuariam a ser felizes ali, em seu canto, onde tanto sonharam estar.  Viu o netinho André correndo pelo quintal e a netinha que estava por vir, a brincar e se divertirem, e a presença dos filhos a encantar o lugar.
Viu o local onde fariam o jardim, onde as flores teriam destaque. Quem sabe orquídeas floresceriam e encheriam de beleza o lugar.
O café finalmente ficou pronto. Entre as divagações, resolveu que levaria para a amada, na cama onde ela ainda dormia. Mas faltava algo. Foi até a frente da casa e viu ali perto, em um lote baldio flores silvestres.
Com carinho as colheu e com café, bolo e muito carinho colocou na bandeja. E com ternura, convidou a amada a dividir o café da manhã. O primeiro da casa nova. Com amor, carinho e sonhos de felicidade. De pura felicidade!




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