sábado, 9 de dezembro de 2017

SINAIS DE PAZ – AINDA QUE TÊNUES – NO CAMPO DO FUTEBOL



No início dos anos 1980 quando cheguei em Goiânia vindo do interior, fui morar no centro da cidade, na Rua Três, na companhia de meu irmão, em uma pequena e acanhada edícula. Naqueles tempos difíceis, de segunda a sábado trabalhava duro na lanchonete do extinto Supermercado Alô Brasil, que ficava próximo ao Mutirama, e aos domingos a rotina era estudar de acordo com aquilo que a escola exigia e ouvir canções, ou compor algum poema singelo.
Com o tempo, comecei a frequentar o Estádio Serra Dourada. Era bacana ir aos domingos à tarde assistir os jogos da “geral”, bem perto do gramado, sempre na companhia do meu saudoso primo Delerito, servidor da justiça estadual e torcedor do Goiás “roxo” e “doente”.
Assistíamos às as emoções que só um clássico Vila e Goiás pode proporcionar lado a lado, em frente às cabines de rádio. Ele com sua camisa verde e eu com a minha colorada. Terminado o jogo, voltávamos a pé até o centro, onde Delerito pegava o ônibus para o Conjunto Cachoeira Dourada e eu ia para meu pequeno canto. Incluía nesse trajeto a pé uma parada em um carrinho de ambulante na praça do cruzeiro, onde degustávamos aquele cheiroso e fumacento espetinho de gato, acompanhado de uma coca-cola de garrafinha ks, bem gelada.
O tempo passou e os estádios de futebol foram ficando cada vez mais distantes para mim. Embora eu continue acompanhando futebol, feliz com a temporada de 2017 do Vila Nova e esperançoso que em 2018 possamos ir para a Série A, lugar onde o Vila Nova, pela sua torcida e tradição merece estar.
Quanto aos estádios, a última vez que assisti um Vila Nova e Goiás foi em 1993, decisão do campeonato estadual, onde o Vila se sagraria campeão. Àquela época, a violência já estava presente e crescente, inclusive com torcidas ditas organizadas se engalfinhando ao final do espetáculo futebolístico.
Dali em diante, não tive mais coragem de assistir a um clássico entre as duas equipes. E a violência foi só aumentando,  com notícias de mortes a cada embate entre as  duas equipes – o que deveria ficar somente no campo desportivo e dentro de campo – foi para as arquibancadas, terminais de ônibus e setores distantes, onde a violência e a guerra de ditos torcedores continuava. Recentemente, foi estarrecedor ver um pai com a filha ainda criança nos braços assustado, tentando fugir da onda de brutalidade que corria pela arquibancada, onde torcedores adversários e policiais travavam um embate violento.
Nesta semana, o presidente do Vila Nova, o jovem Ecival Martins, teve a grandeza, elegância e delicadeza de convidar publicamente o presidente do Goiás Esporte Clube para a cerimônia de sua aclamação e posse. O fato foi bastante comentado na imprensa esportiva e eu, daqui tive a esperança que a partir deste gesto simbólico o futebol voltasse a ser de paz e se pudesse voltar a viver momentos onde poderia assistir a um clássico ao lado de um amigo que ostentasse as cores do adversário.
Mas, embora o presidente do Goiás, Dr. Marcelo Almeida tenha aceitado o convite e confirmado presença, a partir de uma declaração contrária do presidente do conselho deliberativo colorado tudo se esvaeceu.
É alvissareiro ver atitudes que fomentam a paz e a harmonia no futebol, como fizeram Ecival Martins e Marcelo Almeida
A harmonia e a paz precisam voltar de maneira natural ao futebol. Penso que a presença do Dr. Marcelo na posse do presidente colorado seria um grande exemplo que o embate deve ficar sempre em campo nas quatro linhas e durante o jogo, sempre de maneira leal e correta.
Porém o sonho durou pouco. Mas que sirva de exemplo a atitude dos presidentes das duas maiores equipes de Goiás. O futebol arte e a harmonia agradecem.


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