A primavera se foi. Levou consigo o clima suave, de manhãs e tardes
amenas e fagueiras. E eis que chegou o verão. Verão de pouca chuva, de dias
longos e muito calor.
Mas, as flores continuam a embelezar minha cidade. Vejo que após a beleza
dos ipês-rosa, das acácias que enfeitavam e emolduravam a paisagem das
avenidas, vieram os ipês-amarelos, os flamboyants e mais recentemente, as
quaresmeiras.
Os flamboyants enfeitam e encantam as avenidas. Em tons vivos e fortes de
vermelho, alaranjado, amarelo, e outras cores que somente a natureza sabe dizer
o tom, trazem beleza que se acentua com o deslizar dos pingos de chuva sobre o
vidro do carro.
A chuva, depois de um veranico longo, dá sinais de ter vindo pra ficar. E
parece que incentivou os flamboyants a colocarem cachos e mais cachos de flores
únicas.
As manhãs de sol tornaram-se belas, enquanto o céu cheio de nuvens indica
que teremos chuva no período da tarde. Chuvas que às vezes vem forte, com muita
enxurrada alagando as ruas. E a resposta da mãe-natureza àquilo que o homem faz
com ela.
E em uma dessas manhãs de verão, no decorrer da semana, uma cena me
chamou a atenção. Andando pelas ruas de Goiânia, mais precisamente na região do
Parque Amazônia, próximo a uma rotatória vejo um senhor de brancas cãs, a empurrar
uma pesada carroça, cheia de plásticos e papeis para reciclagem.
Me condoí daquela situação. Um senhor já de idade, que aparentava menos
força do que aquela carga exigia. Porém, seu rosto embora marcado e castigado pelos
anos, demonstrava placidez, serenidade. Não trazia ares de revolta ou
desassossego. Seguia seu mister, sua jornada puxando a pesada e difícil
carroça.
Observei que ele parou em frente a um imponente edifício e passou a mexer
nos entulhos. De repente, um funcionário uniformizado daquele prédio vem até
ele e traz uma garrafinha de água, o que parecia ser uma roupa usada e alguns embrulhos
que imaginei fossem alimentos. Ele agradeceu efusivamente e percebi que ficou
mais feliz ainda quando o rapaz depois de ajudar a colocar em sua carroça os
recicláveis, deu uma forcinha na saída da carroça, para que ele seguisse em
frente.
Confesso que fiquei emocionado com a cena. E me pus a pensar: de que vale
a beleza de tantas flores, de tantos edifícios bonitos e confortáveis, de
carros luxuosos pelas floridas ruas, sem solidariedade?
O rapaz de uniforme deu esse exemplo. Exemplo de solidariedade e amor ao
próximo. Conversou, brincou e por instantes demonstrou ser amigo, independente
da condição desse senhor que em sua jornada, buscava a sobrevivência, a garantia
de pão em sua mesa, o alimento para a família.
Continuei meu caminho, mas durante todo o dia fiquei a recordar o que vi.
E me senti melhor. Afinal, se existem flores na bela e encantadora Goiânia,
existe acima de tudo solidariedade e amizade.
Que nos é tão cara e importante. Que nestes dias de feriado, de descanso,
possamos refletir sobre o partilhar do amor e da fraternidade. Assim, nosso
mundo, nossa vida, nossa cidade serão bem melhores.
Com flores, e as cores da solidariedade.
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