No inicio dos anos 1980, pouco tempo depois de ter chegado em Goiânia para
morar definitivamente, havia ainda o medo e a presença ostensiva do pensamento
do regime militar, ainda que soprassem os ventos da sonhada redemocratização do
país.
Ainda havia o medo! Medo de, por um motivo ou outro ser considerado
subversivo ou agitador. Mas, a resistência e a sede de democracia começavam a
tomar forma e volume, e as reuniões de vários grupos, sejam anarquistas,
comunistas ou de correntes políticas aceitas à época, eram frequentes.
O PDT de Brizola começava tomar
corpo em Goiânia, na figura do advogado Aureolino Neves e muitos partidos
começavam a mostrar a cara de seus militantes.
Mas, a situação, apesar da anistia poucos anos antes, não era fácil. Lembro que
para apresentar uma peça de teatro infantil, como “O rapto das cebolinhas”,
de Maria Clara Machado, como era necessário oficiar a policia federal e obter
um carimbo no oficio com o destaque “autorizo” e uma chamegada da caneta de um
agente publico.
O clamor da sociedade cresceu e veio o movimento das “diretas já”.
Partidos políticos, entidades religiosas, de classe, e toda a
sociedade brasileira esteve unida no sonho.
Foi bonito, foi emocionante ver as praças cheias, os palanques lotados e a
motivação tomar conta dos brasileiros. Artistas do porte e com a carreira de
Milton Nascimento e seus parceiros compuseram canções como “Nova Republica”, onde
expressavam a sede de democracia e liberdade.
A pressão obteve êxito, mas de forma parcial. Os militares aceitaram
entregar o poder aos civis, mas em eleição indireta, onde o novo presidente da
republica seria escolhido pelo congresso nacional.
Era uma situação que precisou habilidade política. Depois de tanto tempo de obscurantismo, aceitou-se
a distensão de forma lenta e cautelosa. Os candidatos à Presidência da República eram dois. Representava àquele
momento o passado Paulo Maluf e o futuro, a liberdade, era vista na candidatura de Tancredo Neves.
Todos sabem o resultado daqueles momentos. Tancredo adoeceu às vésperas da posse, vindo a
falecer posteriormente e tomou posse o vice-presidente eleito, Jose Sarney.
O tempo passou e em 1989 o até então desconhecido Fernando Collor de
Melo utilizou bem a nova ferramenta que permitia a exposição de seu partido na TV, o desconhecido PRN, e
venceu ao então candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde então temos eleições regulares e os eleitos, cumpridas as
exigências da legislação eleitoral tomam posse e governam sob a égide da democracia.
Em 2014, tivemos certamente a eleição mais disputada de todos os tempos
da republica. E um festival de baixarias, de ânimos acirrados, tanto dos
candidatos, como dos militantes. Nos debates, onde todos tiveram tempo e voz
por igual, surgiram vozes que expuseram seu ponto de vista, mesmo que considerados
retrógrados ou mesmo homofóbicos, mostrando extremismo religioso e ideias
afins. Mas, eleitor soberanamente
mostrou seu voto e definiu mais uma vez os rumos do pais, deixando dois
candidatos para a disputa do segundo turno.
Hoje, temos um fenômeno de informação e ao mesmo tempo, um local que se
tornou campo de batalha, terra de ninguém. Trata-se das redes sociais. Ali, até
anonimamente, ataca-se a honra, a injuria corre frouxa e o respeito e a
elegância ficam para trás. Houve militantes afirmando que iriam embora do país
se determinado candidato ganhasse, se não fosse o de sua preferencia. Absurdas,
deselegantes e inadmissíveis posturas.
Ao final das eleições, quando divulgados os resultados, notou-se uma
disputa voto a voto, muito acirrada, sendo sempre muito próximos os números de
cada candidato.
Nota-se uma enxurrada de idiotices nessas propaladas redes sociais.
Primeiro, estimula, ou tentam estimular a divisão do país em dois, o que votou
na candidata Dilma e o que votou no candidato Aécio Neves. Culpam erradamente
programas de inclusão como o bolsa família, cuja ideia e aplicação surgiu
justamente em Goiás, no primeiro governo de Marconi Perillo. Programa que foi copiado,
ampliado e otimizado pelo governo federal.
Para alguns, a reeleição na presidência é continuísmo, mas para
governador, não é. Contrassenso e paradoxo desnecessário.
As eleições transcorreram sob a égide do sistema democrático. E o
resultado, ainda que fosse por apenas um voto de diferença, refletiria a
vontade da maioria, o que prevê e garante o sistema democrático.
O Brasil tem grandes desafios a ser enfrentados, dificuldades para superar
e objetivos a alcançar. Não temos dois brasis.
Mesmo que contrariados com a derrota de seu candidato, o certo é esperar quatro
anos, trabalhar no campo das ideias e fazer valer seus argumentos diante do
eleitor, de acordo com a democracia.
Golpismo, deselegâncias e teorias conspiratórias em nada acrescentam.
Somos apenas um país, que cresce, tem futuro e depende de nós para que seja
cada dia mais forte.
Portanto, viva o eleitor brasileiro. Venceu e prevaleceu a vontade da
maioria, seja nos estados ou em nível federal. Vivas à democracia! Respeite-se
a vontade do eleitor!
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