O primeiro contato que tive com os bancos escolares foi na grande sala da casa onde morava na Fazenda Nova América. Ali, de forma bastante simples e rudimentar, em determinada época do ano meu pai reunia os filhos dos agricultores da vizinhança – alguns adultos incluídos – e mantinha uma escola rural onde ministrava em alguns dias da semana, sempre à tarde, aulas de alfabetização e do ensino fundamental.
No inicio, devido à minha pouca idade, meu pai não permitia que eu freqüentasse a improvisada e lotada sala de aula. Porém devido ao meu grande interesse pelo que se passava por lá, foi deixando que eu assistisse às aulas, para logo não mais se importar.
Não havia aulas todos os dias, apenas duas ou três vezes por semana. Era para que não atrapalhasse - ou atrapalhasse menos - o trabalho na roça daqueles alunos. Afinal, não poderiam faltar braços nas lavouras e naquele tempo, o alimento resultante do cultivo da roça era mais importante que aprender a ler e escrever.
Houve casos que meu pai teve que ir pessoalmente à casa dos alunos e pedir que o pai não os obrigasse a deixar a escola, pois um dia precisariam do conhecimento e dos estudos. Muitas vezes era em vão, os pais não poderiam prescindir dos braços de seus filhos na roça. Depois, até voltavam, mas por pouco tempo. Assim, embora alguns abandonassem muitos aproveitavam a oportunidade, talvez única naqueles rincões e buscavam, apesar das limitações e dificuldades de aprendizado, absorver da melhor forma possível o que meu pai procurava transmitir.
Ocorreu um fato interessante comigo naquele tempo. Minha mãe teve que passar um período na Capital para tratamento de saúde e eu a acompanhei. Fomos acolhidos em um colégio de freiras, onde também havia uma escola. Ali vi o descortinar de outro mundo para mim. Foi com o carinho, paciência e boa vontade da Irmã Izabel que entrei em contato e passei a entender rapidamente o mundo dos símbolos que viravam sons, palavras, frases.
Ao voltar para a fazenda foi uma surpresa geral. Muitos ficavam admirados como era que aquele menino tão pequeno podia ler de forma fluente. Para mim, foi de uma alegria e felicidade sem tamanho descobrir o mundo encantado dos livros. De História Geral, das aventuras de Róbson Crusoé, até a então expectativa de modernidade presente nas Seleções do Readers Digest, onde eu lia as inacreditáveis noticias das viagens à lua. Chegava a imaginar que em breve colonizaríamos toda a via - láctea.
A vida seguiu. Um dia mudamos da Fazenda Nova América para a cidade e a Escola Rural Santa Genoveva passou a ser apenas uma das muitas lembranças que carrego na vida.
Agradeço muito aos dedicados professores que tive. Alguns se tornaram inesquecíveis, como a Professora e poetisa Dona Zizi, do Lyceu de Goiânia, que apesar do tempo de magistério, ministrava suas aulas de português com esmero e carinho.
Interessante é o fato que sempre estive perto de professores. Meu pai, professor na roça, e um dia minhas irmãs também foram exercer o magistério. Quis a vida que minha amada se tornasse Professora, assim como minha primeira filha.
Aos professores, das escolas e da vida, o meu carinho e um imenso muito obrigado. Pela dedicação que têm, não importando se ganham bem ou mal, se estão com saúde ou não. Como aquele professor – meu pai – que na longínqua Fazenda Nova América, em uma sala de uma humilde casa de taipa, recheada de bancos toscos de madeira, e em dias alternados da semana se dava a ensinar as primeiras letras, contas, verbos, advérbios às pessoas humildes do lugar. E ainda tinha a labuta da roça.
Que o Pai do Céu ilumine sempre nossos Professores. Parabéns: Feliz dia do Professor!
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