A primavera bate à porta. Por toda a cidade, Ipês de variadas cores,
Cega-machados, Acácias, dentre outras maravilhas embelezam o caminho. O céu de
um azul claro e sem nuvens parece se abrir todo para que a claridade do sol não
encontre barreiras e ilumine o mundo, a vida.
Um sabiá laranjeira, desde os primeiros raios de luz, com seu canto belo
e elegante saúda a manhã, enchendo de encanto com sua sinfonia. Canto de sabiás
que recomeça assim que a tarde cai, que o sol baixa, e o calor começa a diminuir.
O canto desse sabiá às vezes é interrompido pelo barulho do carro de som
de um politico candidato, que se soubesse ou tivesse a sensibilidade de
entender que nesse horário, nesse momento há canto de sabiás, desligaria seus incômodos
equipamentos. E querer que certos políticos apreciem o canto de sabiás, seria
demais.
Esta semana, em uma tarde, tive um encontro com um grupo de crianças. Crianças
de nove, dez anos de idade. Partilhei com eles detalhes da minha infância, como
eram as brincadeiras na rua, nos quintais e os amigos. Como eram as casas, com
pequenos muros na frente e um portãozinho sempre destrancado.
Disse das tardes em que encontrava os amigos da vizinhança, para jogar
futebol com uma bola daquelas bem simples, feita por nós mesmos, de uma velha
meia ou algo parecido.
Das brincadeiras de cowboy, pique-esconde, ou quando ficávamos sob a
sombra das frondosas árvores do quintal a jogar conversa fora, a planejar sonhos
de futuro. O que sonhávamos ser quando adultos? Uns, seriam astronautas,
outros, cientistas, médicos, aviadores, pilotos de caça...
Havia um colega que queria ser apenas poeta. Justificava a escolha
dizendo que assim, poderia ser mais feliz. E fazíamos planos e planos. Alguns,
inverossímeis, outros nem tanto. Porém, o mais importante é que sonhávamos.
Falei sobre a praça – que não é praça de alimentação – florida e bem
cuidada, onde tinha uma maravilhosa fonte luminosa que além das cores que
encantavam, tocava melodias e canções. Do pipoqueiro amigo de todos, dos
vizinhos se encontrando e se confraternizando ali, na pracinha do bairro ao ar
livre, ao anoitecer. Vez em quando, a noite se emoldurava com bela lua cheia,
que parecia de deliciar com aquela harmonia.
A televisão àquele tempo, não era tão obrigatória. E éramos livres e
libertos de medos e temores de qualquer violência. O brinquedo preferido não era
iPad ou videogame. Éramos felizes assim, na simplicidade e na boa convivência. Amigos
de verdade, frente a frente, cara a cara. Não somente em sua maioria virtuais,
como hoje.
O canto do sabiá me traz de volta à realidade. Percebo que é hora de enfrentar
o transito pesado e ir à faculdade para mais uma noite de aulas.
E o coração continua a viajar na beleza das flores da minha
cidade, nas lembranças dos amigos de fé do meu tempo de criança. Daquele tempo
que, para mim, é tempo de gostosa saudade.
Em tardes quentes, de quase primavera...
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