sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

COTIDIANO, AMOR, FRATERNIDADE





Todos os dias, quando as primeiras luzes da manhã começam a vencer a madrugada, já estou de pé. Enquanto passo o café, me enterneço com o canto dos pássaros – que estão em sua maioria sumidos à esta época, certamente cuidando dos filhotes que chegaram – ou com o barulho de chuva caindo calma e lentamente.
Na varanda, próximo ao fogão à lenha, o velho e eficiente rádio Philco TransGlobe – que apesar de estar precisando de ajustes e de uma visita a um técnico amigo – traz a saudade de volta nas canções do estilo “sertanejo raiz que me levam aos tempos de infância na querida e saudosa Fazenda Nova América.
Enquanto isso me delicio com o café fumegante, servido em generosa quantidade. Aprecio o aroma perfeito do pó comprado na feira e moído na hora, agora transformado em deliciosa e estimulante bebida. E contemplo a simbiose perfeita dos entes da natureza presentes em meu quintal, que não foi vencido pelo concreto, com pássaros a voar para lá e para cá, barulho de chuva ou claridade de sol de manhã que chega.
Mas é hora de partir para as responsabilidades, e ao adentrar a casa me deparo com a TV em lugar nobre da sala, e a impositiva vontade de liga-la é automática. Afinal a TV exerce intensamente seu fascínio e às vezes torna-se impossível resistir e continuar vendo-a desligada, muda, impassível.
Mas os assuntos que dominam as primeiras horas do dia na programação televisiva não são agradáveis. Embora eu entenda que a sociedade deve ser sempre informada de tudo o que acontece em nossa cidade, em nosso país ou mesmo no mundo, há uma tendência forte em priorizar a tragédia em série, especialmente aquela em que o sangue derramado domina.
Confesso que é doloroso ver jovens recém-saídos da adolescência estirados no chão, sem vida, ou mesmo algemados, quando se postam diante das câmeras com certo ar de arrogância – talvez precisem mostrar aos parceiros do mundo do crime que são destemidos – e com a única certeza que o futuro que os espera não será dos melhores.
A TV poderia mostrar, além da violência crescente, outros assuntos que certamente haveriam de dar audiência. Mas talvez por comodismo ou por imposição, as editorias preferem priorizar a violência cotidiana.
Diariamente, a vida nos coloca frente a desafios que precisamos vencer para sobreviver. E com isso, a dura rotina se impões e acabamos escravizados.
Em sentido inverso, esta semana eu vivenciei uma situação que me fez refletir, pois considerei um ato de amor e generosidade. Ao convidar um conhecido professor para uma entrevista na Rádio Bandeirantes Goiânia, ao informá-lo que seria ás 14 horas, ele disse que nesse horário não poderia.
Pensei que a justificativa viria por um compromisso relativo a seu trabalho, dada a sua importância no contexto cultural de Goiás, porém ele informou que todas as sextas-feiras almoça com suas irmãs – cinco – e que faz tudo para que esse encontro aconteça. Com simplicidade e elegância, disse que poderia ir em qualquer outro dia ou horário, menos na sexta-feira às quatorze horas, pois esse almoço semanal com quem tanto ama era muito importante.
Obviamente que após consultar a produção, mudamos o horário da entrevista para as quinze horas e acabou sendo uma das grandes audiências do programa. Depois disso, fiquei dias a pensar na atitude de amor e carinho que esses irmãos têm entre si. Que belo exemplo de fraternidade.
Apesar da violência que insiste em nos chegar pelos diversos canais de comunicação, o amor e a fraternidade sempre terá lugar em nossos corações. Vejam esse exemplo de encontro em um almoço entre familiares que se amam - e que nada impede que aconteça.
Assim, posso concluir que ainda há muito o que se observar, seguir como exemplo e comemorar em nosso mundo.



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