A poesia sempre andou perto de mim, me arrodeou e jamais esteve longe.
Foi assim em meus primeiros momentos da vida. Quando descobri a leitura, e me
encantava com os versos de Gonçalves Dias, em sua “canção do exílio”, onde
dizia que “minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”. Perguntava-me, qual seria aquela terra, afinal, onde eu morava, a querida e saudosa Fazenda Nova América
também tinha palmeiras e em suas folhas, cantavam sabiás. Mas, me aquietava o
coração de menino de tenra idade, pois, ele no mesmo poema dizia que “as aves
que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”.
Entendia aquele “aqui” como o lugar em que todos os dias haviam manhãs
ensolaradas e tardes com ocasos maravilhosos. Como eram os da Fazenda Nova América.
Assim enveredei pelos caminhos mágicos dos livros e da leitura. Não havia
como fugir do encontro rotineiro com a poesia. Eu não desgrudava dos livros de
português e literatura, que traziam crônicas e poemas. Ali conheci Bandeira, Bilac, o próprio Gonçalves
Dias, Drummond, Augusto dos Anjos, Vinicius, dentre outros.
E de tanto me encantar, um dia resolvi compor meu próprio poema... Lembro
que eu mesmo o declamei, em uma homenagem às mães, na escola em que estudava.
Foi difícil. Diante da plateia, me senti pequeno, porém com muito esforço balbuciei
as palavras e consegui apresentar minha primeira obra. As palmas da plateia me
confortaram e saí dali feliz.
Na sequencia acabei sendo abraçado pela Diretora da escola e depois pela
minha querida mãe. Era ainda um pirralho, menino mirrado e já metido a poeta.
A adolescência me fez viver com maior intensidade a poesia. Era mais que
um lazer, tornara-se algo importante demais para mim. Além dos poemas dos livros,
a poesia manifestava-se em belas paginas da MPB. Assim, um dia me vi com um violão,
em busca de acordes e melodias, para encher de lirismo a vida. Fazia serenatas
e reunia amigos em rodadas de canções.
E o coração adolescente passou e ver poesia no sorriso da menina linda
que sentava perto de mim na escola, passou a ver poesia em noites de luar e nos
pingos da chuva que caiam sobre a terra.
O tempo passou, a vida seguiu, e embora tenha ficado muito e muitos anos
sem compor poemas, de algum tempo pra cá resolvi me atrever a buscar nos
recônditos momentos poéticos. Sem muita pretensão, afinal, estou muito longe de
ser um poeta. Escrevo apenas singelezas, simplicidades, coisas corriqueiras e
cotidianas.
Esta semana, revendo meus escritos, publicados em blog, tive certas surpresas.
Revi momentos de poesia, que cheguei a me perguntar se teria sido mesmo eu quem
a fez.
E fiquei mais feliz ainda, quando uma leitora me pediu em uma rede social
um “posso rouba-lo?” Rouba-lo no sentido de publicar em sua pagina, claro.
Disse de imediato que sim. E fiquei feliz, afinal, alcançara um objetivo: o de
tocar, de uma maneira ou outra o coração de uma pessoa. E, naquele momento,
senti que nunca fui dono do que escrevi. Como já disse Barthes em outra circunstancia,
a poesia é universal, não pertence ao seu criador, que apenas serve de
instrumento para que os corações se sintam tocados pela beleza de um momento
poético.
Então, que os corações sejam sempre tocados pela poesia!
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