O tempo mudou bruscamente. De um mormaço que permaneceu boa parte do dia para
o tempo fechado, com nuvens baixas e escuras, foi tudo muito rápido. E a chuva
veio no meio da tarde. Veio intensa, acompanhada de ventos fortes, com pingos
grossos e em algumas partes da cidade, com granizo, pequenas pedras de gelo.
Isso me lembrou a minha a infância, onde ao lado dos amigos fazíamos a festa
com as pequeninas pedras de gelo que vinham bater no pátio do colégio onde
estudávamos. Ficávamos a nos perguntar como é que poderia vir do céu aquele
gelo, tão pequeno e na maioria das vezes, em grande quantidade. E a imaginação
de criança viajava.
Deixando as lembranças de infância, me concentro na chuva que cai em pingos
grossos, que descem pelo telhado e vêm de encontro às plantas que ornamentam a
minha varanda.
O vento, fazendo com que samambaias, avencas e outras plantas desenvolvam
coreografia imperfeita, em um balé sem simetria, onde o ir e vir das plantas
parecia teimar e resistir ao vento, desobedecendo-o. Não raro uma ia parar no
chão, tal a força da intempérie.
No noticiário da TV, ao inicio da noite, o resultado deixado pela
tempestade na cidade: árvores caídas, ruas alagadas e alguns bairros sem
energia elétrica.
Penso que, definitivamente a natureza, mesmo em sua imensa sabedoria não
se preparou para a existência de metrópoles. O homem veio acabando com tudo,
desmatando, acabando com aquilo que ela em milhares, ou milhões de anos fez com
que acontecesse.
E o tempo da mãe natureza não é o tempo dos homens. Milhões de anos podem
ser necessários para que determinado fenômeno ocorra, aconteça.
E o homem, apressado e insano na maioria das vezes derruba florestas,
muda cursos de rios, acaba com vegetação nativa e ainda cobre tudo com concreto
e asfalto. E a mãe natureza reage. Sem ter para onde ir ou se refugiar, acaba
voltando para o lado do homem, com grande volume de agua, na forma de
enchentes, ventos que crescem e viajam sem que encontrem a resistência das
árvores. Isso quando não ocorrem das doenças, pelo fato do desequilíbrio
ecológico dos ecossistemas, proliferando essa ou aquela espécie.
Ainda assim, apesar do homem maldoso e imprudente, a natureza resiste,
embora não se saiba até quando ou o que pode acontecer.
Na manhã do dia seguinte e essa chuva, vi o quanto é preciso cuidar
daquilo que ainda nos resta. Ao fazer uma pequena viagem, sai de casa bem cedo,
e assim pude ver a beleza da chegada de um novo dia. A despedida dos últimos momentos
da noite, ao fim da madrugada e a chegada lenta da luz majestosa do rei sol.
A manhã se descortinava majestosa e bela, à medida que o carro avançava.
O verde da vegetação emoldurava a estrada e trouxe-me uma certeza: o quanto a
natureza é forte, apesar de tudo o que se faz com ela.
Cheguei ao meu destino com a alma leve. A manhã de encantos ainda
permanecia.
O concluí que o homem deve valorizar sempre a beleza de uma manhã, mesmo
depois de uma chuva intensa, com ventos fortes.
A natureza, tal como a vida, é bela. Sempre muito bela!
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