sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O BAR DO CARMO


(homenagem aos amigos do Cantina Ville)

                Carmo é um saudosista. Entre uma cerveja e outra que abre, atendendo seus clientes diários encontra tempo e nostalgia para viajar na estampa da camiseta de um cliente qualquer, onde vislumbra um lugar um dia esteve. “Estrada real, de Petrópolis?” pergunta, já passei por lá.
                Entre uma conversa e outra, sempre encontra jeito  para contar histórias de quando tinha um lavajato em Goiânia, no Setor Marista. Talvez o primeiro especializado em atendimento de qualidade, atendimento onde havia a preocupação em chamar o cliente de Senhor, em marcar e cumprir rigorosamente o horário da entrega do carro, primorosamente limpo ao cliente.
                Carmo é um perfeccionista. Não aceita o mais ou menos. Preocupa-se com mínimos detalhes de seu pequeno comercio, situado em um bairro de periferia. As preocupações vão desde o piso em declive da parte externa do bar ao bem estar de seu cliente. E preocupa-se também com a qualidade do que faz - desde o torresmo – cartão de visitas aquele que vem ao local pela primeira vez, como cortesia – até o caldo de franco caprichosamente feito pela sua esposa, Dona Sandra.
                Carmo, embora dedicado e extremamente comprometido com a rotina e qualidade do seu barzinho, gosta mesmo é de falar de seu canto, ou de seu recanto, a fazenda onde passou a maior parte da vida, juntamente com a família.
                Conta com detalhes a lógica perfeita do madeiramento do telhado da casa da sede da fazenda. Não obstante a força dos ventos e as chuvas muitas vezes generosas e intensas da região, afirma que há mais de cinqüenta anos o sistema resiste.
                Não é um madeiramento qualquer, mas uma obra de arte, um perfeito entrelace de diversas espécies de madeiras, como Angelim vermelho, Peroba Rosa, Angico, dentre outros. “Chama a atenção a estrutura”, diz ele.
                Não obstante esteja no ramo do comercio na cidade grande, Carmo sabe que seu tempo por aqui é pré-determinado. Veio juntamente com a esposa para a cidade grande, abandonou a vida da fazenda, que em certos momentos se fazia difícil, mas no fim resultava sempre prazerosa., Veio para que pudesse acompanhar o filho em seus estudos.
                Assim que o rebento puder seguir seu caminho, certamente voltará para a vida pacata e serena da fazenda. E torce que essa etapa chegue logo.
                Assim, Carmo vai vivendo e levando a vida de acordo como ela exige dele. Espera ansioso chegar o natal. As leitoas o esperam.
                Daqui, do cantinho simples e humilde, enquanto atende seus clientes e abre mias uma cerveja, Carmo conta os dias e as horas. Conta as horas para a reunião alegre e festiva da família na noite de natal.
                               Hora de confraternizar a agradecer ao Pai do Céu o ano que se finda. Embora esteja na cidade grande, Carmo não se desapega se seu torrão, de seu canto querido. E sonha envelhecer e continuar a vida ali, sendo feliz ao lado de quem tanto ama.

3 comentários:

  1. Conheci o personagem em questão, Carmo! Tudo que Paulo contou é real e vale a pena conhece-lo, gente de bem!

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  2. Ummm. Fiquei na vontade de comer uns torresminhos. Cerveja gelada do lado, é claro. Quem sabe um dia eu descubro de onde fica a tal comércio.

    Américo sempre atento.

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  3. Nossa!!!!Muito bom o artigoo!!!!

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