Nos últimos dias, ou nos últimos meses a
palavra mais pronunciada e o bem mais desejado foi a chuva. O calor intenso que
nos acompanhava por todo o dia, invadia madrugadas longas e era companhia
constante. Assunto que tomou conta dos noticiários do radio, da TV e dos
jornais e motivo de debates nas redes sociais.
A mãe natureza, há anos vem dando seus
gritos de dor, em seus estertores. A agua, até então pouco observada e tida
como algo tão comum e cotidiana como o ar que respiramos, tem se tornado um bem
raro, e as grandes cidades começam a sentir sua falta.
Impossível pensar como as grandes represas,
os grandes reservatórios poderiam chegar ao ponto que chegaram. E de forma tão
rápida, abrupta. E ao contrario do que foi preconizado na canção popular, o mar
começou a virar sertão.
Felizmente, nos últimos dias, ainda que de
forma tímida, a irmã-chuva deu o ar da graça. Não o suficiente para que torne
os reservatórios novamente plenos e cheios, mas ao menos o calor impiedoso que
nos afligia amenizou. Os dias e as noites se tornaram mais confortáveis.
E assim como a água, a poesia me andou
fugidia, escassa, longe de mim. Custei a reencontrar o veio poético, o caminho
das flores e da inspiração, tão presentes nos últimos tempos da minha vida.
Mas, de mansinho e sem alarde, encontrei dentro do coração o que tanto me fez
falta.
A poesia para mim é necessária, importante,
vital. Refrigério para a alma que nutre o coração e acalenta o viver. Começa ao
amanhecer, nas ultimas sombras da madrugada e com as primeiras cores do
alvorecer.
Está no canto dos pássaros, nas luzes do
horizonte, no encanto de uma manhã. No olhar e no sorriso da amada, em seu bom
dia, no café forte e quente que degustamos, quando nos permitimos estar juntos.
O meu, forte e com pouco açúcar, e o dela, um pouco mais adocicado.
E ainda na manhã, perceber a poesia nas flores
- rosas, orquídeas, lírios e nas pequenas e encantadores bailarinas cuja brisa
torna seu bailado ainda mais cheio de encantos.
Com tudo isso, a alma e o coração ficam
plenos. É hora de partir para um novo dia, para uma nova batalha e um novo
percurso. A luta pela sobrevivência.
No caminho, entre pensamentos, a alegria da
presença da irmã-chuva que em pequenos pingos toca leve e suavemente o para-brisa
do carro. É a renovação da vida, a volta da alegra e da felicidade. Que
coincide com a volta da poesia.
Assim, seja bem vinda, irmã-chuva. Seja bem
vinda, Poesia!
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