segunda-feira, 16 de julho de 2012

SOLIDÃO


Tem dias que marco encontro comigo mesmo. Em raros momentos consigo ficar ensimesmado, a cismar, mergulhado nos escaninhos e nos recônditos do meu coração e da minha alma.
Não sei definir a minha solidão. Não seria sofrimento nem momentos de tristeza. Ou de falta de alguma coisa. É viagem interior mesmo.
Em momentos de pura solidão viajo na saudade. Compareço aos bons momentos vividos, aos tempos da infância e da juventude não tão distante. Revivo tudo em rápidos lampejos oscilando de um tempo a outro da vida.
Assim como a saudade, a solidão é cantada e decantada em versos e trovas. Canções de amor inexoravelmente trazem a palavra embutida em seus versos apaixonados. Saudade e solidão, dizem, andam juntas.
Imerso em minhas elucubrações reencontro nesses momentos as pessoas queridas que a vida me trouxe. Meus pais, meus irmãos e irmãs, no tempo em que vivíamos juntos, a primeira infância na Fazenda Nova América, depois a distante São Miguel do Araguaia, a minha vinda pra cidade grande, o primeiro amor.
Ah Solidão. Conheço pessoas cercadas de amigos e que se dizem solitárias. Que encontram a si mesmas quando estão sozinhas. Também tenho muito amigos e pessoas que me acompanham sempre. E ainda assim às vezes estou só.
Andando pelas ruas de Goiânia vi situações de absoluta solidão na pequena menina Simone, que vende balas nos semáforos da cidade. Absolutamente sozinha e desprotegida quando se aproxima dos veículos de vidros fechados. Apesar das negativas ela não desiste. Vendo sua solidão de criança, de ausência de infância, me pergunto: quem será a pequena Simone das manhãs frias de Goiânia?
Quando menino, filho caçula e bem mais novo que meu irmão me acostumei com as brincadeiras solitárias sob a sombra das mangueiras, no amplo quintal da Fazenda Nova América. Brincava sozinho ouvindo o canto dos pássaros e o ruído do vento nos galhos. Ficava muito tempo ali até que ouvia minha mãe chamar. Corria para casa em busca de abrigo no colo materno.
Cresci e a vida trouxe responsabilidades. A rotina diária me absorve e quase não vejo o dia passar. Na volta pra casa, na solidão do meu carro, as canções do radio confortam a alma. Minimizam o stress do trânsito.
Chego ao meu cantinho no Setor Faiçalville e fico ainda algum tempo só. A família somente chega depois. Hora de olhar para o meu quintal, para o pé de goiaba florido, para o pé de manga carregado e com os galhos vergados pelo peso dos frutos que logo, logo estarão maduros e saborosos, brincar com meu cachorro e agradecer a dádiva da vida.
Solidão às vezes passa a ser sinônimo de viagem ao meu ser, ao meu eu interior. Mas peço às pessoas que amo que nunca, jamais, me deixem sozinho na caminhada da vida.

Um comentário:

  1. Ah... Solidão! As vezes um suplício, as vezes um alívio!

    ResponderExcluir