O dia começou diferente. A noite anterior embora quente não fora tanto
quanto as anteriores. E a madrugada, foi de clima suave, bem mais ameno e
aconchegante.
O alvorecer, ainda com os últimos sinais da noite, na gênese do dia, onde
estrelas tímidas teimavam em permanecer no céu e a escuridão a se dissipar, vai
trazendo a luz do sol que, calma e insistentemente se sobrepõe. Os pássaros em
perfeita algazarra e animação dão o tom de alegria em sua orquestra matinal.
Parecem prever que hoje será diferente. Estão mais alegres, dispostos e em voos
rasantes, entre um trinar e outro.
Alguns estão em fase de acabamento de seus ninhos. Cantam felizes, como
que parecendo querer encantar a amada, quando irão perpetuar a espécie, no
ciclo venturoso e interminável da vida.
A manhã começa clara, porem, sem a presença total do sol. Um ligeiro
mormaço esconde a luz do astro-rei e prenuncia que haverá um clima diferente ao
final do dia.
Por volta de dez horas da manhã, apresenta-se uma brisa mais forte, que
ficaria ainda mais intensa após o meio dia. Ventos fortes que moviam os galhos
das arvores mais altas e fortes, derrubando algumas mangas temporãs eram prenuncio,
sinais, que a irmã-chuva tão sonhada e desejada nos últimos dias viria. Era
questão de tempo. De pouco tempo.
Os ventos em sua intensidade foram buscar nuvens mais densas e escuras.
No meio da tarde não havia mais duvidas: logo a terra estaria molhada.
E enfim, a irmã-chuva chegou. Trouxe com ela o vento frio que há muito não
sentíamos. Que há muito não apreciávamos. Eu confesso que me deliciei ao percorrer
o espaço entre onde estava e o carro, quando pingos fortes e vigorosos caíram sobre
mim, sobre minha cabeça, minhas costas. A camisa ficou molhada e eu me senti um
pouco aquele menino que, às primeiras chuvas, desobedecendo ao conselho dos
mais velhos, ia para o famoso banho de chuva, correndo e se divertindo nas
enxurradas que se formavam. Tempo feliz, que guardo com carinho no coração.
Agradeci ao Pai do Céu a dádiva daquele momento. É vida a se renovar pela
chuva que trouxe esperança e sensação de bem estar e fertilidade. E à noite –
não poderia ser diferente - dormi feito criança, ouvindo o barulho de pingos de
chuva sobre o telhado.
Na manhã seguinte vejo nos telejornais alguns estragos pela cidade. Mas é
reflexo daquilo que o homem provoca a si mesmo, desrespeitando as certas e elementares
leis da natureza, que sempre é muito generosa.
Os pássaros, como no dia anterior, repetiam a algazarra, nitidamente demonstrando
a felicidade da presença da irmã-chuva.
E ao partir para mais um dia de trabalho, tenho o prazer de sentir o cheiro
de terra molhada, de arvores com folhas bem verdinhas, sem poeira ou fuligem
sobre elas.
E foi respirando esse ar de alegria que comecei mais um dia, olhando as flores
do caminho, sentindo que a chuva chegou trazendo esperança. Quando a vida se
renova, nesse ar de quase primavera.
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