Tem dias que marco encontro comigo mesmo.
Em raros momentos consigo ficar ensimesmado, a cismar, mergulhado nos
escaninhos e nos recônditos do meu coração e da minha alma.
Não sei definir a minha solidão. Não seria
sofrimento nem momentos de tristeza. Ou de falta de alguma coisa. É viagem
interior mesmo.
Em momentos de pura solidão viajo na
saudade. Compareço aos bons momentos vividos, aos tempos da infância e da
juventude não tão distante. Revivo tudo em rápidos lampejos oscilando de um
tempo a outro da vida.
Assim como a saudade, a solidão é cantada e
decantada em versos e trovas. Canções de amor inexoravelmente trazem a palavra
embutida em seus versos apaixonados. Saudade e solidão, dizem, andam juntas.
Imerso em minhas elucubrações reencontro
nesses momentos as pessoas queridas que a vida me trouxe. Meus pais, meus
irmãos e irmãs, no tempo em que vivíamos juntos, a primeira infância na Fazenda
Nova América, depois a distante São Miguel do Araguaia, a minha vinda pra
cidade grande, o primeiro amor.
Ah Solidão. Conheço pessoas cercadas de
amigos e que se dizem solitárias. Que encontram a si mesmas quando estão
sozinhas. Também tenho muito amigos e pessoas que me acompanham sempre. E ainda
assim às vezes estou só.
Andando pelas ruas de Goiânia vi situações
de absoluta solidão na pequena menina Simone, que vende balas nos semáforos da
cidade. Absolutamente sozinha e desprotegida quando se aproxima dos veículos de
vidros fechados. Apesar das negativas ela não desiste. Vendo sua solidão de
criança, de ausência de infância, me pergunto: quem será a pequena Simone das
manhãs frias de Goiânia?
Quando menino, filho caçula e bem mais novo
que meu irmão me acostumei com as brincadeiras solitárias sob a sombra das
mangueiras, no amplo quintal da Fazenda Nova América. Brincava sozinho ouvindo
o canto dos pássaros e o ruído do vento nos galhos. Ficava muito tempo ali até
que ouvia minha mãe chamar. Corria para casa em busca de abrigo no colo
materno.
Cresci e a vida trouxe responsabilidades. A
rotina diária me absorve e quase não vejo o dia passar. Na volta pra casa, na
solidão do meu carro, as canções do radio confortam a alma. Minimizam o stress
do trânsito.
Chego ao meu cantinho no Setor Faiçalville
e fico ainda algum tempo só. A família somente chega depois. Hora de olhar para
o meu quintal, para o pé de goiaba florido, para o pé de manga carregado e com
os galhos vergados pelo peso dos frutos que logo, logo estarão maduros e
saborosos, brincar com meu cachorro e agradecer a dádiva da vida.
Solidão às vezes passa a ser sinônimo de
viagem ao meu ser, ao meu eu interior. Mas peço às pessoas que amo que nunca,
jamais, me deixem sozinho na caminhada da vida.
Ah... Solidão! As vezes um suplício, as vezes um alívio!
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