A semana na Fazenda Nova América foi movimentada. Começou com a colheita
de mandioca na roça, onde meu tio Marcelino com uma enxada e com os braços
fortes arrancava as raízes e deixava-as para que um senhor, que ajudava meu pai
eventualmente, separasse as raízes e as deixasse em um pequeno monte, onde meu pai
as recolhia e enchia os jacás, que eram conduzidos pelo velho e manso cavalo.
Daí, levava para a “casa de farinha”, situada à margem da estrada que ia
para a casa de meu avô, onde varias mulheres descascavam e deixavam-nas prontas
para serem moídas na barulhenta máquina, tocada à mão.
Era um serviço pesado e difícil. Depois de moída, a massa era colocada em
uma espécie de rede, de onde era retirada a água, que resultava no polvilho.
A seguir era colocada em uma grande prensa, que terminava o serviço de
retirada da agua. Ficava ali de um dia para outro, quando enfim seguia para a
casa da fazenda, onde meu pai passava dois dias torrando aquilo que seria uma
farinha branquinha e bem feita.
Foram cerca de quatro dias nessa labuta. depois de torrada a farinha e
seco o polvilho, eram acondicionados em sacos branco.. O trabalho valera à pena
e no sábado, quando o jipe do Zé Tucano aportou na sede da fazenda, saiu pesado
e cheio. Percebi no semblante de meu pai uma sensação de dever cumprido, de obrigação
feita.
Agora, a movimentação era no terreiro. Era divertido ver aquele número
imenso de galinhas e frangos, sendo atraídos pelo milho farto jogado. Os maiores
e mais bonitos eram separados em uma casinha fechada que havia ali perto, para
que fossem levados para a cidade. Ouvi minha mãe dizer: “esse não vai, quero
deixa-lo para galo”.
À noite, o tradicional encontro da família na porta da casa, com meu pai
e suas canções ao violão e minha mãe a declamar poemas.
No outro dia, domingo, bem cedinho minha mãe me chamou para o café da
manhã, composto de tapioca com manteiga, leite e os deliciosos biscoitos de
nata, que ela mesmo fazia. Mandou que eu me arrumasse, pois iriamos até a
pequena cidade, ali pertinho, para assistirmos à missa e visitarmos umas
pessoas.
Eu me arrumei mais ou menos, mas fui ajudado por uma de minhas irmãs, que
com carinho e muito cuidado, me ajudou a vestir uma roupinha limpinha, penteou
meus cabelos e ainda me deu um beijo carinhoso.
Fomos em uma grande comitiva, montados a cavalo. O burrico do meu tio Marcelino
levava dois jacás cheios de frangos. Papai
e eu íamos no manso e obediente alazão. Eu todo cheio de si na lua da sela, sob
os cuidados de meu pai.
Chegando à cidade, entregamos os frangos na pensão de Dona Altina e fomos
para a igreja agradecer ao Senhor a fartura da colheita, a saúde da família e a
dádiva e a alegria de estarmos ali. Frutos do trabalho árduo, os produtos da
fazenda, garantiriam a sobrevivência da família.
Depois da missa, minha mãe e minhas irmãs foram visitar alguns
familiares, e eu acompanhei meu pai ali pelo comércio, onde ele recebeu o valor
da venda da farinha e do polvilho, e pagou alguns compromissos no armazém do
Felão e do Seu Jovino. Nos reunimos e voltamos para a fazenda.
Foi um festivo e alegre almoço de domingo, com frango caipira, arroz com
açafrão, macarrão e de sobremesa, rapadura novinha.
Assim seguia a vida na Fazenda Nova
América. Embora pouco tivéssemos, muito éramos felizes. O amor, a dedicação e o
carinho mútuo eram o que nos movia. E trazia felicidade. Imensa felicidade.
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