Finalmente, a nova morada que meu pai construiu ficou pronta. Uma casa
simples, feita de madeira e barro, que eram a tecnologia e os materiais disponíveis
naqueles tempos difíceis.
Era bem diferente da anterior, que construíra quando chegaram naquelas paragens.
Maior, possuía mais cômodos e tinha em anexo um local grande que meu pai
apelidara “casa de farinha”, onde havia um imenso recipiente de folha de zinco,
feito pelas mãos hábeis de um artesão.
Do lado de fora foi instalado um pequeno engenho de moer cana, feito de
madeira. Poderia ser movido por tração animal ou por braços fortes, dependendo do
tanto de cana que se fosse moer. Nada mal poder saborear uma garapa fresquinha,
tirada na hora para afastar o calor e matar a sede depois de um dia intenso de
trabalho,
Um pouco mais afastado, um cercado de lascas de madeira cuidadosamente
fixadas lado a lado. Ali seria um o mangueiro, para criação de porcos. Pertinho, goiabeiras e abacateiros quase em ponto
de florada e as mangueiras plantadas há pouco, pequenas ainda. Logo, seria um
pomar grande, cheio de frutos deliciosos e com sombra à vontade.
Mas o que me encantara foram as telhas de barro, feitas por meu pai. Eram
de um vermelho vivo e intenso, da cor da terra. De longe se podia avista-las e
davam colorido especial ao lugar.
Antes de mudar meu pai construiu alguns móveis simples, feitos de forma
rudimentar, tudo com zelo, carinho e cuidado.
Chegado o dia, primeiro vieram as criações. Galinhas, alguns patos e uma
legião de porcos, trazidos em uma carroça feita especialmente para isso. Tudo observado
pelos fieis cães “Veludo e Rompe-ferro” e pela cadela Jaguar – que segundo meu
pai, só faltava falar.
No meio daquela manhã de sol brilhante e clima quente o fogão novinho,
coberto por barro branco começou a ser usado. Dali sairia em breve arroz, feijão
e costela de vaca, deliciosos. Tudo feito com um tempero único: carinho e amor
de minha mãe.
O tempo passou, as primeiras chuvas vieram, juntamente com o plantio da
roça e as colheitas. A casa resistiu bem e foi a segura moradia da família, até
que deixássemos a Fazenda Nova América.
Ainda estão vivas em mim, em meu coração as lembranças desse dia. Do primeiro
dia e da primeira noite na morada simples, feita pelos braços de meu pai.
No inicio da noite, nos postamos de joelhos diante do pequeno oratório da
sala, agradecendo ao criador a dádiva recebida.
Após o jantar, o “violão alguém trouxe” e sob o olhar atento das crianças
e o sorriso de encanto de minha mãe, papai dedilhou aquelas cordas mágicas e delas, retirou com o coração acordes e canções.
Em noite de lua, cheia de felicidade e sons de violão, com amor, carinho
e alegria, era assim a inesquecível Fazenda Nova América.
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