No início dos anos 1980
quando cheguei em Goiânia vindo do interior, fui morar no centro da cidade, na Rua
Três, na companhia de meu irmão, em uma pequena e acanhada edícula. Naqueles tempos
difíceis, de segunda a sábado trabalhava duro na lanchonete do extinto Supermercado
Alô Brasil, que ficava próximo ao Mutirama, e aos domingos a rotina era estudar
de acordo com aquilo que a escola exigia e ouvir canções, ou compor algum poema
singelo.
Com o tempo, comecei a
frequentar o Estádio Serra Dourada. Era bacana ir aos domingos à tarde assistir
os jogos da “geral”, bem perto do gramado, sempre na companhia do meu saudoso
primo Delerito, servidor da justiça estadual e torcedor do Goiás “roxo” e “doente”.
Assistíamos às as emoções
que só um clássico Vila e Goiás pode proporcionar lado a lado, em frente às
cabines de rádio. Ele com sua camisa verde e eu com a minha colorada. Terminado
o jogo, voltávamos a pé até o centro, onde Delerito pegava o ônibus para o
Conjunto Cachoeira Dourada e eu ia para meu pequeno canto. Incluía nesse
trajeto a pé uma parada em um carrinho de ambulante na praça do cruzeiro, onde
degustávamos aquele cheiroso e fumacento espetinho de gato, acompanhado de uma
coca-cola de garrafinha ks, bem gelada.
O tempo passou e os estádios
de futebol foram ficando cada vez mais distantes para mim. Embora eu continue
acompanhando futebol, feliz com a temporada de 2017 do Vila Nova e esperançoso
que em 2018 possamos ir para a Série A, lugar onde o Vila Nova, pela sua
torcida e tradição merece estar.
Quanto aos estádios, a última
vez que assisti um Vila Nova e Goiás foi em 1993, decisão do campeonato estadual,
onde o Vila se sagraria campeão. Àquela época, a violência já estava presente e
crescente, inclusive com torcidas ditas organizadas se engalfinhando ao final do
espetáculo futebolístico.
Dali em diante, não
tive mais coragem de assistir a um clássico entre as duas equipes. E a violência
foi só aumentando, com notícias de mortes
a cada embate entre as duas equipes – o que
deveria ficar somente no campo desportivo e dentro de campo – foi para as arquibancadas,
terminais de ônibus e setores distantes, onde a violência e a guerra de ditos
torcedores continuava. Recentemente, foi estarrecedor ver um pai com a filha
ainda criança nos braços assustado, tentando fugir da onda de brutalidade que
corria pela arquibancada, onde torcedores adversários e policiais travavam um
embate violento.
Nesta semana, o
presidente do Vila Nova, o jovem Ecival Martins, teve a grandeza, elegância e
delicadeza de convidar publicamente o presidente do Goiás Esporte Clube para a
cerimônia de sua aclamação e posse. O fato foi bastante comentado na imprensa
esportiva e eu, daqui tive a esperança que a partir deste gesto simbólico o
futebol voltasse a ser de paz e se pudesse voltar a viver momentos onde poderia
assistir a um clássico ao lado de um amigo que ostentasse as cores do adversário.
Mas, embora o
presidente do Goiás, Dr. Marcelo Almeida tenha aceitado o convite e confirmado presença,
a partir de uma declaração contrária do presidente do conselho deliberativo
colorado tudo se esvaeceu.
É alvissareiro ver atitudes
que fomentam a paz e a harmonia no futebol, como fizeram Ecival Martins e Marcelo
Almeida
A harmonia e a paz
precisam voltar de maneira natural ao futebol. Penso que a presença do Dr. Marcelo
na posse do presidente colorado seria um grande exemplo que o embate deve ficar
sempre em campo nas quatro linhas e durante o jogo, sempre de maneira leal e
correta.
Porém o sonho durou
pouco. Mas que sirva de exemplo a atitude dos presidentes das duas maiores equipes
de Goiás. O futebol arte e a harmonia agradecem.
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