Todos os dias, quando
as primeiras luzes da manhã começam a vencer a madrugada, já estou de pé.
Enquanto passo o café, me enterneço com o canto dos pássaros – que estão em sua
maioria sumidos à esta época, certamente cuidando dos filhotes que chegaram –
ou com o barulho de chuva caindo calma e lentamente.
Na varanda, próximo ao
fogão à lenha, o velho e eficiente rádio Philco TransGlobe – que apesar de
estar precisando de ajustes e de uma visita a um técnico amigo – traz a saudade
de volta nas canções do estilo “sertanejo raiz que me levam aos tempos de
infância na querida e saudosa Fazenda Nova América.
Enquanto isso me
delicio com o café fumegante, servido em generosa quantidade. Aprecio o aroma
perfeito do pó comprado na feira e moído na hora, agora transformado em
deliciosa e estimulante bebida. E contemplo a simbiose perfeita dos entes da
natureza presentes em meu quintal, que não foi vencido pelo concreto, com pássaros
a voar para lá e para cá, barulho de chuva ou claridade de sol de manhã que
chega.
Mas é hora de partir
para as responsabilidades, e ao adentrar a casa me deparo com a TV em lugar
nobre da sala, e a impositiva vontade de liga-la é automática. Afinal a TV
exerce intensamente seu fascínio e às vezes torna-se impossível resistir e continuar
vendo-a desligada, muda, impassível.
Mas os assuntos que
dominam as primeiras horas do dia na programação televisiva não são agradáveis.
Embora eu entenda que a sociedade deve ser sempre informada de tudo o que
acontece em nossa cidade, em nosso país ou mesmo no mundo, há uma tendência forte
em priorizar a tragédia em série, especialmente aquela em que o sangue
derramado domina.
Confesso que é doloroso
ver jovens recém-saídos da adolescência estirados no chão, sem vida, ou mesmo algemados,
quando se postam diante das câmeras com certo ar de arrogância – talvez precisem
mostrar aos parceiros do mundo do crime que são destemidos – e com a única
certeza que o futuro que os espera não será dos melhores.
A TV poderia mostrar,
além da violência crescente, outros assuntos que certamente haveriam de dar audiência.
Mas talvez por comodismo ou por imposição, as editorias preferem priorizar a violência
cotidiana.
Diariamente, a vida nos
coloca frente a desafios que precisamos vencer para sobreviver. E com isso, a dura
rotina se impões e acabamos escravizados.
Em sentido inverso,
esta semana eu vivenciei uma situação que me fez refletir, pois considerei um
ato de amor e generosidade. Ao convidar um conhecido professor para uma
entrevista na Rádio Bandeirantes Goiânia, ao informá-lo que seria ás 14 horas,
ele disse que nesse horário não poderia.
Pensei que a
justificativa viria por um compromisso relativo a seu trabalho, dada a sua
importância no contexto cultural de Goiás, porém ele informou que todas as
sextas-feiras almoça com suas irmãs – cinco – e que faz tudo para que esse
encontro aconteça. Com simplicidade e elegância, disse que poderia ir em
qualquer outro dia ou horário, menos na sexta-feira às quatorze horas, pois
esse almoço semanal com quem tanto ama era muito importante.
Obviamente que após
consultar a produção, mudamos o horário da entrevista para as quinze horas e
acabou sendo uma das grandes audiências do programa. Depois disso, fiquei dias
a pensar na atitude de amor e carinho que esses irmãos têm entre si. Que belo
exemplo de fraternidade.
Apesar da violência que
insiste em nos chegar pelos diversos canais de comunicação, o amor e a
fraternidade sempre terá lugar em nossos corações. Vejam esse exemplo de
encontro em um almoço entre familiares que se amam - e que nada impede que
aconteça.
Assim, posso concluir
que ainda há muito o que se observar, seguir como exemplo e comemorar em nosso
mundo.
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